[weglot_switcher]

PS consegue aprovar descida do IRS até ao 6º escalão. Escalões mais elevados sem corte de taxa

PS consegue aprovar descida do IRS até ao 6º escalão enquanto os partidos que suportam o Governo queriam ir até 8º patamar de rendimentos (salários entre 3.100 e 6.000 euros brutos). Cai assim a redução do IRS para escalões mais elevados que PSD e AD pretendiam abranger para aliviar a classe média.
5 Junho 2024, 11h27

O PS conseguiu aprovar o seu projeto de redução do IRS contra a vontade do Governo, deixando de fora a redução das taxas do 7º e 8º escalões (salários entre 3.100 e 6.000 euros brutos), prevista na proposta dos partidos que suportam o Governo para a redução do IRS, que foi rejeitada pelos partidos de esquerda com abstenção do Chega. Os socialistas viram assim esta quarta-feira aprovada a sua proposta de redução intercalar do IRS. A nova tabela mereceu os votos contra do PSD e CDS, a abstenção do Chega e o voto favorável dos restantes partidos de esquerda.

A proposta dos socialistas contou com o apoio dos partidos de esquerda e a abstenção do Chega após o PS, BE, PCP e Livre terem rejeitado a redução de IRS proposto pelos partidos que suportam o Governo (a primeira que foi a votação) durante a reunião da Comissão parlamentar de Orçamento, Finanças e Administração Pública (COFAP). Em causa está a votação na especialidade do texto da AD de substituição à proposta de redução de taxas inicialmente enviada ao parlamento pelo Governo

O deputado social-democrata, Hugo Carneiro acusa o Chega de não querer na verdade negociar, e reitera o que já tinha avançado ao JE nesta terça-feira que “é falso” que o PSD não quis negociar com o Chega, tal como sinalizou o partido de André Ventura. “Eu próprio tentei negociar e o Chega rejeitou qualquer conversa sobre esta matérias”, reiterou hoje Hugo Carneiro.

Já a proposta da AD de atualização dos escalões de IRS à inflação e produtividade, de 2025 em diante, teve luz verde dos deputados.

O braço de ferro entre AD e PS está na abrangência do alívio fiscal, após os partidos que suportam o Governo se terem aproximado aos socialistas e ao Chega com maiores reduções nos escalões mais baixos, mas não abdicaram da redução intercalar do IRS nos escalões mais elevados.

Após o PS ter forçado o adiamento da discussão de descida de IRS no Parlamento, com objetivo de dar oportunidade à negociação parlamentar e chegar acordo, o PSD traçou as linhas vermelhas para a proposta dos partidos que suportam o Executivo: baixar o imposto que recai sobre as famílias até ao 8º escalão e não ser introduzida nenhuma nova taxa superior a 50%, como o PS sugeriu com a criação de um 10.º escalão com uma taxa nominal de 53%, para rendimentos acima dos 250 mil euros, indo ao encontro das pretensões do Partido Comunista que pretendia taxar a 56% os rendimentos mais elevados. E uma taxa de 50,5% para rendimentos acima de 80 mil euros.

Mas o PS acabou por deixar cair a proposta do PCP de transformação do Adicional de Solidariedade num novo e 10º escalão permanente, com uma taxa que iria até 53% sobre o rendimento coletável.

O projeto do PS prevê ainda uma alteração nos tetos dos 7º, 8º e 9º patamares de tributação para corrigir uma alteração introduzida pelo OE2024 e que iria fazer com que os trabalhadores do penúltimo escalão pagassem mais 2,5% de imposto, o correspondente ao Adicional de Solidariedade, além das taxas normais do IRS.

O PS acompanhou, porém, a direita no chumbo às propostas do Bloco de Esquerda e do PCP de alteração do IRS que foram chumbadas na COFAP, tendo ficado pelo caminho ficou a proposta de aumento das deduções específicas para 4.686 euros (caso do BE) ou 5.204 euros  (caso do PCP) e a recuperação da possibilidade de se deduzirem os juros do crédito à habitação no IRS.

Os ajustes feitos pela AD

A nova proposta dos partidos que suportam o Governo no Parlamento para redução do IRS igualou o do PS e do Chega para as taxas do 3º e 4º escalões com taxas de 22% e 25% respetivamente (menos 0,5 pontos percentuais em cada escalão face à proposta inicial do Governo) mas não abdica de descida nos rendimentos mais altos, rejeitada pelos socialistas.

Sem consenso parlamentar na proposta do Governo para baixar o IRS – que assegura um alívio adicional do IRS de 348 milhões de euros face ao corte de 1.191 milhões previsto no OE2024 -, os sociais-democratas decidiram ajustar a medida para a aproximar dos moldes avançados pelo PS, cuja proposta foi aprovada a 24 de abril na generalidade com a abstenção do Chega.

A nova proposta do PSD, mais aproximada da do PS e do Chega, aumentou assim o rendimento líquido dos salários entre o 3º e 4º escalões, reduzindo o benefício dos escalões superiores. Indo também ao encontro do PS, no 6º escalão, para retribuições entre 27.146 e 39.791 euros brutos anuais, os partidos que suportam o Governo fizeram uma redução menor para acomodar a margem orçamental, mas ficando ainda a taxa do imposto ligeiramente abaixo do pretendido pelos socialistas: em vez de baixar 3 p.p., de 37% para 34%, ajustaram parar uma redução menor, de apenas 1 p.p., para 35%, contra os 35,5% propostos pelo PS, reduzindo em 0,5 pp a sua proposta inicial de 36% também numa tentativa de se aproximar do PSD.

Após várias propostas apresentadas pelo PS e pelo PSD e CDS, as diferenças entre as diferenças resumiram-se praticamente ao 7º e ao 8º escalão (salários entre 3.100 e 6.000 euros brutos) com uma diferença de meio ponto percentual no patamar de rendimentos brutos entre 39.791 e 51.997 euros, onde o PS propõe uma taxa de IRS de 43,5%, contra 43% proposto pelos sociais-democratas. E de 0,25 p.p. no intervalo de retribuições entre 51.997 e 81.199 euros do 8º escalão com o PS a propor aqui uma taxa de 45%, contra 44,75% propostos pelo PSD.

Já no 2º escalão de rendimentos, o PS propõe uma taxa de 16,5%, contra os 17,5% propostos pelo PSD.

O que previa o projeto do Chega

O projeto do Chega, por seu lado, propõe uma redução mais substancial das taxas do imposto até ao 8º escalão – deixando apenas inalterada a do 9º, que corresponde ao escalão de rendimento mais elevado, enquanto o da IL propõe o aumento a dedução específica, a redução das taxas do imposto (considerando apenas dois patamares) e fixa o mínimo de existência no valor equivalente a 14 salários mínimos nacionais ao valor atual (820 euros).

Na sua proposta, o Chega propõe uma taxa de 17% para o 2º escalão e nos 7º e 8º propõe 42,5% e 44,5%, descidas ligeiramente superiores face às que o PSD defende.

Na tentativa de consensualizar propostas, o PSD assegurou que irá também incluir a atualização automática dos escalões do IRS a partir de 2025, tal como o pretendido pelos socialistas e também vão ao encontro do PS e do Chega na atualização do mínimo de existência. Foram ainda sinalizadas duas normas programáticas para que no Orçamento do Estado para 2025 o Governo possa avaliar o alargamento da dedução dos juros do crédito à habitação de contratos após 2011 no IRS (atualmente só se aplica no caso de créditos contraídos até 2011), tal como pretendido pelo Bloco, e uma revisão do valor das deduções específicas das categorias A e H, reclamada pelo PCP.

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.