O presidente eleito do Conselho Europeu, António Costa, foi hoje recebido pela primeira-ministra de Itália, Giorgia Meloni, a única líder europeia que votou contra a sua nomeação, numa reunião para “avaliar perspetivas e prioridades”.
O encontro entre o ex-primeiro-ministro português e a chefe do Governo italiano também está a ser encarado como uma iniciativa para quebrar o gelo entre Roma e Bruxelas.
“Foi uma reunião de trabalho muito boa. Para mim, é importante agora avaliar quais são as perspetivas e prioridades dos vários Estados-membros e, uma vez que a Itália é um país fundador da União Europeia (UE), é importante conhecer e tomar nota das prioridades da primeira-ministra Meloni”, disse Costa em Roma, numa curta declaração à imprensa à saída do Palácio Chigi, sede do Governo italiano.
No final do encontro, que durou cerca de uma hora, o Palácio Chigi emitiu uma nota de imprensa a dar conta da reunião, sublinhando que o presidente eleito do Conselho Europeu “escolheu Roma como primeira escala no seu périplo pelas capitais europeias”.
De acordo com o gabinete da primeira-ministra, Meloni “reiterou os seus votos de felicidades e bom trabalho” a António Costa e “manifestou o seu apreço pela intenção” do ex-primeiro-ministro português de “assegurar uma liderança partilhada e pragmática do Conselho Europeu”.
Ainda segundo o Palácio Chigi, “no centro das conversações estiveram as prioridades da ação da UE para o próximo ciclo institucional, a começar pelos principais cenários de crise a nível internacional e pelas questões da competitividade e da gestão dos fluxos migratórios”.
“Simultaneamente, foram discutidos os métodos de trabalho do Conselho Europeu, com o objetivo de reforçar o seu papel e a sua eficácia”, completou a nota do gabinete de Meloni.
Realizada apenas quatro dias depois da reeleição de Ursula von der Leyen como presidente da Comissão Europeia para um novo mandato de cinco anos (2024-2029) – que mereceu o voto contra da delegação ao Parlamento Europeu dos Irmãos de Itália (‘Fratelli d’Italia’), o partido pós-fascista liderado por Meloni -, esta reunião “inesperada” mereceu destaque na imprensa italiana, segundo a qual o principal objetivo foi “criar as condições para um primeiro ‘degelo’ entre Roma e Bruxelas”.
Lembrando que Meloni foi a única líder dos 27 Estados-membros a votar contra as escolhas para os cargos de topo da UE no Conselho Europeu celebrado a 27 de junho em Bruxelas – no qual foram escolhidos Von der Leyen (Comissão), Costa (Conselho) e a primeira-ministra da Estónia (entretanto demissionária) Kaja Kallas (Alta Representante da UE para a Política Externa) para o novo ciclo institucional -, a imprensa italiana notou também que o encontro constituiu uma oportunidade para a primeira-ministra “afastar o risco de isolamento de um governo que votou contra os três mais altos cargos da UE”.
Depois do voto de Meloni contra as escolhas do Conselho Europeu – reforçado com o voto da delegação do seu partido contra a reeleição de Von der Leyen na semana passada, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França –, a primeira-ministra italiana justificou a sua oposição por discordar do “método e substância” do processo, isto depois de se ter sentido excluída das grandes decisões na sequência das eleições europeias do mês passado.
Na altura, António Costa disse compreender a posição política de Meloni e garantiu que pretendia colaborar com “enorme proximidade” com a primeira-ministra italiana, e a sua deslocação de hoje a Roma enquadra-se nesse esforço para aproximar posições.
“O Conselho [Europeu] não é propriamente uma agremiação de tecnocratas, mas de políticos, todos têm as suas famílias políticas, orientações e votam também, manifestam-se, de acordo com essas preferências. Compreendo perfeitamente o voto da primeira-ministra de Itália, com quem conto colaborar com enorme proximidade”, disse a 28 de junho o ex-primeiro-ministro, em declarações aos jornalistas portugueses, na sede do Partido Socialista Europeu (PES), em Bruxelas.
António Costa deverá assumir o cargo de presidente do Conselho Europeu em dezembro próximo, sucedendo ao belga Charles Michel.
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