Quando a empresa onde trabalhava entrou em colapso, o engenheiro Civil, Paulo Delgado, regressou de Marrocos e preparou-se para alicerçar a vida fora do setor da construção, onde fizera carreira internacional. Para este executivo de topo, de 47 anos de idade, agora desempregado, ficou claro que o caminho passava por encontrar numa formação “vasta, global e integrada”, uma “súmula de conhecimentos”, que lhe permitisse “dar o salto”.
Na Porto Business School, na edição de 2012-2013, fez o MBA Executivo e teve a certeza de que o seu futuro passava por um dos setores onde nos últimos anos o país mais se destacara em matéria de inovação: O calçado. Na cadeira de Empreendedorismo do programa fez um trabalho com base nesta sua ideia. Seguiu-se a viagem de uma semana à capital do estado norte-americano do Texas, Austin, ex-libris da experiência internacional dada pelo programa, de onde já não acompanhou os colegas de curso que, entretanto, regressaram a Portugal.
Com os pés em terra, no único país que lhe permitia, pelo menos, para já, concretizar o sonho americano, estudou possíveis localizações. Escolheu Nova Iorque, cidade cara e cosmopolita e, num primeiro passo, que aparentemente, lhe permitia minimizar o risco, trabalhou como comissionista para algumas marcas portuguesas de calçado. Na tentativa de as lançar no mercado norte-americano, participou em feiras, ele próprio organizou uma em Nova Iorque, mas os resultados não se viram. “O mercado é muito competitivo, exigente e volátil”, explica ao Jornal Económico.
O conhecimento prático adquirido durante aquele ano nos Estados Unidos, junto ao capital de conhecimento que obtivera no MBA levaram-no a focar-se numa “solução à medida”: Criar uma marca de sapatos para homem para competir naquele exigente mercado, a que deu o seu próprio nome. “Fazemos sapatos à exata medida do pé”, vinca.
O processo é rigoroso, minucioso e caro. Inicia-se com uma série de consultas para se conhecerem as necessidades e desejos e para se obterem as medições. O cliente poderá escolher todos os detalhes para o sapato, incluindo o tipo de couro, o design, o tipo de biqueira, a altura, o material do salto e até o próprio monograma.
A matéria prima é o couro. Couro curtido na Alemanha, através de um processo puramente natural, ao qual são aplicadas técnicas de fabrico de elevada minúcia. Numa oficina artesanal centenária, localizada em Oliveira de Azeméis, distrito de Aveiro, cada par consome uma média de 45 horas de trabalho. O preço depende do que está no sapato. O normal está na casa dos mil dólares, mas alguns atingem os 2.500 e os 3.000 dólares.
Muito mais do que uma questão estética, o que fazemos, é ir ao encontro das exigências do cliente”, vinca Paulo Delgado. Mais do que o valor do sapato, trata-se para quem o compra – homens de estrato sócio-económico elevado -, de uma questão emocional.
“Há um mundo não falado nos sapatos… o que o cliente valoriza, no fundo, às vezes mais do que um bom sapato é que que ele responda à sua necessidade”, sublinha. A necessidade de sentir que tem um pé mais comprido do que na realidade tem ou fazê-lo aumentar uns centímetros em altura sem que isso se note.
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