Os dados do Banco de Portugal (BdP) mostram uma quebra da atividade em Portugal durante a semana da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), mas as associações de empresários do comércio e turismo mostram-se pouco preocupadas com o impacto de curto-prazo, preferindo apontar à promoção do destino Portugal e projetando ganhos indiretos substanciais.
O indicador diário de atividade do BdP revela que a atividade económica quebrou durante a semana da JMJ, embora essa tendência se viesse já a verificar há um par de semanas antes do evento. Apesar da enchente de multidões na capital e concelhos limítrofes, o impacto ao nível do consumo foi baixo, algo até expectável dadas as condições oferecidas aos peregrinos, reconhecem as associações de empresários do turismo e do comércio.
Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), começa por realçar ao JE a escala do evento e a projeção que este permitiu da marca ‘Portugal’ no mundo. Lembrando que a JMJ superou todos os eventos realizados até à data no nosso país, o representante do sector turístico argumenta que esta “foi uma ação de promoção que nem muitos milhões e milhões de euros alguma vez conseguiriam transmitir”.
“O impacto económico vai muito para além do que fica espelhado nos números [divulgados pelo BdP]”, reforça, fazendo um balanço “muito positivo” do encontro de jovens cristãos. Além da promoção do país enquanto destino seguro e capaz de organizar eventos desta dimensão, Portugal conseguiu ser “uma ilha no meio deste planeta tão confuso como está”, um aspeto importante para o representante da chamada “indústria da paz”.
“E também já vimos que em vários sítios muitos peregrinos ficaram cá para além da jornada”, acrescenta, pelo que o impacto direto incluirá também os dias a seguir ao fim da JMJ.
Isso mesmo sublinha Carla Salsinha, presidente da UACS – União de Associações de Comércio e Serviços da Região de Lisboa e Vale do Tejo, lembrando que o impacto direto ainda não foi completamente contabilizado pelos dados divulgados. Por outro lado, a captação de futuros turistas, tanto entre os peregrinos que vieram e quererão regressar, como entre os que assistiram pela televisão ou internet a imagens do evento em Portugal largamente compensarão qualquer eventual quebra nominal agora registada.
Ainda assim, o discurso do Governo sempre passou pelo impacto económico do evento como justificação para organizar e financiar um evento religioso desta magnitude, sobretudo dado que o Estado é laico. Em jeito de balanço, Carla Salsinha reconhece que a expectativa já passava por constrangimentos e quebra de receitas no imediato, vendo a JMJ como um investimento para o futuro.
“O mais importante é o impacto que terá no futuro do turismo. Foi isso que sempre nos levou a pedir aos empresários que cativassem, tivessem essa perceção, porque estamos a falar de pelo menos um milhão de pessoas que transmitiram imagens, tiraram selfies e projetaram o nome de Lisboa para fora”, resume.
A explicação para a quebra resume-se, portanto, nas condições mais vantajosas que os peregrinos usufruíram ao nível de alojamento, transporte e alimentação, mas também noutros dois fatores: por um lado, os turistas não associados à JMJ provavelmente terão evitado o país durante a semana, dados os enormes constrangimentos que impôs à cidade; por outro lado, sendo um evento tão concorrido e preenchido em termos de calendário, o tempo livre dos peregrinos (que já apresentariam uma baixa propensão para consumir) foi escasso.
“Temos a perfeita noção que o retorno daqui a um ano será imediato. […] Houve uma descida [da atividade], mas, tal como aconteceu em Madrid, há o retorno de quem veio, que é um cartão de visita que muitos poucos países da Europa têm. Acho que este foi um dos grandes trunfos”, remata Carla Salsinha.
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