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Raio-X às empresas portuguesas: qualidade da gestão “pesa” no desempenho económico

Neste inquérito do INE, cerca de 85% tinham mais de 5 anos de idade em 2016, cerca de 46% pertenciam a um grupo económico e 76,6% eram micro, pequenas e médias empresas. Os setores da Indústria, Comércio e Transportes concentraram cerca de 67% das respostas.
22 Novembro 2017, 12h13

O Instituto Nacional de Estatística (INE) acaba de revelar os resultados do Inquérito às Práticas de Gestão, referente a 2016, um trabalho inédito junto de uma amostra de empresas, constituídas sob a forma jurídica de sociedade, que permitiram obter perto de quatro mil respostas válidas para apurar informação sobre práticas e características de gestão.

De entre os principais resultados destacam-se aspetos como em 61,0% das sociedades os gestores de topo possuíam grau de licenciatura ou superior. Esta percentagem atingia 82,9% nas grandes empresas e 43,7% nas micro empresas; em cerca de 70% das sociedades, o gestor de topo exercia a função em exclusividade (60,6% nas micro empresas e 78,4% nas grandes empresas); menos de metade (44,9%) das sociedades referiu ter atribuído prémios de desempenho às pessoas ao serviço pelo cumprimento dos objetivos definidos para a empresa; e em 51% das sociedades não houve lugar a qualquer promoção de pessoal ao serviço com funções de gestão. Essa percentagem diminuiu para 44,3% no caso do pessoal ao serviço sem funções de gestão.

Evidencia-se ainda o facto de quase a totalidade das sociedades não referir possuir objetivos para o seu desempenho, em geral por elas considerados moderadamente ambiciosos, e cerca de 43% declarou que possuía e monitorizava indicadores de desempenho com uma frequência mensal ou trimestral.

Menos de metade (44,9%) das sociedades referiu ter atribuído prémios de desempenho às pessoas ao serviço pelo cumprimento dos objetivos definidos para a empresa.

Segundo o INE, combinando a informação deste inquérito com informação que lhe é reportada noutras operações estatísticas, os resultados apurados indiciam a existência de uma relação significativa entre a qualidade da gestão e o desempenho económico das empresas.

Como são as empresas portuguesas de hoje?

Do total de sociedades respondentes a este inquérito, cerca de 85% tinham mais de 5 anos de idade em 2016, cerca de 46% pertenciam a um grupo económico e 76,6% eram micro, pequenas e médias empresas. Os setores da Indústria, Comércio e Transportes concentraram cerca de 67% das respostas.

Em 2016, as decisões relacionadas com a gestão foram tomadas maioritariamente apenas na empresa inquirida, à exceção das decisões relacionadas com “Novos mercados de atuação da empresa”, referidas por 46,6% das sociedades. Cerca de 35% do total das sociedades referiram não ter tomado decisões relativamente a “Novos mercados de atuação da empresa”.

A maioria das sociedades (56,5%) era detida em 50% ou mais pelos seus fundadores ou por membros das suas famílias.

Entre as mais jovens, a percentagem das detidas por fundadores ou familiares de fundadores aumentava para 64,5%, enquanto nas sociedades com mais idade a percentagem diminuía para 54,9%. Quanto maior a idade e a dimensão da empresa menor a percentagem de empresas detidas pelos fundadores ou pelas suas famílias.

Em 70% das empresas não pertencentes a um grupo observou-se o controlo por parte dos fundadores, face a apenas 40,9% nas empresas integradas num grupo.

Para mais de 62% das sociedades o calendário dos objetivos estabelecidos para o principal bem e/ou serviço produzido resultou de uma combinação de curto e longo prazo, mais evidente à medida que aumenta a idade da empresa (57,1% nas jovens e 64,7% nas seniores).

Os objetivos essencialmente de curto prazo foram mais expressivos nas empresas não pertencentes a um grupo (26,1%) do que nas pertencentes a um grupo (15,7%). Cerca de 71% das empresas pertencentes a um grupo combinavam objetivos de curto e longo prazo. Esta opção aumenta com o aumento da dimensão da empresa (52,8% nas micro face a 73,3% nas grandes), enquanto os objetivos essencialmente de curto prazo foram mais expressivos nas empresas de menor dimensão (27,7% nas micro face a 14,6% nas grandes).

Cerca de 61% das sociedades avaliaram os objetivos estabelecidos para 2016 como moderadamente ambiciosos. Esta perceção era maior nas empresas com menos idade (61,4% nas jovens e 59,8% nas seniores). A perceção de objetivos muito ambiciosos foi superior nas empresas com mais idade (32,4% nas seniores face a 30,3% nas jovens).

Mais de metade das sociedades (51,2%) respondeu que monitorizava até 10 indicadores chave de desempenho em 2016. A proporção de empresas que monitorizavam entre 1 a 5 indicadores foi superior entre as empresas jovens (33,2% face a 23,7% nas seniores), entre as empresas não pertencentes a um grupo (33,2% face a 20,5% nas pertencentes) e entre as micro empresas (38,5% face a 15,1% nas grandes). A situação tem tendência a inverter-se à medida que aumenta o número de indicadores monitorizados. A percentagem de empresas que monitorizaram mais de 20 indicadores foi superior nas empresas seniores (17,4% face a 7,8% nas jovens), nas empresas pertencentes a um grupo (24,2% face a 6,3% nas não pertencentes) e nas grandes empresas (32,2% face a 3,4% nas micro empresas). A proporção de empresas que monitorizava até 5 indicadores concentrou-se essencialmente no setor da Agricultura (40,8%), enquanto acima de 20 indicadores se concentrava essencialmente no setor da Energia (27,1%).

Mais de 23% das sociedades referiram que as pessoas ao serviço sem funções de gestão nunca avaliaram os indicadores chave de desempenho da empresa, em 2016. Esta percentagem decresce à medida que aumenta o grau de responsabilidade dos trabalhadores na empresa. A avaliação dos indicadores numa base mensal foi a que registou maior número de respostas por parte das empresas. O pessoal ao serviço com funções de gestão de topo privilegiava a avaliação mensal, tendo sido também os que apresentaram maior percentagem na avaliação trimestral e semestral dos indicadores chave de desempenho.

Como são os líderes empresariais?

No ano passado, em 61,0% das sociedades os gestores de topo tinham grau académico de licenciatura ou superior. Este valor sobe para os 80,8% no caso de empresas pertencentes a grupos, 82,9% no caso das grandes empresas e 81,4% nas empresas do setor energético.

Em sentido oposto, nas empresas que não pertenciam a grupos, 56,1% dos gestores de topo não possuíam esta habilitação, bem como em 56,3% das micro empresas e 50,2% no caso das empresas do setor da Construção e imobiliárias.

Em 2016, em 69,8% das sociedades, o gestor de topo exercia a função em exclusividade. Esta percentagem tendeu a aumentar à medida que a idade da empresa era superior (72,6% nas seniores e 64,9% nas jovens) e à medida que a dimensão da empresa era superior (78,4% nas grandes e 60,6% nas micro).

As empresas do setor da Agricultura foram as que apresentaram a menor percentagem de gestores de topo a exercer a sua função em exclusividade (55,2%). Cerca de 69% das sociedades em que o gestor de topo não exercia a sua função em exclusividade, referiram que o tempo de trabalho afeto às suas funções como gestor de topo foi superior a 40% em 2016, sendo que para 27,9% das sociedades foi superior a 80%.

Segundo as sociedades respondentes, as três características que melhor descreviam o gestor de topo eram “Tomar decisões” (23,6% das respostas), “Assumir as responsabilidades” (21,5%) e “Ser atuante” (16,4%). Contrariamente, as características menos referidas foram “Oferecer feedback” (2,4%), “Reconhecer e respeitar os limites entre chefia e subordinado” (4,9%) e “Pedir ajuda se necessário” (5,0%).

A questão relativa ao estilo de liderança foi baseada na teoria desenvolvida por Tannenbaum e Schmidt, em que cada tipo de comportamento está relacionado com o grau de autoridade utilizado pelo gestor de topo e o grau de liberdade disponível para a equipa na tomada de decisões, sendo que as diferentes variações de práticas de liderança se posicionam entre um estilo autocrático e um democrático.

As respostas recolhidas revelaram que, em 2016, o estilo de liderança mais referido pelas sociedades como sendo o que prevalecia na empresa foi aquele em que o gestor de topo apresentava o problema, recolhia sugestões e tomava decisões (35,6% das respostas), ou seja, uma liderança mais centrada na equipa.

 

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