[weglot_switcher]

Israel volta a mandar evacuar Khan Younis depois de ataque a escola que matou mais de 100 pessoas

As forças israelitas avançam com a ofensiva, apesar da condenação internacional a novo ataque a uma escola que matou mais de 100 pessoas, a maioria crianças e mulheres. Internamente, Netanyahu continua a minar as instituições, ao centralizar a nomeação do responsável pela administração pública, contrariando assim a procuradora-geral.
Israel
Ronen Zvulun /Reuters
12 Agosto 2024, 07h30

Apesar das condenações após novo ataque israelita a uma escola, desta feita na cidade de Gaza, as forças de Telavive avançaram, este fim-de-semana, com nova ordem de evacuação para Khan Younis, cidade mais a sul e para onde milhares de palestinianos se refugiaram e evacuaram repetidas vezes nos últimos dez meses. Internamente, Netanyahu continua a desafiar as instituições, ao colocar sobre isso a responsabilidade de nomear o responsável pela função pública, contrariando a procuradora-geral, que pedia um comité para a sua seleção.

Após mais um bombardeamento a uma escola que abrigava refugiados palestinianos e que matou mais de 100 pessoas, deixando as forças civis a falar de um massacre com a maioria dos corpos seriamente mutilados, as reações condenatórias da comunidade internacional não se fizeram esperar, incluindo dos parceiros israelitas ocidentais. O chefe de diplomacia da UE, Josep Borrell, disse estar “horripilado” pelas imagens de mulheres e crianças dilacerados de madrugada, quando se preparavam para a primeira oração do dia, e até os EUA se manifestaram “profundamente consternados” com o ataque.

As forças israelitas justificaram o bombardeamento com a presença de operacionais do Hamas no local, apontando 19 nomes da lista das vítimas sem dar mais detalhes. O movimento palestiniano nega veementemente as acusações, com o Monitor Euro-Mediterrânico dos Direitos Humanos, uma organização não-governamental com extenso trabalho feito nos Territórios Ocupados, a corroborar a versão palestiniana.

Ramy Abdu, presidente do Monitor Euro-Mediterrânico, revela mesmo que três dos nomes avançados foram mortos em ataques israelitas anteriores. Esses três eram idosos sem ligações militares (um diretor de escola, um funcionário autárquico e um professor universitário) e os outros seis eram civis, alguns deles com um historial de oposição ao Hamas.

A ONU, por sua vez, voltou a pedir o fim da violência no Médio Oriente, através do seu coordenador para o processo de paz na região, Tor Wennesland. Na semana anterior, o observatório para os direitos humanos havia sublinhado o horror com o “padrão israelita de ataques a escolas”, sublinhando que, só no mês passado, 17 escolas haviam sido atacadas, matando pelo menos 163 palestinianos.

Enquanto os esforços diplomáticos americanos, egípcios e qataris tentam pressionar ambas as partes a voltarem à mesa negocial com um desfecho positivo – com o Haaretz a citar fontes israelitas, afirmando que o novo líder político do Hamas, Yahya Sinwar, quer mesmo chegar a acordo, com a incerteza agora a recair sobre a vontade de Netanyahu –, o primeiro-ministro continua a navegar na pressão interna de várias fações.

Por um lado, os ultraconservadores e ultranacionalistas e Bezalel Smotrcih, ministro das Finanças, e Itamar Ben-Gvir, ministro da Segurança Interna, tentam minar qualquer acordo pelos reféns, acusando Netanyahu de se render aos Hamas. Entre a população, também há uma clara divisão entre quem considera que o Governo está a ser fraco, como fica bem patente no debate interno sobre a legalidade das violações por soldados israelitas a detidos palestinianos, e há quem continue a apelar a um acordo que permita a libertação dos reféns que ainda sobreviverão em Gaza.

Ainda assim, uma sondagem, divulgada esta sexta-feira, mostra o Likud, partido de Netanyahu, na frente, caso houvesse legislativas em Israel, a primeira vez que tal acontece desde 7 de outubro.

Por outro, tem havido contestação a mais uma tentativa do primeiro-ministro de centralizar o poder, desta feita na nomeação do comissário dos funcionários públicos.

A posição, que basicamente supervisiona a administração pública israelita, ficará livre em breve, dado o final do mandato do atual responsável, Daniel Hershkowitz, no próximo mês. O processo de nomeação não está formalmente inscrito na lei, pelo que a procuradora-geral, Gali Baharav-Miara, recomendou a constituição de um comité independente e com competências técnicas para supervisionar a seleção – mas Netanyahu tinha outras ideias.

O governo aprovou este domingo uma resolução que permitirá ao chefe do Executivo nomear unilateralmente o comissário, gerando acusações da procuradora-geral de que tal mina a posição e a sua capacidade de fazer um trabalho apolítico e não-partidário. Este é a mais recente tentativa de contornar as instituições democráticas de Netanyahu, que se debate com uma acusação interna de corrupção e fraude, além das acusações do Tribunal Penal Internacional de crimes de guerra e genocídio.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.