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‘Apps’ das trotinetes recusam cenário de Paris em Lisboa

Paris volta a ser pioneira ao banir as trotinetes em setembro próximo, depois de as introduzir em 2018. O Jornal Económico ouviu alguns dos operadores para perceber se a proibição pode ter um efeito borboleta em outras cidades.
16 Abril 2023, 14h55

O tema das trotinetes nunca foi muito consensual. Se por um lado elas permitem uma rápida deslocação, por outro levam a uma condução mais destemida e, por vezes, irresponsável. Que o diga Paris, que prevê proibir este tipo de micromobilidade já a partir de 1 de setembro, depois da realização de um referendo em que 90% dos votantes decidiram banir o veículo ligeiro, anos após ter feito uma introdução pioneira do mesmo na Europa em 2018.

Os parisienses denunciam que a presença das trotinetes na cidade é um assunto tenso e de elevada preocupação, sendo que a proibição vai reduzir em muito o incómodo que estas têm causado nas ciclovias e no estacionamento.

Sendo Paris uma das principais cidades europeias pioneiras a lançar e banir este veículo controverso, o que se seguirá? Na opinião das empresas de micromobilidade que operam em Portugal, nada.

Em forma de antecipação à decisão de Paris, a responsável da Lime indica ao Jornal Económico que “notamos que as cidades estão a seguir a direção oposta”. “Paris é a exceção à regra, enquanto outras cidades em França, como Lyon, Grenoble, Bordeaux e mais estão a expandir os seus programas. Estão a seguir uma tendência global, com Nova Iorque, Londres, Roma e Chicago e quase todas as outras cidades estão a estender as licenças”, nota.

A mesma opinião é partilhada pela Whoosh. “É seguro dizer que Lisboa não seguirá o exemplo de Paris, uma vez que as empresas, juntamente com a administração municipal, trabalham para minimizar a tensão e maximizar o lucro não económico da micromobilidade partilhada”, garante João Pereira Reis.

Contrariamente à capital francesa, o CEO da Whoosh Portugal evidencia que a cidade de Lisboa e os operadores “estabeleceram um diálogo saudável que lhes permite colaborar e desenvolver os serviços em nome de uma melhor mobilidade urbana”.

Foi em prol da mobilidade que Lisboa e os seus cinco operadores estabeleceram um acordo que prevê a redução da velocidade máxima para 20 km/h, locais de estacionamento fixos e a redução do número de trotinetes presentes durante o inverno e o verão.

O CEO da Whoosh Portugal indica que “já fazíamos e defendíamos desde o momento em que entrámos no mercado nacional” todas as considerações aprovadas em janeiro passado na Câmara de Lisboa, não verificando um impacto notório no negócio, uma vez que as “colocávamos em prática”. Por sua vez, a Lime vai mais longe e diz que seria importante reduzir o número de operadores para três (em vez dos atuais cinco) para “evitar a saturação do mercado e uma administração mais fácil para as cidades”.

Bolt alerta para concursos públicos de micromobilidade
A Bolt espera que a cidade de Paris repense a ideia de pôr fim às trotinetes a partir de setembro. “Acreditamos que renunciar a este tipo de transporte partilhado representa um passo atrás na construção de cidades melhores”, disse ao JE o responsável de Micromobilidade da Bolt em Portugal.

A Câmara Municipal de Paris tem licenças com operadoras como a Lime, a Dott e a Tier. A Bolt destaca que, embora as suas trotinetes não estivessem presentes em Paris recentemente, espera que a “cidade reconsidere a sua posição”, porque se trata de um meio de transporte fundamental para a vida das cidades, sobretudo as mais vanguardistas. “A experiência da operação da Bolt em 260 cidades e 25 países na Europa mostra que este tipo de veículos são uma parte essencial do sistema de mobilidade nas cidades”, afiançou ao JE Frederico Venâncio.

O porta-voz da Bolt em Portugal vai mais longe e considera que o facto de a capital francesa, com mais de dois milhões de habitantes, ter avançado com um referendo mostra que “os concursos públicos não são a solução adequada” quando se escolhem operadores de micromobilidade para uma zona urbana.

“Mais do que isso, demonstra que os desafios em matérias de políticas públicas da cidade não foram endereçados”, defende. “um cenário de mercado livre, os operadores precisam de competir constantemente uns com os outros para se garantir que acrescentam valor e que aumentam a qualidade do serviço para os utilizadores – incluindo normas de segurança adequadas e preços acessíveis”, alerta Frederico Venâncio ao JE.
Ressalvando que o unicórnio respeita o resultado da votação em Paris, o responsável de Micromobilidade da Bolt em Portugal salienta que mais de 92% das pessoas elegíveis para votar não participaram no referendo, o que significa que “apenas cerca de 1% de toda a população da capital francesa expressou a sua vontade” neste escrutínio. Efetivamente, dos 1,38 milhões de eleitores registados no município liderado por Anne Hidalgo, só cerca de 103 mil pessoas participaram. “As trotinetes são uma alternativa mais acessível e sustentável à utilização de um automóvel particular e integra-se sem problemas nas redes de transporte existentes nas cidades. Vemos que tanto os clientes como as cidades reconhecem amplamente o impacto positivo das trotinetes partilhadas nas suas cidades, pelo que não esperamos que a votação em Paris tenha qualquer impacto sobre elas”, conclui o executivo da empresa fornecedora de serviços de veículos de transporte de passageiros, entregas de refeições, bicicletas elétricas e trotinetes.

As cidades do futuro continuarão a ter trotinetes? Nim.

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