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Ucrânia: Guerra é geografia e “demónios shakesperianos” de Putin em partes iguais, diz analista

“Esta é a maior guerra na Europa desde a Batalha de Berlim, em 1945. A guerra na Jugoslávia, que dominou as manchetes dos jornais nos anos 90, foi uma guerra entre países mais pequenos, que não tinham armas nucleares, num espaço confinado”, recorda o analista político Robert D. Kaplan.
16 Junho 2023, 08h09

Metade da guerra na Ucrânia é geografia e a outra metade são os “demónios shakesperianos” da cabeça de Putin, defende o analista político Robert D. Kaplan, que acredita que o risco de uso de armas nucleares é muito baixo.

Em entrevista à agência Lusa, o analista político que foi assessor do Departamento de Defesa dos Estados Unidos Robert D. Kaplan defende a importância da lupa da geografia para compreender os conflitos e alianças atuais, considerando que representa metade da realidade.

“São os 50% que os intelectuais ocidentais ignoraram ou esqueceram. Na guerra na Ucrânia, a geografia é 50% da realidade”, afirma o autor do livro “A vingança da Geografia”, cuja tradução foi recentemente lançada pelo Clube do Livro.

Do que são feitos esses 50%? “A Ucrânia e a Rússia estão próximas uma da outra. Não existe uma fronteira natural, uma vez que as línguas são semelhantes. A história é semelhante”.

É por isso que acredita que há muita geografia por trás da ideia do Presidente da Rússia, Valdmir Putin, de que “com a Ucrânia a Rússia é um império, sem a Ucrânia a Rússia é apenas um grande país subdesenvolvido”.

“Tudo isso representa 50%. Os outros são 50% são Shakespeare. São os demónios shakesperianos dentro da cabeça de Putin”.

Em Lisboa para participar na conferência “Democracy The Way Ahead — The New Geopolitics: Our World in Permanent Crisis”, organizada pela Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD), o autor de mais de uma dezena de livros sobre questões geopolíticas e temas internacionais e presença assídua em revistas da especialidade não nega a importância do fator humano, mas critica o peso que os analistas lhe dão nas análises sobre o atual conflito.

“Esta é a maior guerra na Europa desde a Batalha de Berlim, em 1945. A guerra na Jugoslávia, que dominou as manchetes dos jornais nos anos 90, foi uma guerra entre países mais pequenos, que não tinham armas nucleares, num espaço confinado”, recorda.

Por outro lado, a ofensiva lançada por Moscovo em 24 de fevereiro de 2022 é “uma questão estratégica para o Ocidente”, até pelo fato da Rússia ser uma potência nuclear.

Ainda que considere que “o risco de utilização de armas nucleares é muito, muito baixo”, alerta que “existe” e, porque existe, “a administração Biden tem de o levar a sério”.

Baixo também é, acredita, o risco de uma guerra entre a Rússia e os membros da NATO, mas está lá.

“Há um tipo de acontecimento que tem uma probabilidade baixa, mas altas consequências se ocorrer”, sentencia.

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