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Europa procura sítios para armazenar gás e a Ucrânia tem espaço disponível

A Comissão Europeia está a avaliar esta opção, pesando os prós e os contras de armazenar gás num país em guerra.
Vasily Fedosenko/Reuters
12 Junho 2023, 18h19

A União Europeia precisa de espaço para armazenar gás natural para o próximo inverno e a Ucrânia tem bastante espaço disponível.

A ideia parece completamente descabida: armazenar importantes reservas de um combustível fóssil crítico num país em guerra, mas a ideia está a ganhar tração em Bruxelas. Os defensores desta opção consideram que a guerra fica longe, com a frente a mais de mil kms de distância. Já a Ucrânia encaixaria uma receita por armazenar o gás, dinheiro que será relevante para os cofres de Kiev em altura de invasão russa.

A Comissão Europeia disse estar a “explorar”  o “desbloqueio do acesso a armazenamentos de gás natural na Ucrânia”, segundo o porta-voz Tim McPhie, citado pela “Bloomberg”.

O complexo ucraniano de armazenamento de gás natural de Bilche-Volytsko-Uherske fica a quase 100 kms da fronteira com a Polónia. O centro tem a capacidade de armazenar quatro vezes mais gás do que o maior local na Alemanha. Em termos de rede, está ligada aos gasodutos da UE pois a Ucrânia serviu bastante tempo como passagem do gás russo para a Europa ocidental. Outras questões envolvem os seguros sobre as cargas, será que alguma empresa está disposta a segurar gás num país em guerra?

A Ucrânia conta com a maior rede europeu de cavernas subterrâneas que seriam essenciais para reservar gás natural suficiente para a UE aguentar o inverno, altura de maior consumo, e em que os preços disparam.

Atualmente, a armazenagem da UE situa-se nos 70%, com os estados-membros a irem ao mercado ao longo dos próximos meses para encherem as reservas para o próximo inverno. As reservas europeias deverão estar cheias no início de setembro, com a época de frio a arrancar mais tarde, o que pode criar uma situação de excesso de oferta.

Apesar de a Rússia ter fechado a torneira do gás, o mercado europeu de gás natural sobreviveu ao último inverno sem grandes percalços, com a ajuda de um inverno mais suave. Mas os desafios continuam, apesar de a UE ter conseguido substituir quase totalmente o gás russo, com mais gás a chegar de países como a Noruega (via pipeline) ou EUA (via navio).

Mas esta opção pode ser usada pelo Kremlin que não tem hesitado em atacar alvos energéticos estratégicos, como a barragem de Kakhova no rio Dnipro que foi bombardeada na semana passada.

A “Bloomberg” destaca que o gás fica armazenado a dois quilómetros debaixo de terra, mas resta saber se isso será suficiente para travar ataques russos. Já a entrada e a saída do gás do complexo também podem ser movimentos sensíveis ao nível da segurança.

O operador Ukrtransgaz tem disponível para armazenamento um terço de 30 mil milhões de metros cúbicos, o equivalente a 10% do consumo europeu no último trimestre de 2022 e disse que está disponível para servir de “bateria” da Europa.

A energética alemã RWE tem defendido esta opção: “O armazenamento ucraniano pode ajudar a equilibrar o fornecimento e a procura durante a segunda metade do verão de 2023, dada a sua excelente ligação aos mercados de gás da União Europeia”, disse a empresa que já usou a Ucrânia para guardar gás no passado à “Bloomberg”.

O Governo alemão já alertou que a UE tem de continuar alerta sobre a situação do gás natural. A Alemanha estava extremamente dependente do gás russo, conseguiu cortar esta relação tóxica, mas continua vigilante, segundo Berlim.

Os governos da UE desembolsaram quase 650 mil milhões de euros para apoiar famílias e empresas com a crise energética desencadeada em 2022 pela invasão russa da Ucrânia, e ninguém está disposto a repetir a dose no bloco.

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