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Países do sul unem-se contra o plano europeu de imigração

Itália, Espanha, Chipre, Grécia e Malta acreditam que os esforços devem ser mais bem distribuídos. A Comissão está assim sob dois fogos: do sul e do leste – onde Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia fazem o bloqueio.
Alkis Konstantinidis/Reuters
29 Abril 2018, 20h00

O debate europeu sobre imigração continua a ser uma das maiores dores de cabeça da União Europeia, não só por causa das suas consequências, como também devido ao facto de, já todos perceberam, ser impossível chegar a um consenso, por pequeno que seja.

Os países do Visegrad – ou V4, Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia, que em 1991 criaram uma aliança para a cooperação – continuam a liderar a posição mais cética em relação a qualquer plano que envolva a distribuição dos encargos derivados da imigração.

Mas uma nova frente com interesses comuns ganha força no sul. Cinco países na fronteira do sul da Europa – Espanha, Itália, Grécia, Malta e Chipre – estabeleceram uma posição comum contra a reforma promovida pela presidência búlgara da União Europeia – que tem um problema para resolver nos Balcãs.

De acordo com o plano búlgaro, gizado com base numa proposta da Comissão Europeia, os países beneficiários, que incluem principalmente os Estados do sul, devem ser responsáveis ​​pelos requerentes de asilo por 10 anos em vez dos atuais seis meses. Um período que os cinco países consideram excessivo e exigem uma redução para um máximo de dois anos.

O documento acordado pelos cinco países do sul – segundo adianta o jornal espanhol “El Pais” – contém 13 exigências de natureza técnica que pretendem evidenciar no debate sobre o tema, que terá o seu auge na próxima cúpula europeia no final de junho, em Bruxelas.

O pedido de maior solidariedade aos seus aliados comunitários é a mensagem recorrente dos grandes destinos dos refugiados. E tem precedentes. Em janeiro passado, durante a cúpula dos países do sul realizada em Roma, os cinco Estados que subscreveram o documento já haviam reivindicado, juntamente com Portugal e a França, que os parceiros comunitários deviam partilham o ónus da imigração irregular.

O resultado das eleições italianas em março, em que uma força xenófoba como a Lega conheceu um aumento significativo do apoio depois de fazer campanha contra a imigração e pela expulsão dos ilegais, aumentou a pressão. O facto de a Itália ter recebido centenas de milhares de desembarques ao longo de dois anos sem obter da Europa o apoio que Roma desejaria, apesar de seus pedidos, foi fundamental para explicar a deriva populista.

A margem também não é ampla na Alemanha de Angela Merkel: a AfD alcançou o melhor resultado para a extrema-direita desde a II Guerra Mundial, explorando a política de ajuda aos refugiados da chanceler – que acabou, antes de sofrer piores danos, por voltar atrás no plano de absorção dos refugiados. Plano esse, recorde-se, que quase acabou com a histórica aliança entre a CDU de Merkel e a CSU, o partido irmão da Baviera, uma das mais duras forças políticas da Europa contra a imigração.

Entretanto, Comissão Europeia parece ter como única resposta usar dinheiro como incentivo e continua a estudar o orçamento para fornecer mais fundos às regiões que abrigaram um maior número de requerentes de asilo. O tema não deixará de estar presente na reunião de Bruxelas e o mais provável, segundo os observadores, é que a Comissão tenha que acabar por aceitar – por muito que tente disfarçar – que falhou em toda a linha no que respeita à imigração. Não só com os imigrantes propriamente ditos, como também na política interna, com o aumento inesperado das posições do spartidos de extrema-direita anti-imigração.

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