Em entrevista ao Jornal Económico, Eduardo Consiglieri Pedroso identifica como primeiro risco a concorrência exacerbada e a concentração na saúde.
Como tem evoluído o mercado de seguros de saúde?
O mercado dos seguros de saúde tem evoluído bastante bem. Tem sido um dos ramos ou linhas de negócio que nos últimos anos tem tido sempre uma taxa de crescimento positiva. No que diz respeito à Médis, em particular, temos acompanhado esse crescimento. Nos últimos anos estamos a crescer praticamente o dobro do crescimento do mercado, o que não deve acontecer este ano, devido à PT ACS. Ainda assim, estamos com uma taxa de crescimento de cerca de 10%, descontando uma linha de negócio que estava na Ageas em carteira de reembolso.
E qual é a perspetiva de evolução?
A perspetiva é que o mercado continue a crescer, até porque o ramo saúde tem vindo a crescer – há alguns anos atrás, o ramo saúde era menor do que o ramo acidentes de trabalho, mas hoje em dia já é maior. E acho que vai continuar a crescer, porque as pessoas sentem a necessidade e o papel social que o seguro de saúde desempenha no atual panorama da saúde em Portugal.
Quais são os principais riscos para a atividade? O que o preocupa?
Preocupa-me a concorrência. Assistimos, ao nível do ramo de acidentes de trabalho, [a uma situação em que] a concorrência feroz por quotas de mercado fez com que houvesse um défice técnico no ramo de acidentes de trabalho, que nos últimos anos se está a tentar inverter, mas ainda longe. Tenho receio que, pela importância do ramo, o sector possa cometer exatamente o mesmo erro, que é estar preocupado com aquilo que é a quota de mercado e menos com o tema da rentabilidade. Este é um primeiro risco.
Outra preocupação é a concentração que existe ao nível do sector da saúde e dos grupos privados. Quanto maior concentração houver, mais difícil será para as seguradoras conseguirem melhores condições de exploração.
A evolução demográfica constitui um risco?
A evolução demográfica constitui, de alguma forma, um risco, porque estando a população a ficar mais velha, havendo cada vez menos natalidade, a verdade é que a idade média da carteira das seguradoras vai aumentar. Nós olhamos para a Medis e vemos que a idade média da nossa carteira anda pelos quarenta e poucos anos e verificamos que – não que tenha havido uma evolução muito rápida – que de dois em dois anos ou de três em três anos estamos a aumentar um ou dois anos à nossa carteira. Obviamente, se temos um problema de natalidade e se temos um envelhecimento da carteira, isso significa que, cada vez mais, temos potenciais clientes com riscos maiores.
Outros temas serão as novas tecnologias, a inflação médica. A parte do medicamento, que hoje em dia está a evoluir muito, com efeitos muito positivos no tratamento da saúde, mas, em alguns casos, a preços verdadeiramente exorbitantes. Tudo isto terá impacto e é motivo de preocupação para uma companhia de seguros, onde, além da prestação do serviço da cobertura de risco, tem de ter uma grande componente de controlo de custos, se quer sobreviver. Da mesma forma que quando temos bons resultados podemos passar parte dos bons resultados para os segurados, quando temos maus resultados vamos ter de passar parte dos maus resultados para os segurados.
Como lida a Médis com os novos medicamentos, que implicam uma sobrevida muito maior, apesar de serem mais caros?
Apesar de não termos produtos que façam a cobertura do medicamento, temos, para todos os efeitos, tudo o que são medicamentos em hospitais.
Temos de ter a capacidade de negociar com os nossos prestadores de serviços o preço do medicamento, porque, hoje em dia, já representa uma componente da fatura essencial. Temos de encontrar maneiras mutuamente vantajosas, para nós e para eles, por forma a que o custo do medicamento possa ser reduzido. Seja por via de negociação direta com as entidades farmacêuticas, seja por via de encontrar alternativas aos próprios medicamentos, temos de encontrar formas de resolver. Para mim, o problema do medicamento é que, cada vez mais – e este é o tema –, a saúde começa a ser mais personalizada. Apesar de o teste genético não ser aplicável pelas seguradoras – estamos impedidos por lei –, a verdade é que se começa a utilizar cada vez mais o teste genético para ver como é que vou tratar o cliente. O que significa que, cada vez mais, estamos a falar da personalização da saúde. O nível de sofisticação da medicina vai constituir, de facto, um custo adicional. É, por isso, um motivo de preocupação. Ou nós conseguimos estar ao nível do processo de negociação junto da indústria farmacêutica ou amanhã será muito complicado, pelo menos, ter capitais suficientes para cobrir algumas destas terapias.
Como se consegue adaptar o modelo de negócios a uma realidade em que as pessoas têm maior longevidade, maior risco de contrair doenças e que o custo do tratamento é mais elevado?
O tema é exatamente esse. Nós, hoje em dia, na generalidade da atividade, temos rentabilidades relativamente baixas. Isso é uma realidade.
Temos medicamentos – e nem são os realmente de ponta – que custam 20 ou 30 mil euros. Não sei qual é o capital médio da atividade [para hospitalização], mas andará por aí: 30 mil, 40 mil euros. O que significa, efetivamente, que o seguro de saúde é complementar ao serviço nacional de saúde.
Qual é a estratégia da Medis?
A estratégia da companhia é continuar a crescer, de forma sustentada, salvaguardando sempre a rentabilidade da mesma. Hoje em dia, queremos continuar a crescer através de dois vetores: primeiro, o alargamento dos canais de distribuição; e quando estamos a falar do alargamento dos canais de distribuição, estamos a falar de uma aposta muito forte no canal digital – hoje em dia, somos a única companhia de seguros que consegue vender uma apólice, desde que o cliente entra no site, até fechar o processo, sem sair do site. E já estamos num patamar de cerca de 300 apólices por mês, o que é um valor muito razoável. Vamos apostar nos canais, na internet, na exploração de outros canais, como foi o exemplo da televisão; vamos continuar a apostar no negócio das parcerias e nos nossos canais tradicionais, onde temos os nossos parceiros. Queremos ser uma companhia de seguros efetivamente multicanal.
Num segundo vetor, queremos trabalhar na valorização da proposta de valor, criando condições para que possamos dar um salto qualitativo muito grande, nos próximos dois anos, através da introdução de serviços verdadeiramente inovadores – mais uma vez recorrendo a capacidades digitais –, que nos possam ajudar a termos um crescimento sustentado e a diferenciarmo-nos da concorrência.
Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.
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