“A redução de perdas em 5,5 pontos percentuais alivia significativamente o custo energético no país. Atualmente, cada 1% de perdas representa um volume de energia não faturado de 190 mil contos [190 milhões de escudos, 1,7 milhão de euros] por ano. Assim sendo, uma redução de 5.5 pontos percentuais evita um custo adicional anual na fatura energética de 1,05 milhão de contos [mil milhões de escudos, 9,5 milhões de euros]”, sublinha o Governo, nos documentos de suporte à proposta do Orçamento do Estado para 2023, a votar na generalidade, no parlamento, esta sexta-feira.
Cerca de um quarto de toda a eletricidade produzida em Cabo Verde anualmente é dada como perdida, nomeadamente por furtos na rede, ficando por faturar, de acordo com dados oficiais do grupo estatal Electra.
Nos documentos orçamentais, o executivo refere a prioridade de avançar no próximo ano com o programa de redução de perdas em eletricidade e melhoria de qualidade de energia, financiado pelo Banco Europeu de Investimento: “Em Cabo Verde, o custo de produção e distribuição de energia elétrica é elevado, assim como é elevado número de ocorrências de práticas delituosas, como o furto e a fraude, para se usufruir desses serviços sem o devido pagamento. No entanto, esses furtos geram perdas consideradas, que são repassadas, em parte, aos consumidores, com o aumento das contas de energia elétrica e de água”.
“Além de reforçar e executar as medidas legislativas já tomadas, impõe-se a adoção de medidas técnicas e comerciais assertivas, nomeadamente de intervenção nas redes de distribuição de eletricidade e de controlo dos aparelhos de medição, de modo a combater as perdas na energia elétrica”, sublinha o documento.
Acrescenta que as medidas para reduzir as perdas, promover a eficiência no consumo e o uso de fontes alternativas de energia “são essenciais para mitigar o impacto da guerra na Ucrânia no custo energético em Cabo Verde” e que a “orientação do Governo” abrange eixos de intervenção como “utilização de recursos tecnológicos, massificação da utilização de contadores inteligentes, aceleração dos processos relacionados com o roubo de energia, aceleração da transição energética e comunicação e sensibilização”.
O projeto destina-se aos laboratórios da Electra, empresa pública de produção e distribuição de eletricidade, tendo em vista a remodelação e o reforço das redes de baixa tensão, aquisição e instalações de contadores, remodelação e adaptação das redes de baixa tensão ao sistema pré-pago, limitadores de potência para clientes de baixa tensão e desenvolvimento do sistema de gestão de redes nas ilhas de Santiago, São Vicente e Sal.
“Tem como objetivo o apoio ao Governo na introdução de 50% de energia renovável na rede e na melhoria da qualidade de energia. Redução de perdas de eletricidade e aumento da qualidade de energia são os resultados esperados”, refere igualmente o documento.
Quase 82% da eletricidade produzida em 2021 em Cabo Verde pela Electra foi garantida através de centrais térmicas, mas mais de um quarto foi dada como perdida, ficando por faturar, segundo o relatório e contas do grupo estatal.
De acordo com o documento, que a Lusa noticiou anteriormente, o grupo Electra produziu em 2021 um total de 441,6 GigaWatts-hora (GWh) de energia, sendo 81,7% de origem térmica, 16,7% eólica e 1,5% solar.
Globalmente, trata-se de um aumento de produção de 5,3%, face a 2020, impulsionado pelo parque eólico do grupo em São Vicente, em 15,4%, e pelos dois parques solares (Santiago e Sal), em 4,5%, enquanto as 14 centrais térmicas espalhadas pelo arquipélago produziram mais 3,5%.
O Governo cabo-verdiano aprovou um plano que prevê a meta de 30% de produção de eletricidade através de fontes renováveis até 2025 e mais de 50% até 2030, face aos atuais cerca de 20%, essencialmente produzida através de parques eólicos, incluindo os de operadores externos ao grupo Electra.
A empresa destaca que as perdas de eletricidade globais, técnicas e não técnicas – sobretudo furto -, em todo o país, atingiram em 2021 os 112,432 GWh, representando 25,5% da produção, ainda assim uma descida face aos 26,1% dados como perdidos em 2020.
“Os níveis de perdas e dívidas de clientes continuam a constituir dos principais constrangimentos da empresa que, deste modo, se vê privada de importantes recursos. No período em apreço registou-se uma diminuição de 0,6 pontos percentuais das perdas globais de eletricidade (…) Este registo é claramente alavancado pelas perdas na ilha de Santiago, que continuam em patamares muito elevados, situando-se em 87,4 GWh (34,6%) da produção e representando 78% das perdas a nível nacional”, alerta o conselho de administração, na mensagem que consta no relatório e contas de 2021.
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