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SVB. DBRS defende que novo ‘Programa de Financiamento Bancário a Prazo’ reduz probabilidade de contágio à banca

O Sillicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank foram vítimas da subida dos juros da dívida americana, das perdas que isso gerou e da corrida aos depósitos. Mas a DBRS considera que as medidas das autoridades norte-americanas, incluindo o banco central, “vão reduzir a probabilidade de contágio”.
fusão
13 Março 2023, 12h14

O Sillicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank foram vítimas da subida dos juros da dívida americana e das perdas geradas com esses títulos para colmatar falhas de liquidez, mas as medidas dos reguladores norte-americanos, incluindo o banco central, na opinião da DBRS, agência de rating canadiana, vão reduzir a probabilidade de contágio ao sistema bancário. DBRS elogia o programa de liquidez da Fed e a garantia de cobertura de todos os depósitos pela secretária de Estado do Tesouro.

“Na nossa opinião, os balanços patrimoniais dos bancos norte-americanos permanecem fortes, com amplos níveis de liquidez, mas com rígidos rácios de transformação de depósitos em crédito, uma vez que os depósitos permanecem superiores aos níveis pré-pandémicos, com o rácio empréstimo/depósito de 69%”, defende a agência de rating canadiana, DBRS.

A agência de rating realça que alguns bancos mais prudentes permaneceram propositadamente à margem do excesso de financiamento de depósitos gerados durante a pandemia, sem saber o quão rígido seria esse financiamento. No entanto, parte dessa capacidade foi investida em títulos de investimento de risco de crédito geralmente muito baixo, o que agora é visto como um problema.

As carteiras de títulos de investimento dos bancos registaram aumentos significativos nas perdas potenciais (não realizadas) à medida que as taxas de juro das obrigações soberanas subiam para refletir o risco da degradação da economia norte-americana num contexto de subida dos juros da Fed para tentar travar a inflação.

Os títulos classificados como disponíveis para venda são mantidos ao valor justo no balanço patrimonial com as perdas (ou ganhos) não realizadas registadas no produto bancário como outros resultados de exploração. Mas os bancos também transferiram alguns ativos para o grupo de títulos mantidos até à maturidade para remover parte do risco de perdas potenciais, registando perdas com essa mudança.

“As perdas não realizadas tornar-se-iam um problema maior se a venda dos títulos fosse necessária para atender às exigências de liquidez, o que não esperamos ser um problema no nosso universo de ratings no momento. No entanto, há claramente medo nos mercados, com algumas ações de outros bancos a cair significativamente após o desaparecimento do SVB, independentemente dos fundamentos”, alerta a DBRS.

“Os bancos no nosso universo de ratings tendem a obter financiamento de depósitos a partir de uma variedade de clientes, incluindo ter uma contribuição mais estável dos clientes do retalho segurados pelo FDIC (fundo que garante depósitos até 250 mil dólares), que são menos susceptíveis a movimentar elevados volumes de fundos, bem como a terem acesso imediato a outras fontes de financiamento, incluindo o Federal Home Loan Banco. Globalmente, consideramos que a maioria das fontes de financiamento dos bancos é geralmente bastante diversificada em termos de maturidade”, refere a DBRS.

“Esperamos que, após o rápido aumento das taxas de juros, alguns bancos reposicionem suas carteiras de títulos vendendo títulos de menor rendimento e reinvestindo os recursos em ativos de maior rendimento, incorrendo em perdas. No entanto, os bancos em nosso universo de cobertura de rating são capazes de absorver essas perdas potenciais por meio de lucros e fortes reservas de capital”, prevê a agência de rating.

A queda do SVB é atribuída ao excesso de liquidez do banco a partir de 2021 e à decisão do banco em aplicar este dinheiro em títulos de dívida de longo prazo.

Os bancos norte-americanos terminaram 2022 com uma carteira de ativos (sobretudo obrigações) com perdas potenciais de 620 mil milhões de dólares, o que “enfraquece a capacidade de as instituições financeiras enfrentarem crises de liquidez inesperadas”.

Depois da falência do SVB Financial Group, dona do Sillicon Valley Bank (SVB), o Governo dos Estados Unidos apressou-se a garantir que não haveria um resgate com dinheiro dos contribuintes. Mas, este domingo, a Reserva Federal norte-americana (Fed) anunciou a criação de uma linha de emergência de liquidez para garantir que todos os clientes com exposição ao SVB ou ao Signature Bank (que também fechou) através de depósitos possam reaver o seu dinheiro já a partir desta segunda-feira.

A ideia é acalmar a corrida aos depósitos que pode provocar um efeito dominó no sistema financeiro. Sabendo que todos os depósitos estão garantidos, mesmo os acima de 250 mil euros, ajuda a travar a fuga de depósitos dos bancos.

“Para apoiar as empresas e as famílias americanas, o Conselho da Reserva Federal anunciou no domingo que disponibilizará fundos adicionais às instituições depositárias elegíveis para assegurar que os bancos têm capacidade para satisfazer as necessidades de todos os seus depositantes“, referiu a Fed em comunicado.

A Reserva Federal anunciou a criação de um novo Programa de Financiamento Bancário a Prazo (Bank Term Funding Program – BTFP). Ao abrigo desse programa as instituições financeiras elegíveis podem comprometer-se a obter garantias de alta qualidade ao par (valor nominal) para obter empréstimos de até um ano de duração.

Isto é, este programa disponibilizará empréstimos de até um ano a bancos, associações de poupança, cooperativas de crédito e outras instituições depositárias elegíveis que se comprometam a dar como colateral obrigações do Tesouro dos EUA e outros títulos de dívida do Tesouro norte-americano, obrigações hipotecárias e outros títulos que serão definidos pela Fed e que serão avaliados ao par.

Isto evitará que as instituições depositárias tenham de vender estes títulos com prejuízo, para responder a potenciais exigências de liquidez. O banco central dos Estados Unidos também revelou que está preparado para lidar com quaisquer outras pressões de liquidez que possam surgir. “Do nosso ponto de vista, isto deverá apoiar mercados mais calmos e proporcionar liquidez adicional para o sistema bancário, ajudando ao mesmo tempo a reduzir a probabilidade de contágio”, conclui a DBRS.

A Fed acredita que “o BTFP será uma fonte adicional de liquidez contra títulos de alta qualidade, eliminando a necessidade de uma instituição vender rapidamente esses títulos em tempos de stress”, como aconteceu com o SVB que, devido a um “venda rápida” destes os titulos do tesouro que detinham em carteira para garantir a sustentabilidade da instituição teve de reconhecer perdas de 1,8 mil milhões de dólares, despoletando posteriormente a corrida dos clientes ao dinheiro que tinham no banco.

Recorde-se que em meados da semana passada, o SVB Financial Group recebeu uma chamada da agência de rating Moody’s Investors Service a dar conta que se preparava para baixar a classificação da dívida do banco, relata a Reuters. A agência noticiosa associou o alerta da Moody’s à subida dos juros promovida pela Reserva Federal está a provocar uma queda no preço das obrigações, que se movimentam em sentido contrário às taxas. Uma tendência que foi reforçada na terça-feira, quando o presidente do banco central Jerome Powell admitiu a possibilidade de a Fed voltar a acelerar a subida dos juros para travar a inflação. Depois das declarações, a taxa dos títulos do Tesouro americano a dois anos superaram os 5% pela primeira vez desde 2007.

A queda do valor das obrigações, onde o SVB tinha parte da sua tesouraria, levou a Moody’s a ligar aos executivos do banco. A agência de rating ia avançar com a revisão em baixa do rating. Preocupados que a decisão da agência abalasse a confiança dos investidores e dos clientes, contactaram o Goldman Sachs para encontrar uma saída, relata a Reuters.

Foi o assim desencadeado o processo que levaria ao maior colapso de um banco deste a crise financeira de 2008 e que já contagiou o Signature Bank.

 

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