As seguradoras mundiais estão otimistas este ano, tirando proveito de um ambiente de taxas de juro que ainda se mantêm elevadas à boleia da política monetária dos bancos centrais nos EUA e na Europa. Mas há riscos no horizonte que preocupam o sector. A incerteza macroeconómica, as tensões geopolíticas, mas também a possível volatilidade nos mercados financeiros levantam dúvidas em torno dos retornos que conseguirão obter em 2024.
As conclusões constam do “Global Insurance Survey 2024” do Goldman Sachs. O inquérito foi realizado entre janeiro e fevereiro de 2024 a 359 CIO e CFO de seguradoras a nível mundial, que representam mais de 13 biliões de dólares em ativos, com o objetivo de identificar tendências na indústria.
“A partir da sondagem percebemos que as seguradoras começaram 2024 com um otimismo renovado”, afirma Giorgio Albrecht, Head of Insurance Coverage for Southern & Eastern Europe do Goldman Sachs Asset Management, numa conference call com jornalistas, ainda que haja alguma prudência entre os responsáveis do sector.
“Depois de um ano de retornos mais elevados do que o esperado, as seguradoras estão a mostrar sinais de um otimismo cauteloso em relação aos mercados e à economia global em 2024”, refere, por outro lado, Michael Siegel, global Head of the Insurance Asset Management and Liquidity Solutions businesses do Goldman Sachs, num comunicado divulgado esta terça-feira, notando que os “retornos fracos de 2022 ainda estão frescos na sua memória, enquanto a inflação global manteve-se elevada”.
Esta abordagem é adotada perante um conjunto de riscos macroeconómicos para os portfólios de investimento das seguradoras. Entre os inquiridos, 52% apontam um abrandamento ou recessão económica nos EUA como um dos principais perigos, seguido pela volatilidade no mercado de ações e de crédito (48%) e tensões geopolíticas (46%).
O Goldman indica ainda que 19% das seguradoras identificaram um abrandamento ou recessão económica na Europa como um risco relevante, uma percentagem que cai para 7% no caso da economia da China.
Outro dos receios prende-se com a inflação, com 42% dos responsáveis a apontarem para este fator, ainda que isto represente uma redução face aos 55% que deram a mesma resposta no ano passado. O “aperto” da política monetária também faz parte do top dos riscos para 27% das seguradoras.
“Esperamos que os bancos centrais executem gradualmente as suas estratégias de alívio [da política monetária] no final deste ano, o que deve ser favorável para os ativos de risco, tanto obrigações como ações”, refere Alexandra WilsonElizondo, Co-CIO of Multi-Asset Solutions do Goldman Sachs Asset Management, nas conclusões da sondagem.
No entanto, alerta, “dado o aumento dos riscos macroeconómicos e as próximas eleições nos EUA, há potencial para se observar níveis mais elevados de volatilidade pelo caminho e um conjunto variado de resultados para os retornos [das seguradoras] até ao final do ano”.
Nesta procura por rentabilidade, o crédito privado – um tipo de financiamento de dívida fornecido por credores não bancários – é a principal escolha para 53% das seguradoras, considerando que é a classe de ativos que vai apresentar os retornos mais elevados nos próximos 12 meses.
“No início dos anos 2000, há 20 anos, a maioria do financiamento às empresas era concedido pelos bancos. Uma empresa que quisesse expandir o seu negócio ia ao seu banco habitual. Agora, na Europa, quase 78% das empresas obtêm financiamento através de fundos institucionais. Já não vão a um banco”, explica Lucia Catalan, Head of the Iberia Client Business, na call com jornalistas, notando que há vários motivos para isto acontecer.
“Em primeiro lugar, se olharmos para 2008, depois da crise financeira mundial, foi imposta muita regulação aos bancos. Algumas instituições financeiras reduziram o risco e, dessa forma, não estavam dispostas a conceder financiamento”, refere.
Por outro lado, o crédito privado tem um perfil risco/retorno atrativo pelo facto de, no ano passado, terem desaparecido cinco bancos, nomeadamente o Silicon Valley Bank nos EUA e o Credit Suisse na Europa. “Isto significa que as empresas [nomeadamente as startups] que precisam de pedir crédito tiveram de recorrer a outras fontes”, acrescenta, o que tem ditado um crescimento do mercado de crédito privado.
Quase metade das seguradoras (46%) também colocam as ações norte-americanas no top das classes de ativos com retornos mais elevados no próximo ano, seguidas pela dívida soberana (34%). Apesar da incerteza em torno da evolução da economia, 27% das seguradoras planeia aumentar o risco nos seus portfólios, conclui o inquérito.
Em sentido contrário, as seguradoras esperam que as criptomoedas, sector imobiliário e empréstimos hipotecários comerciais apresentem os retornos mais baixos este ano. “Depois dos escândalos que marcaram o mercado de criptomoedas em 2023, as seguradoras consideram esta classe de ativos pouco atrativa para investimento”, refere o Goldman Sachs. Já os “desafios no mercado imobiliário tornaram as seguradoras mais cautelosas em investir, com 34% dos inquiridos a acreditarem que esta classe vai entregar alguns dos retornos mais baixos”, conclui.
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