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Putin admite que hackers “patrióticos” poderão ter interferido na eleição de Trump

Até esta quinta-feira, a Rússia, e o seu presidente, sempre negaram qualquer tipo de envolvimento russo nas eleições de 2016 nos EUA. Agora, diz o New York Times, o discurso de Putin mudou e é admitido o envolvimento de hackers russos, mas que terão agido “por iniciativa própria” por serem “patrióticos”.
Maxim Shemetov/Reuters
1 Junho 2017, 16h53

O presidente russo, Vladimir Putin, admitiu esta quinta-feira a possível interferência de hackers russos nas eleições dos EUA que levaram Donald Trump à Casa Branca, adianta o New York Times. Ainda que Putin continue a negar qualquer tipo de envolvimento do Estado russo, as suas declarações aos jornalistas, em São Petersburgo, são uma clara mudança face ao que havia sido a posição do Kremiln até aqui: a negação absoluta de qualquer envolvimento russo nas eleições de 2016 nos EUA.

Putin levantou, assim, a possibilidade de terem sido levados a cabo ciberataques aos EUA, mas por hackers que o próprio apelidou de “espíritos livres e patrióticos”, dizendo que os hackers são “como artistas”, que escolhem os seus alvos dependendo de como se sentem “quando acordam de manhã”. “Se são patriotas, começam a contribuir para a luta contra os que dizem mal da Rússia com ações que, do seu ponto de vista, acham corretas”, terá acrescentado Putin.

Estas novas declarações de Putin ecoam as que Trump já havia emitido, ao considerar que a pessoa responsável pelo ataque ao Comité Nacional Democrata “poderia bem ser uma pessoa com 200 kg sentada na sua cama”. Curiosamente, esta evolução do discurso de Putin é similar à de Trump durante a anexação da Crimeia, em 2014. O agora presidente dos EUA começou por negar categoricamente o envolvimento de tropas russas neste conflito para mais tarde reconhecer que o exército russo esteve, “obviamente”, envolvido.

Apesar das alegações da existência de hackers patriotas, Putin mantém-se inalterável na negação às acusações de envolvimento do Governo russo nas eleições de 2016 feitas pelos serviços de informação dos EUA, que em janeiro chegaram à conclusão de que Putin havia estado diretamente envolvido na direção de uma “campanha de influência” que envolvia ciberataques e desinformação, com o intuito de favorecer Trump nas eleições de novembro passado: “Isto não foi feito a nível estatal”, disse.

Ao mesmo tempo – talvez com o intuito de se precaver face a algum elemento de prova que possa surgir – Putin avançou com a sua própria teoria, afirmando que a tecnologia pode ser manipulada para criar um rasto que ligue a Rússia às eleições de 2016. “Acredito que isto possa estar a ser feito deliberadamente – criar uma cadeia de ataques que faça parecer que o território da Federação Russa é a origem dos ataques. As novas tecnologias permitem que este tipo de coisa seja feita. É até bastante fácil de fazer.”

Já no início desta semana, em entrevista ao jornal francês Le Figaro, Putin havia adiantado uma teoria semelhante: “Acho que ele estava certo quando disse que podia ter sido alguém sentado na sua cama ou alguém a usar intencionalmente uma flash drive com o nome de um cidadão russo”, disse Putin referindo-se às alegações de Trump. “Tudo é possível neste mundo virtual. A Rússia nunca se envolve com atividades deste tipo, não precisamos. Não faz sentido nenhum que tenhamos feito aquilo de que nos acusam. Para quê?”, afirmou Putin ao jornal francês.

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