No painel dedicado à Lusofonia, o politólogo Jaime Nogueira Pinto, devidamente caustico – como sempre no habituou a ser – dedicou a primeira parte da sua intervenção à nova ordem mundial. No caso de haver uma: “é de território que estamos a falar. Todas as ordens internacionais nascem de um grande conflito, com alterações em dois sentidos: físicas e de ideias e valores”, em ambos os casos da autoria dos vencedores.
E deu exemplos: a guerra dos 30 anos, “que acabou com a religião como motivo de confrontação”, as guerras napoleónicas, a grande guerra e a II guerra, que criou “uma ordem bipolar” que só começaria a desaparecer com o fim da União Soviética. “Depois do fim da URSS veio a ordem liberal internacional, que entrou em crise em 2008” e depois acabou.
Para já, “não há outra”, essa ordem sobretudo assente no poder americano, acabou. O modelo está em crise e a guerra na Ucrânia “veio acentuar essa crise”. “Se fosse arriscar, diria que estaríamos numa ordem multipolar:” por um lado os Estados Unidos, por outro a China e no meio os neutros, uma espécie de radicais livres que não se reveem no bipolarismo e cujos interesses particulares os aconselham a tentar uma terceira via. A Índia e a Turquia são dois exemplos, disse o politólogo.
Evidentemente, disse ainda Jaime Nogueira Pinto, que a cola que une a CPLP é uma vantagem: “a proximidade de ordem cultural conta, até porque a afinidade ideológica caiu muito. As afinidades culturais, históricas prevalecem”, disse. Mas não deixa de ter uma visão pessimista da CPLP. Mesmo partindo de um pressuposto: uma liderança supranacional. “É complicado, a diferença da dimensão geopolítica dos países envolvidos” implica dificuldades de contacto que não é possível, para já, ultrapassar.
O caso do Brasil, que Nogueira Pinto referiu em particular, evidencia as dissonâncias: tem um desígnio nacional em termos geopolíticos – a pontos de “a política externa se ter mantido com um presidente da extrema-direita e outro da esquerda radical”. “Ao contrário de Portugal”, não é a ideologia que conta, “são os interesses”.
O Brasil, recordou, está nos BRICS – precisamente uma das organizações que mostram a existência desses radicais livres que, ao menos eles, são o que não querem e aparentam saberem já o que querem. “Os BRICS são o repúdio da ordem internacional e é isso que os une, apresar das ligações de alguns aos Estados Unidos e apesar de haver ali países visceralmente inimigos, como a China e a Índia, como o Irão e a Arábia Saudita”.
“E estão ali juntos”. Na CPLP talvez as coisas fossem mais difíceis, apesar de “alguns aspetos de complementaridade. É um objetivo, se harmonizado com os interesses internos”, levar a CPLP a ser o elo indutor de uma espécie de agenda comum. Mas Jaime Nogueira Pinto, um tradicional adepto da realpolitik (sobre a qual fez a sua tese de doutoramento), tem poucas esperanças.
Apesar de concordar que “contamos mais se formos fortes e tivermos capacidade para criarmos dificuldades. Cada vez nos afastamos mais desse mundo inclusivo” que está na moda boca do mundo. Língua comum, cumplicidades, complementaridades no espaço económico, são um ponto. Mas fazer disso o centro estratégico da CPLP e uma prioridade máxima de todos os países” “Alinho nos pessimistas”, concluiu.
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