Os processos de insolvência em Portugal são agravados com a prevalência de estruturas familiares no tecido empresarial, que muitas vezes leva os gestores a adiarem decisões difíceis para esconder momentos de fraqueza ou devido a relações emocionais com os trabalhadores e fornecedores.
A ideia foi deixada hoje por Bruno Costa Pereira, administrador judicial que lidou com o caso da empresa de handling Groundforce, na conferência JE Advisory sobre Reestruturação de Empresas, hoje em Lisboa.
“Uma questão importante é que empresários tem sempre muita dificuldade em enfrentar esse momento [em que é preciso redimensionar a empresa]. E dizem ‘quero estar fora dessas reuniões’. Querem ficar resguardados porque conhecem os trabalhadores, conhecem os clientes e os fornecedores”, disse Bruno Costa Pereira.
Esse cariz familiar da gestão, acrescentou o especialista, que é sócio da R4B, significa que estes empresários têm tudo na empresa. “Têm na empresa o seu património, as casas, os carros. Assumir que há um problema é pôr em causa todo o seu projeto de vida”, salientou.
Bruno Costa Pereira sublinhou que, da sua experiência, consegue perceber que a gestão das empresas por parte de famílias por vezes “impede a capacidade de tomar decisões no momento certo”. “Quando chego procuro encontrar os principais problemas e a primeira coisa que se procura fazer é um equilíbrio entre as estrutura de custos e de receita. É básico. Na maior parte dos casos, o principal factor de custos é laboral. E assim é preciso redimensionar a empresa, para a poder tornar atrativa”. Esse momento é crucial para os gestores.
“Quando há um momento de fraqueza, há muita dificuldade em assumir que falharam. Muitas vezes as famílias em casa não sabem que existe um problema. E quando se torna incontornável, a empresa já nos chega num estado de degradação enorme”. O que faz com que a solução final seja depois do que a que tomaria precocemente.
A incapacidade dos gestores de assumir decisões difíceis tem um outro lado, salientou Bruno Costa Pereira.
“Os gestores até podem não atuar quando os primeiros sinais surgem, mas os principais ativos da empresa vão fazê-lo. Os principais ativos da empresa – os trabalhadores, os mais bem preparados são os primeiros a sair. E os clientes, pressentindo problemas, procuram alternativas. Aquela degradação vai sendo percepcionada e depois… A empresa pode ter as melhores máquinas do mundo, os melhores trabalhadores, mas se não tem clientes…”, alertou.
Ou seja, o gestor pode não fazer nada, “mas quem está a trabalhar connosco, os nossos clientes, está a fazer”. “Estão a procurar alternativas. Sem eles depois só ficam os custos, não há receitas”, concluiu.
Bruno Costa Pereira participou num painel de debate juntamente com Alexandra Valente, sócia do escritório de advogados SRS, Martin Avillez Figueiredo, fundador e sénior partner da Core Capital, Nuno Nogueira da Silva, managing director da Alvarez&Marsal e Rogério Fernandes Ferreira, managing partner da RFF Advogados.
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