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“Problema do jornalismo é a falta de investimento”, sublinha Adília Godinho, da RTP

Durante a Web Summit realizou-se um debate com três jornalistas sobre o jornalismo rápido, mas que rapidamente terminou sobre os problemas que se sentem neste meio, tendo sido a falta de investimento o salientado.
14 Novembro 2023, 12h13

“A necessidade de fazer um jornalismo lento”, foi o tema de um debate na Web Summit, entre três jornalistas, Ricardo Costa (SIC), Luísa Meireles (Lusa) e Adília Godinho (RTP). Durante o debate tornou-se claro que a tecnologia molda o jornalismo e que esta é uma profissão que assenta na veracidade e em factos, o que, por vezes, pode entrar em conflito com a necessidade de entregar as notícias com velocidade.

Luísa Meireles afirma que “desde o início que a maneira de fazer jornalismo mudou, agora temos um ciclo de notícias de 24 horas, mas sabemos que este nem sempre é o melhor caminho”. “Na Lusa, o meu trabalho é entregar notícias durante todo o dia, mas com veracidade, para a qual é preciso muitas vezes desacelerar”.

“A velocidade é um dilema na nossa profissão, precisamos de fazer rapidamente, mas as notícias têm de ser verificadas e suportadas por factos”, salienta Luísa Meireles.

Para Adília Godinho, a veracidade “é uma das maiores qualidades do jornalismo, independentemente do lugar onde trabalhamos. É uma referência ao jornalismo”. “Os jornalistas cometem erros, que tem um significado forte, tiram-nos a credibilidade, e os jornalistas estão a par disto, tentamos todos os dias não cometer erros, no entanto queremos tudo, veracidade e velocidade”.

“A tecnologia tem sempre mudado e tem sempre um impacto no jornalismo, e o jornalismo tem beneficiado dessa mudança, uma muda a outra muda”, refere Ricardo Costa. “Precisamos de ter os dois tipos de jornalismo, rápido e lento, toda a gente quer saber imediatamente o que se passa, mas depois querem saber com calma o que se passou hoje”.

Somos bombardeados com constantes notícias, os canis televisivos estão constantemente a atualizar informação para que as pessoas estejam o mais informadas possíveis, “num canal de 24horas de notícia não temos jornalismo lento, não é o lugar ideal para este tipo de jornalismo”, no entanto num típico canal de televisão apenas com os noticiários comuns “há espaço para isso, a tecnologia deu-nos a oportunidade de ter ao mesmo tempo termos na mesma redação jornalismo rápido e lento”, sublinha Ricardo Costa.

“Muitas vezes o ciclo de 24 horas de noticia e o jornalismo lento são apresentados como antagonistas, no entanto eles existem os dois. Este pode ajudar a perceber muitos tópicos, até num canal televisivo”, revela Adília Godinho.

O jornalismo rápido está em todo o lado, “quando olhamos para o jornal, no site ou no telemóvel, temos ambos os jornalismos, lento e rápido e muitas vezes o que é mais lido e tem mais público é o jornalismo lento. É preciso ter tudo, artigos que demoraram minutos a fazer e artigos que demoraram uma semana a fazer. O jornalismo lento é importante para ter subscritores e o rápido é importante para ter público”, afirma Ricardo Costa.

Cada vez mais é mais comum que o jornalismo esteja presenta nas redes sociais, o mais comum é os meios de comunicação marcarem presença nestas. Estas tornaram-se mais um meio, uma forma para os jornais entregarem notícias, no entanto está sempre associado a uma rapidez de entrega, “tudo é rápido, nós lemos tudo, recebemos todas as notícias, mas acho que há pessoas que gostam de receber as notícias rapidamente e que depois tiram tempo para ler com calma”, afirma Adília Godinho.

Outro tema levantado durante o debate foi a falta de pessoal nas redações, “há falta de profissionais nas redações, muitas vezes não temos pessoas suficientes para fazer as coisas”, revela Luísa Meireles.

“Este é o problema da falta de investimento, esse é o problema do jornalismo”, remata Adília Godinho.

“O jornalista precisa de tempo, no entanto na redação temos de trabalhar em níveis diferentes, para diferentes públicos. O maior problema não é velocidade, o maior problema do jornalismo no dia de hoje é a distribuição e a publicidade. Viemos de um mundo em que controlávamos, agora não, temos google, tiktok, etc, que têm controlo total da publicidade e da distribuição” concluiu Ricardo Costa.

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