Não importa se quem lê estas linhas é um jovem empresário ou um gestor maduro. Interessa apenas que seja alguém disposto a ouvir alguns contributos para a vida, partilhados por quem já muito viveu. O que a seguir se lista é um conjunto de sugestões, que poderá ou não seguir. Mas que me arrisco a dizer será ajuizado fazê-lo, se efetivamente pretende continuar a dar cartas no mercado por mais alguns anos. São sugestões todas elas necessárias, mas nenhuma por si só suficiente.
Nunca faça sociedades com familiares ou amigos. Mas mesmo nunca. E se o fizer, trate-os apenas como sócios; com regras claras de entrada, condução e saída dos negócios e nunca por nunca se desvie delas. Pode ter ido para os copos com o tio João, a casa da irmã Luísa ou passado o Natal com a filha Augusta. Mas, no momento em que entrarem na mesma empresa, serão sócios e nada mais.
Não tem de ser hostil, nem amargo. Simplesmente, têm de trabalhar em conjunto, com regras objetivas, claras e pragmáticas de negócio, com vista à valorização da empresa. Se em nome da firma já tem os telemóveis das crianças ou um carro da nora, se já paga as férias a toda a gente e ainda empresta o cartão de crédito aos filhos para umas brincadeiras, pare. Está a dar tiros nos pés, a endereçar péssimos sinais aos beneficiários e a desvalorizar a sua empresa.
Fuja a sete pés dos 50%. É uma prática corrente acordar em dividir o capital em 50% para cada um e já está. O objetivo é o de tranquilizar a consciência assegurando partes iguais para um e para o outro. Mas, se o fizer, irá arrepender-se porque bloqueará em definitivo a empresa. E porque dará um tiro no princípio básico da Gestão: o princípio da unidade de comando.
Numa empresa, alguém tem de tomar decisões. A estrutura de governance pode ser de múltiplas formas. Mas, lá no fundo, alguém terá que definir o caminho a seguir. Se divide o capital (50%-50%) está a criar uma situação potencial de impasse, que um dia acabará com a sua empresa. Ou consigo. Acredite.
Crie procedimentos simples, práticos e objetivos, designadamente quanto a certas áreas críticas: área financeira, área comercial e área de produção (se houver). Não há razão para que não faça uma gestão com o mesmo nível de exigência de uma empresa cotada.
Contas em dia, procedimentos contabilísticos levados a sério, adequada valorização dos ativos, controlo de custos, mapas de reporting, reuniões mensais para análise de custos, proveitos e resultados, atas de reuniões escritas como instrumento de trabalho, encerramento das contas com antecedência para perspetivar contingências e/ou poupanças fiscais, análise dos proveitos, risco de cliente, mapas de tesouraria, reportings para os bancos e seguradoras e análise da performance dos recursos humanos. E estes são apenas alguns exemplos de práticas que deveriam ser adotadas.
A estrutura de capitais de uma empresa deve refletir o que ela tem e vale. O recurso a reservas de reavaliação para inflamação de ativos e capital próprio deve ter as suas limitações. Mais: esse truque é conhecido, principalmente quando se trata de valorizar resíduos, transformando-os em subprodutos. Com isso incha o ativo e cria um balão de oxigénio nos capitais próprios, para ocultar perdas no negócio. Está a tapar o sol com a peneira, quando se deveria focar no essencial: está a perder dinheiro, ou não o tem para investir. Nesse caso, se é esse o problema, foque-se nele e resolva-o (sem camuflar a realidade).
Mesmo que tenha uma empresa familiar, um dia ela vai acabar. Com toda a certeza. A probabilidade de durar 150 anos é quase nula. Mas quanto tempo ao certo irá durar, isso depende das decisões que tomar hoje. Será que a sua empresa está suficientemente sexy, enxuta, fresca, saudável e em forma para continuar a lutar pelo seu espaço no mercado? Ou, pelo contrário, está uma velha senhora magoada, pesada, lenta e bafienta?
Mesmo as primeiras, um dia, ficam cansadas e esmorecem. Por isso, nunca perca de vista a imperiosa necessidade de levar, de vez em quando, a sua empresa a um spa. Precisa de emagrecer, criar músculo, melhorar o cárdio, tomar umas vitaminas para o cérebro e começar a sorrir.
Não há nada pior do que empresários inseguros, inexperientes e indecisos debaixo de uma capa de uma grande autoridade, inflexibilidade e eterna sabedoria. Aquele que sabe tudo, que já viu tudo, com o qual as coisas só funcionam se for à sua maneira, que não partilha, que não delega, que é o patrão (e não o líder), que é sempre o primeiro a chegar e (como mártir) o último a sair é o pior exemplo. E são tantos…
Por isso, baixe as defesas, assuma que não sabe tudo. Aliás, assuma que, provavelmente, apenas sabe de uma parte e contrate o melhor que houver no mercado para liderar as outras áreas. Se insistir em pagar uma miséria, vai obter uma miséria. E, com isso, está a desvalorizar a sua empresa e o seu património. Se insistir em ser pau para toda a obra, assuma que tem um “biscate” para levar umas poucas massas para casa. Ter uma empresa é algo muito diferente.
Estas são, em suma, algumas sugestões que, levadas em consideração podem aumentar a probabilidade de vir a ter uma empresa saudável e rentável. De incrementar o seu valor. Se se esquecer de alguma, a probabilidade de vir a ter problemas sérios é enorme. Agora imagine que se esquece de todas. Vá em frente!
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