O debate europeu sobre imigração continua a ser uma das maiores dores de cabeça da União Europeia, não só por causa das suas consequências, como também devido ao facto de, já todos perceberam, ser impossível chegar a um consenso, por pequeno que seja.
Os países do Visegrad – ou V4, Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia, que em 1991 criaram uma aliança para a cooperação – continuam a liderar a posição mais cética em relação a qualquer plano que envolva a distribuição dos encargos derivados da imigração.
Mas uma nova frente com interesses comuns ganha força no sul. Cinco países na fronteira do sul da Europa – Espanha, Itália, Grécia, Malta e Chipre – estabeleceram uma posição comum contra a reforma promovida pela presidência búlgara da União Europeia – que tem um problema para resolver nos Balcãs.
De acordo com o plano búlgaro, gizado com base numa proposta da Comissão Europeia, os países beneficiários, que incluem principalmente os Estados do sul, devem ser responsáveis pelos requerentes de asilo por 10 anos em vez dos atuais seis meses. Um período que os cinco países consideram excessivo e exigem uma redução para um máximo de dois anos.
O documento acordado pelos cinco países do sul – segundo adianta o jornal espanhol “El Pais” – contém 13 exigências de natureza técnica que pretendem evidenciar no debate sobre o tema, que terá o seu auge na próxima cúpula europeia no final de junho, em Bruxelas.
O pedido de maior solidariedade aos seus aliados comunitários é a mensagem recorrente dos grandes destinos dos refugiados. E tem precedentes. Em janeiro passado, durante a cúpula dos países do sul realizada em Roma, os cinco Estados que subscreveram o documento já haviam reivindicado, juntamente com Portugal e a França, que os parceiros comunitários deviam partilham o ónus da imigração irregular.
O resultado das eleições italianas em março, em que uma força xenófoba como a Lega conheceu um aumento significativo do apoio depois de fazer campanha contra a imigração e pela expulsão dos ilegais, aumentou a pressão. O facto de a Itália ter recebido centenas de milhares de desembarques ao longo de dois anos sem obter da Europa o apoio que Roma desejaria, apesar de seus pedidos, foi fundamental para explicar a deriva populista.
A margem também não é ampla na Alemanha de Angela Merkel: a AfD alcançou o melhor resultado para a extrema-direita desde a II Guerra Mundial, explorando a política de ajuda aos refugiados da chanceler – que acabou, antes de sofrer piores danos, por voltar atrás no plano de absorção dos refugiados. Plano esse, recorde-se, que quase acabou com a histórica aliança entre a CDU de Merkel e a CSU, o partido irmão da Baviera, uma das mais duras forças políticas da Europa contra a imigração.
Entretanto, Comissão Europeia parece ter como única resposta usar dinheiro como incentivo e continua a estudar o orçamento para fornecer mais fundos às regiões que abrigaram um maior número de requerentes de asilo. O tema não deixará de estar presente na reunião de Bruxelas e o mais provável, segundo os observadores, é que a Comissão tenha que acabar por aceitar – por muito que tente disfarçar – que falhou em toda a linha no que respeita à imigração. Não só com os imigrantes propriamente ditos, como também na política interna, com o aumento inesperado das posições do spartidos de extrema-direita anti-imigração.
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