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Cabo Verde quer cortar perdas de eletricidade na rede pública em 5,5 pontos em 2023

O Banco Europeu de Investimento vai financiar com 110 milhões de escudos (um milhão de euros) um programa para reduzir em 5,5 pontos percentuais as perdas de eletricidade na rede pública de distribuição em Cabo Verde em 2023, segundo o Governo.
21 Novembro 2022, 19h05

“A redução de perdas em 5,5 pontos percentuais alivia significativamente o custo energético no país. Atualmente, cada 1% de perdas representa um volume de energia não faturado de 190 mil contos [190 milhões de escudos, 1,7 milhão de euros] por ano. Assim sendo, uma redução de 5.5 pontos percentuais evita um custo adicional anual na fatura energética de 1,05 milhão de contos [mil milhões de escudos, 9,5 milhões de euros]”, sublinha o Governo, nos documentos de suporte à proposta do Orçamento do Estado para 2023, a votar na generalidade, no parlamento, esta sexta-feira.

Cerca de um quarto de toda a eletricidade produzida em Cabo Verde anualmente é dada como perdida, nomeadamente por furtos na rede, ficando por faturar, de acordo com dados oficiais do grupo estatal Electra.

Nos documentos orçamentais, o executivo refere a prioridade de avançar no próximo ano com o programa de redução de perdas em eletricidade e melhoria de qualidade de energia, financiado pelo Banco Europeu de Investimento: “Em Cabo Verde, o custo de produção e distribuição de energia elétrica é elevado, assim como é elevado número de ocorrências de práticas delituosas, como o furto e a fraude, para se usufruir desses serviços sem o devido pagamento. No entanto, esses furtos geram perdas consideradas, que são repassadas, em parte, aos consumidores, com o aumento das contas de energia elétrica e de água”.

“Além de reforçar e executar as medidas legislativas já tomadas, impõe-se a adoção de medidas técnicas e comerciais assertivas, nomeadamente de intervenção nas redes de distribuição de eletricidade e de controlo dos aparelhos de medição, de modo a combater as perdas na energia elétrica”, sublinha o documento.

Acrescenta que as medidas para reduzir as perdas, promover a eficiência no consumo e o uso de fontes alternativas de energia “são essenciais para mitigar o impacto da guerra na Ucrânia no custo energético em Cabo Verde” e que a “orientação do Governo” abrange eixos de intervenção como “utilização de recursos tecnológicos, massificação da utilização de contadores inteligentes, aceleração dos processos relacionados com o roubo de energia, aceleração da transição energética e comunicação e sensibilização”.

O projeto destina-se aos laboratórios da Electra, empresa pública de produção e distribuição de eletricidade, tendo em vista a remodelação e o reforço das redes de baixa tensão, aquisição e instalações de contadores, remodelação e adaptação das redes de baixa tensão ao sistema pré-pago, limitadores de potência para clientes de baixa tensão e desenvolvimento do sistema de gestão de redes nas ilhas de Santiago, São Vicente e Sal.

“Tem como objetivo o apoio ao Governo na introdução de 50% de energia renovável na rede e na melhoria da qualidade de energia. Redução de perdas de eletricidade e aumento da qualidade de energia são os resultados esperados”, refere igualmente o documento.

Quase 82% da eletricidade produzida em 2021 em Cabo Verde pela Electra foi garantida através de centrais térmicas, mas mais de um quarto foi dada como perdida, ficando por faturar, segundo o relatório e contas do grupo estatal.

De acordo com o documento, que a Lusa noticiou anteriormente, o grupo Electra produziu em 2021 um total de 441,6 GigaWatts-hora (GWh) de energia, sendo 81,7% de origem térmica, 16,7% eólica e 1,5% solar.

Globalmente, trata-se de um aumento de produção de 5,3%, face a 2020, impulsionado pelo parque eólico do grupo em São Vicente, em 15,4%, e pelos dois parques solares (Santiago e Sal), em 4,5%, enquanto as 14 centrais térmicas espalhadas pelo arquipélago produziram mais 3,5%.

O Governo cabo-verdiano aprovou um plano que prevê a meta de 30% de produção de eletricidade através de fontes renováveis até 2025 e mais de 50% até 2030, face aos atuais cerca de 20%, essencialmente produzida através de parques eólicos, incluindo os de operadores externos ao grupo Electra.

A empresa destaca que as perdas de eletricidade globais, técnicas e não técnicas – sobretudo furto -, em todo o país, atingiram em 2021 os 112,432 GWh, representando 25,5% da produção, ainda assim uma descida face aos 26,1% dados como perdidos em 2020.

“Os níveis de perdas e dívidas de clientes continuam a constituir dos principais constrangimentos da empresa que, deste modo, se vê privada de importantes recursos. No período em apreço registou-se uma diminuição de 0,6 pontos percentuais das perdas globais de eletricidade (…) Este registo é claramente alavancado pelas perdas na ilha de Santiago, que continuam em patamares muito elevados, situando-se em 87,4 GWh (34,6%) da produção e representando 78% das perdas a nível nacional”, alerta o conselho de administração, na mensagem que consta no relatório e contas de 2021.

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