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“Pessoas que menstruam”? Nova campanha da DGS gera polémica

O termo “pessoas que menstruam” em vez de “mulheres” está a gerar alguma consternação junto das bancadas parlamentares, com o PSD a pedir justificações à tutela. ‘Polémica’ chegou ao outro lado do Atlântico e redes sociais dividem-se entre críticas e justificações.
25 Julho 2024, 21h46

O Partido Social Democrata (PSD) não está satisfeito com a nova campanha da Direção-Geral da Saúde (DGS) que aborda o tema da menstruação. Nesta campanha, a entidade liderada por Rita Sá Machado utiliza a expressão “pessoas que menstruam” em vez do termo “mulheres”.

A DGS lançou este mês um questionário online intitulado “Vamos falar de menstruação”, de forma a realizar um diagnóstico sobre o tema da saúde menstrual em território nacional. Neste questionário, a entidade convida “à participação de todas as pessoas que menstruam”, frase de que o PSD não gostou.

Por conta desta frase, o grupo parlamentar do PSD pediu à ministra da Saúde para esclarecer se autorizou a mais recente campanha que quer respostas sobre o tema junto da população portuguesa. A bancada entende que ao fugir à palavra “mulheres” para falar da menstruação motiva “forte contestação e polémica junto da sociedade civil”.

“Sucede que a mudança de linguagem deriva da ideologia defendida por alguns e não da ciência. Parece-me que uma entidade como a DGS, pelos seus propósitos e razão de existência, deveria ser a primeira entidade a usar a ciência como base para a sua atuação”, refere a pergunta assinada pelo deputado Bruno Vitorino.

O que é “uma pessoa que menstrua”?

Numa publicação na rede social Instagram, a psicóloga e sexóloga Tânia Graça explicou este tema “polémico”. De forma simples, Tânia Graça lembra que existem questões de género e questões biológicas em causa neste tema.

“Quando uma criança nasce olha-se para os seus genitais. Se tem uma vulva é menina, se tem pénis é menino”, explica a sexóloga. “Há medida que a criança cresce, ela vai perceber qual a sua identidade de género, aquele com que se identifica e que poderá ser igual ou diferente do seu género biológico.

Abordando quando as pessoas se identificam de forma diferente ao género de nascimento, Tânia Graça explica que uma pessoa que nasce com vulva e se identifica como homem é “chamado de homem trans” e quando a situação é inversa (nasce homem e se identifica como mulher) é “mulher trans”.

“Sendo uma pessoa que nasceu com um sistema reprodutor feminino, com ovários e útero, mas que se identifica como homem e, portanto é homem trans, eventualmente poderá menstruar. E não é uma mulher, é uma pessoa que menstrua”, adianta a também psicóloga.

Tânia Graça lembra, no seu vídeo, que a identidade de género “não é algo que se ensine ou que se aprenda”. “Eu não passo a ser uma pessoa trans só porque sei que existem ou que vi, e que também não é uma doença mental como já foi esclarecido pela psicologia e psiquiatria”.

Concentrando nas palavras do grupo parlamentar, que apontou que o termo é derivado da “ideologia” e não da “ciência”, a psicóloga defende: “isto é científico”, sustentando tratar-se do corpo humano, e que não se tratar de crenças “ideológicas” como acredita o PSD.

Num artigo de opinião assinado no “Expresso”, datado de setembro de 2023, a ilustradora e ativista Clara Não antecipou-se ao caos gerado por um questionário, sendo que já tinha recebido várias mensagens sobre o tópico em questão.

“Este artigo é uma resposta às mensagens que recebo cada vez mais, a dizer que usar expressões como ‘pessoas com útero’, ou ‘pessoas que menstruam’, anula as mulheres. Espero clarificar este assunto”, escreve na introdução.

“Nem todas as mulheres menstruam e nem toda a gente que menstrua é mulher. Esta frase não é uma opinião, é a realidade, que comporta em si várias camadas”, adianta a autora. “Na gravidez e na menopausa, as mulheres (cis) não menstruam e continuam a ser mulheres. Além disso, há mulheres (cis) adultas com diversas condições médicas que as fazem não ter período, como por exemplo, estarem com amenorreia, ou terem feito histerectomia”, toma como exemplos.

“Polémica” chega ao Brasil

O jornal “O Globo” aborda a situação da campanha da DGS e diz que o tema “gera polémica”.

A publicação socorre-se das palavras do PSD e da pergunta lançada ao Ministério da Saúde. Com o título “Ministério da Saúde de Portugal usa termo ‘pessoas que menstruam’ em campanha e gera polémica”, a publicação brasileira lembra que o PSD “defende o ‘capitalismo democrático'” e que o partido questionou a tutela sobre o facto de em momento algum surgir a palavra “mulheres” no questionário.

“O público-alvo, segundo a DGS, não inclui apenas mulheres, mas todos que menstruam, como pessoas trans, ou que não se reconhecem no gênero feminino. O órgão ‘convida a participação de todas as pessoas que menstruam'”, escreve o jornal.

Lembra “O Globo” que o PSD, pela escrita do deputado Bruno Vitorino, quer saber qual a legislação ou decisão do órgão de soberania que permitiu “a aprovação da mudança de linguagem” a ser usada.

Críticas nas redes sociais

Ainda há muito tabu em relação ao tema da menstruação, sendo que nenhuma parte desta afirmação é segredo.

Na rede social X as críticas foram rápidas a chegar à publicação do questionário. “Sempre a rebaixar as mulheres”, diz um internauta, enquanto outro faz uma “correção: mulheres”.

“Pessoas que menstruam=mulheres. Pronto corrigir por vocês, de nada”, lê-se noutro comentário à publicação. “Pessoas que menstruam? Têm assim tanta alergia a dizer a palavra mulheres?”, questiona outro internauta.

“Um organismo público devia ser proibido de algumas coisas, e este é um exemplo disso… Não são apenas pessoas, são mesmo as mulheres” Não as diminuam ao meterem mulheres em igualdade com malta ‘mascarada’ de mulheres”, atira outro comentário.

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