Os primeiros-ministros da Guiné-Bissau e de Cabo Verde reafirmaram hoje a vontade de reforçar a cooperação bilateral em diversas áreas, com destaque para a agricultura, onde Bissau vai oferecer terrenos à Praia para a prática dessa atividade.
A vontade foi manifestada pelos dois chefes de Governo em intervenções durante a cerimónia de abertura da segunda Conferência Internacional de Parceiros de Desenvolvimento, que está a decorrer na ilha da Boa Vista.
“Pelos laços históricos que unem os povos da Guiné e de Cabo Verde, pela identidade de desafios partilhados ao longo dos anos pelos dois países irmãos, pela necessidade do reforço de cooperação Sul-Sul, quer a nível da CEDEAO [Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental], quer a nível da CPLP [Comunidade dos Países de Língua Portuguesa], a Guiné-Bissau reconhece a necessidade do reforço de cooperação”, afirmou Nuno Nabian.
O primeiro-ministro guineense, que participa no evento a convite do seu homólogo cabo-verdiano, considerou que, em “áreas como turismo, agricultura, economia digital, transportes marítimos, transição energética e transportes aéreos”, a Guiné-Bissau “terá muito a ganhar nesta relação de partilha de experiências”.
Relativamente ao projeto no setor agrícola, Ulisses Correia e Silva reafirmou o “interesse e compromisso” do seu país para que seja “uma grande referência” na cooperação Sul-Sul, e disse que a ideia é Cabo Verde aproveitar aquilo que a Guiné tem e que o seu país não tem, que são terrenos férteis, chuvas e água.
“Nós estamos a desenvolver algo muito interessante, com a participação do BAD [Banco Africano de Desenvolvimento], relativamente à produção de cereais, e fazer com que, a partir dessa produção, possamos ter a economia dos dois países a funcionar”, disse o primeiro-ministro cabo-verdiano, que está “expectante” para concretizar esse “grande projeto”.
Relativamente à cooperação nas outras áreas, o primeiro-ministro cabo-verdiano prometeu fazer com que possa acontecer e “ser o mais fortificado possível”.
Na semana passada, a secretária de Estado das Comunidades da Guiné-Bissau, Salomé Allouche, manifestou, na Praia, a disponibilidade do seu país em oferecer terrenos a Cabo Verde para a prática da agricultura.
“É uma possibilidade muito boa, temos terrenos para isso, estamos abertos para isso”, admitiu a governante, em conferência de imprensa, no primeiro de dois dias de visita a Cabo Verde e após um encontro de trabalho com o ministro das Comunidades cabo-verdiano, Jorge Santos.
A secretária de Estado disse que, ao chegar a Bissau, a primeira coisa que iria fazer seria falar com o ministro da Agricultura para mostrar o interesse de Cabo Verde em querer criar essa parceria na agricultura.
“E nós estamos abertos a empresários de Cabo Verde poderem ir trabalhar nas terras como querem, porque, uma vez que nós temos terras e empresários aqui talvez não tenham terra suficiente para trabalharem, nós estamos disponíveis”, insistiu.
“Porque, na verdade, nós somos irmãos e porque não ajudar com o espaço, se nós não podemos fazer, os nossos irmãos têm condições de fazer e nós estamos disponíveis para dar terra para eles cultivarem e trabalharmos em conjunto”, completou Salomé Allouche.
O ministro das Comunidades cabo-verdiano disse que a cooperação na agricultura já está a ser discutida entre os dois governos e é um processo que vai envolver a CEDEAO e o BAD, no âmbito do “Corredor Rodoviário Dacar-Abidjan”.
Neste sentido, Jorge Santos entendeu que implica o desenvolvimento de empresas de transformação agroalimentar, mas também de transportes, dando conta que já existem iniciativas nesse sentido.
A Guiné-Bissau acolhe uma grande comunidade cabo-verdiana e a comunidade guineense continua a representar a maior comunidade estrangeira residente em Cabo Verde (33,7%), de acordo com os dados preliminares do primeiro inquérito sobre população estrangeira e imigrante em Cabo Verde, publicados em dezembro, que estima a existência de cerca de 11 mil imigrantes ou estrangeiros no país.
Em 24 de março, o parlamento de Cabo Verde aprovou a adesão ao tratado que em 2017 criou o “Corredor Rodoviário Dacar-Abidjan”, projeto multimodal de 3.164 quilómetros, após a garantia da incorporação da componente marítima “Praia-Dacar”, de 500 quilómetros.
O tratado com vista à implementação deste projeto foi adotado em junho de 2017, em Monróvia, por sete Estados-membros CEDEAO, casos da Costa do Marfim, Gâmbia, Guiné, Guiné-Bissau, Libéria, Serra Leoa e Senegal.
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