O passado domingo foi descrito como o pior dia do ano relativamente ao elevado número de ocorrências de incêndios florestais. Ao todo, Portugal chegou a ter 523 fogos, tendo morrido 38 pessoas e 60 feridos, até ao momento. O Diário de Notícias recolheu opiniões de vários especialistas em clima e fogos, assim como da Liga dos Bombeiros, e ambos são contra a decisão da Proteção Civil – que reduziu os meios para metade, com o fim fase Charlie (fase mais crítica dos incêndios, que é de 1 de julho até 30 de setembro).
O cenário poderia ter sido diferente, defende Filipe Duarte Santos, um dos maiores especialistas do país em alterações climáticas: “Se as condições meteorológicas se mantêm e se reduzem os meios é convidar o desastre”. “Do dia 30 de setembro para o dia 1 de outubro as condições meteorológicas não se alteraram. No entanto, os meios de combate aos incêndios caíram para metade porque acabou a fase Charlie. Temos de começar a ser mais flexíveis!”, disse ao DN Filipe Duarte Santos.
“Ou seja, continuámos com seca em outubro e com temperaturas elevadas. Não se vê bem qual foi a razão então para acabar com a fase Charlie, foi apenas a de cumprir calendário administrativo. Muda-se de mês e diz-se aos operacionais que já podem ir para casa e assim vamos gastar menos dinheiro”, conclui o especialista.
“Portugal já está a sentir a mudança climática. Temos de adaptar-nos e tê-la em consideração. O clima dos próximos 10 a 30 anos tem tendência a ser cada vez mais quente e seco, com menos chuva. As secas serão mais frequentes e intensas. Este novo clima é muito próximo do do Norte de África, de cidades marroquinas como Rabat ou Marraqueche e está a migrar para o sul da Europa”, refere.
Depois de vários os meses, as críticas continuam. Jaime Marta Soares, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, volta a estar contra a estratégia da Autoridade Nacional de Proteção Civil.
“Sabia-se que se iam manter as altas temperaturas, a humidade e os ventos atípicos, e que o combustível estaria mais inflamado. Mandava o bom senso e o sentido de responsabilidade que o dispositivo de combate ficasse muito próximo do que estava na fase Charlie. Mas não foi isso que a Proteção Civil fez”, acrescentando que “o corte foi brutal”.
“Houve uma diminuição de 80% dos meios: passaram de 48 aviões para 18, retiraram 4000 operacionais do terreno; retiraram quase 800 viaturas. Argumentaram falsamente que na fase Delta, em que estamos agora, aumentaram 50 equipas de reforço que não estavam previstas. Mas não foram capazes de responder às solicitações dos CODIS que pediam 250. Fecharam os 266 postos de vigia e depois, a posteriori, vieram abrir 70 e tal”.
Jaime Marta Soares notou ainda que “este dispositivo está preparado para 250 fogos por dia e não para 500 como houve no domingo”.
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