Depois das dificuldades por que a Grécia passou – as mesmas que Portugal depois da crise de 2008 mas multiplicado, o país está atualmente no topo da lista do crescimento económico, da redução da dívida pública e do desemprego e, além disso, tornou-se uma das economias mais elogiadas pelos analistas. Embora muitos dos indicadores continuem preocupantes, a situação é muito diferente do que sucedia há uma década. A economia grega está em uma boa posição para alcançar um crescimento acimada zona euro.
Assim, o PIB da Grécia cresceu 2% em 2023 e 0,7% no primeiro trimestre de 2024, impulsionado pelo consumo privado e pelo investimento. As pressões inflacionistas atenuaram e alimentaram ganhos de poder de compra que, com o aumento do emprego, sustentam o consumo privado, cujo peso no PIB atingiu um novo recorde no primeiro trimestre deste ano (76,9%). O emprego subiu em abril para 4,3 milhões pela primeira vez desde setembro de 2009, e a taxa de desemprego caiu para 10,8%. Além disso, a Comissão Europeia espera que a economia da Grécia acelere em 2024 e 2025. Mesmo assim, os mais conservadores colocam a hipótese de um crescimento patrocinado pelo consumo interno não ser exatamente um exemplo de consolidação.
De qualquer modo, e segundo uma reportagem do “El Economista”, a recuperação das contas públicas em 2023 oferece margens orçamentais ao governo de centro-direita, cujo principal objetivo continua a ser reduzir a dívida do país. O governo do atual primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis (da Nova Democracia), que voltou a ganhar as eleições gerais de 2023, estabeleceu a meta de gerar um excedente primário de 2,1% do PIB em 2024 e 2025, o que parece alcançável dados os bons resultados registados em 2023. Do mesmo modo, o rácio da dívida pública diminuiu nove pontos do PIB para 159% no primeiro trimestre de 2024 e deverá voltar a diminuir significativamente nos próximos trimestres (ultrapassou os 200% do PIB em 2021). A comparação entre as taxas dos títulos gregos e o bund alemão, apesar da volatilidade do mercado após as eleições europeias e a dissolução da Assembleia Nacional na França, é uma indicação clara de que o prémio de risco associado aos títulos do governo grego diminuiu.
Tudo isto acontece depois de, entre 2008 e 2015, a Grécia ter passado por uma das piores crises económicas da sua história moderna: uma recessão que colocou o euro em xeque e desencadeou uma onda de problemas socioeconómicos que em algumas ocasiões chegaram a parece a antecâmara de uma guerra civil. A crise teve origem num alarmante aumento desproporcionado da dívida pública, situação que revelou a insustentabilidade das finanças gregas e provocou a perda de confiança dos mercados internacionais. Nada que Portugal não tenha sentido na pele, na mesma altura e pelos mesmos motivos. As causas do desastre foram múltiplas: da dependência excessiva da dívida externa à falta de competitividade da economia grega, incluindo a evasão fiscal generalizada e a corrupção.
Diante da pressão internacional, o governo grego solicitou um resgate financeiro à União Europeia e ao FMI em 2010, que totalizou mais de 240 mil milhões de euros. Foi acompanhado por severas medidas de austeridade que incluíram cortes salariais, aumentos de impostos e uma profunda reforma do sector público. O impacto económico e social dessas políticas foi devastador. Entre 2008 e 2013, o PIB grego contraiu mais de 25%, o desemprego disparou, atingindo um pico de 27,5% em 2013, com taxas de desemprego juvenil acima de 60%. A pobreza e a desigualdade pioraram significativamente, afetando grande parte da população. Os que sobreviveram têm agora a recompensa – mas a reportagem do jornal tem este lado perverso: parece querer indicar que todos os sacrifícios valem a pena – tal, aliás, como já tinha feito numa reportagem sobre Portugal. De algum modo, isto serve para indultar os planos do FMI – e ainda não está provado que esse fosse o melhor caminho. Até o FMI, recorde-se, tem suavizado a sua forma de intervir em economias em dificuldade.
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