A América do Norte foi a grande aposta da TAP em 2016. É uma aposta que vai ser reforçada?
Desde 2016 que temos três novos destinos para os Estados Unidos. Voamos agora para JFK, que é um mercado diferente de Newark, para onde já voávamos. JFK é mais competitivo e os passageiros são principalmente americanos, enquanto para Newark são da comunidade portuguesa. E temos também Boston, que é um destino bastante competitivo. E este ano abrimos Toronto, uma rota que está a ser um sucesso. Temos também Miami. Portanto no total temos três nos Estados Unidos e um no Canadá.
É nossa intenção ampliar esta operação nos próximos anos. Não posso dizer o timing exacto, mas já é público que há intenções, até porque um dos acionistas, o David Neeleman, já o referiu, de reforçar a operação nos EUA com destinos como Chicago, São Francisco ou Washington D.C. Gostávamos que fosse já no próximo ano, mas não podemos garantir que tal possa vir a acontecer, devido às contingências que já referi.
Os três principais mercados para a TAP, em termos de receitas, são os seguintes. O Brasil, que recuperou do ciclo em baixa de 2014-2015, e a TAP é claramente a companhia dominante no transporte do Brasil para a Europa. Para dar uma ideia, a TAP tem mais voos para o Brasil, numa base semanal, do que a Air France e a KLM juntas. O segundo mercado é Portugal, também a crescer bem, e os Estados Unidos já são o terceiro mercado.
Portanto foi uma aposta muito boa e nós precisávamos de penetrar mais no mercado norte-americano. Com o Stopover, programa que tem tido sucesso e que permite uma estadia até cinco noites em Portugal, por exemplo, os passageiros que mais têm usado este programa são brasileiros e norte-americanos.
Sim, houve uma aposta e esta insere-se na estratégia, que tem três vetores. Primeiro, o crescimento da operação da TAP em termos de novas aeronaves, de passageiros e novas rotas próprias. Segundo, o estabelecimento de parcerias com companhias determinantes em mercados considerados essenciais. É o caso nos Estados Unidos da Jet Blue, que nos permite uma ramificação enorme no território norte-americano e depois a parceria no Brasil com a Azul, a companhia com maior número de voos internos no Brasil. Isto tudo a par das nossas parcerias na Star Alliance. Isto tem permitido à TAP progressos no número de passageiros e nas receitas. No dois mercados combinados, EUA e Brasil, só este ano são mais de 100 milhões de euros de receitas.
O terceiro vetor tem a ver com a estrutura acionista da TAP e com a entrada do parceiro chinês, a HNA, e a abertura da rota direta entre Pequim e Lisboa. A operação da TAP que se centra na Europa, África, América do Sul e Norte era muito virada para o Ocidente, é agora complementada por esta rota que nós esperamos seja a primeira de várias a ligar Portugal ao Oriente. Tem três voos semanais, mas existem perspetivas de que a frequência possa aumentar. O ponto é que há uma rota em code share em que é permitido aos passageiros que embarcam em Pequim poderem prosseguir a partir de Lisboa para outros destinos na frota TAP e para passageiros TAP a possibilidade de irem para o Oriente nesta rota. Faz todo o sentido. A forma mais rápida de chegar de Pequim a São Paulo é fazendo escala em Lisboa.
Em relação aos aeroportos nacionais, Lisboa é o principal hub no país e a TAP tem sido favorável à solução ‘Portela +1’. O que acontece se essa solução não passar na avaliação ambiental?
Qualquer decisão que seja tomada tem sempre um risco. Não tenho qualquer indicação sobre o que é que a avaliação de impacto ambiental poderá ter, mas há um grande empenho de todas as entidades para que a solução possa ver a luz do dia o mais rapidamente possível e sabe-se que nunca poderá ser antes de 2021. Quais as entidades envolvidas? A ANA, o Governo, a Câmara Municipal de Lisboa, a NAV, a própria Força Aérea e a TAP, que é a maior utilizadora do aeroporto de Lisboa e está muito interessada em consolidar a posição. No aeroporto Humberto Delgado temos 38 movimentos por hora, sabemos que com o funcionamento do módulo do Montijo poderá subir para 72. Temos de continuar a crescer até lá. Não vai ser tão acentuado como nos últimos anos, devido a estas condicionantes. Sabemos que o aeroporto está a entrar numa fase de saturação e temos uma estratégia para crescer a partir de outros aeroportos, como o Porto e Faro.
Para que o crescimento a partir de Lisboa possa continuar, é preciso que haja uma harmonia entre todos os players e ela existe. Pode até existir um aumento do movimento dos atuais 38 por hora para 44, e se o período no qual os aviões não podem operar à noite for reduzido de seis horas para quatro horas, permitirá um crescimento sustentado nos próximos anos.
Como militante do PSD já disse que vai votar nas diretas, mas não em quem. Elogiou a coragem de Pedro Santana Lopes de enfrentar este desafio que não é fácil. O que é que torna este desafio tão grande nesta altura? E dado os recuos de alguns potenciais candidatos, alguns observadores dizem que a próxima liderança do PSD poderá ser uma de transição…
Não vou fazer futurologia. O futuro se verá e em termos político sabemos que a volatilidade é enorme.
Eu referi que reconheço coragem e posso dizer que tenho simpatia pelo Pedro Santana Lopes, nada me move contra o Rui Rio, também tenho muito boa impressão, mas conheço melhor o Santana Lopes, com quem já tive o privilégio de trabalhar no passado.
Ele já foi primeiro-ministro, presidente da Câmara de Lisboa, presidente da Santa Casa, eurodeputado e ainda encontra energia para ser candidato à liderança do PSD, portanto é neste sentido que refiro a coragem.
Qualquer que seja o vencedor, vai ter um desafio pela frente…
Sim, sabe-se que a atual situação governativa do país é uma experiência que nunca havia sido tentada, um Governo minoritário mas com um apoio parlamentar inédito. Até agora as coisas na vertente económica e na orçamental têm estado a correr bem. Portugal tem enviado sinais positivos para o exterior, nomeadamente sobre a redução do défice, que já vem desde o Governo anterior, e que em 2016 e 2017 vai resultar nos défices mais baixos de sempre. E foram estes sinais positivos que, por exemplo, levaram a Standard & Poor’s a subir a notação para investment grade e estou convencido que a Fitch e a Moody’s seguirão esse passo. Será óptimo para a nossa atratividade e chamará mais investidores para o país.
Agora, claro que nem todos os sinais são positivos. Ao nível da carga fiscal, eu, como defensor do choque fiscal há muitos anos, não me agradaria que a tributação sobre as empresas, mesmo que seja sobre as maiores empresas, fosse agravada. Veremos o que acontecerá no debate do Orçamento do Estado, se há propostas nesse sentido. Eu acharia melhor que não acontecesse. Nós temos um tecido empresarial principalmente composto por PMEs e queremos que elas cresçam, que se tornem em empresas mais robustas, mais fortes, com resultados progressivamente maiores. Mas se elas vêem que os seus resultados poderão ter uma tributação agravada, não estamos a passar uma mensagem positiva.
Repito, em geral, os sinais que têm vindo a ser transmitidos por Portugal desde o início do resgate em 2011 têm sido positivos para comunidade internacional e para os investidores.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com