Taiwan quer “continuar a ser uma democracia” e não ser “governada pelo Partido Comunista Chinês”, afirmou hoje o líder do território, William Lai, durante uma visita a Kinmen, arquipélago controlado por Taiwan ao largo da costa da China.
“O nosso objetivo é conseguir um desenvolvimento pacífico das relações no Estreito de Taiwan. Taiwan é um país amante da paz e o seu povo é bondoso”, afirmou Lai no 66.º aniversário do início do bombardeamento maciço de Kinmen pela China continental.
“Não tentaremos reconquistar a China continental, mas também não queremos ser governados pelo Partido Comunista. Taiwan quer continuar a viver uma vida de democracia, liberdade, direitos humanos e Estado de direito”, acrescentou.
Lai, considerado “um independentista” pelas autoridades de Pequim, deslocou-se a Kinmen acompanhado pelo seu ministro da Defesa, Wellington Koo, e por oficiais superiores do Exército taiwanês, que participaram numa cerimónia de colocação de coroas de flores em honra dos mortos no conflito de 1958.
Durante um almoço com oficiais, soldados e familiares de veteranos dessa batalha, Lai apelou à “determinação” para proteger Taiwan e os arquipélagos periféricos de Kinmen, Matsu e Penghu da “ameaça da China, que não é menor do que nos anos anteriores”.
O líder insular insistiu que a China “tem um objetivo ainda mais profundo ao tentar apoderar-se de Taiwan”, que é “alterar a ordem internacional baseada em regras, não só no Pacífico Ocidental, mas em todo o mundo”.
“Quando ocorreu o atentado de 23 de agosto, eu ainda não era nascido e o Partido Democrático Progressista (DPP) [no poder em Taiwan] ainda não tinha sido fundado. Isto mostra claramente que a tentativa da China de conquistar Taiwan não se deve ao que diz uma pessoa ou um partido político de Taiwan”, afirmou Lai.
“Os oficiais e soldados que participaram na batalha não fizeram distinção entre leste, oeste, sul ou norte, ou entre etnias; militares e civis lutaram juntos. No futuro, se quisermos resistir à ameaça da China, temos de estar unidos”, apontou.
As ilhas Kinmen, situadas a poucos quilómetros da cidade chinesa de Xiamen, no sudeste do país, e a 180 quilómetros da ilha principal de Taiwan, têm sido uma das principais fontes de tensão entre Taipé e Pequim desde o fim da guerra civil chinesa, em 1949.
O auge desta fricção ocorreu em 23 de agosto de 1958, quando o Exército comunista lançou um bombardeamento maciço sobre Kinmen e algumas ilhas do arquipélago de Matsu, no que ficou conhecido como a Segunda Crise do Estreito de Taiwan.
O conflito, que foi o último confronto militar em grande escala entre a China e Taiwan, causou centenas de mortos e foi seguido de bombardeamentos esporádicos entre as duas partes até 1979, altura em que os Estados Unidos romperam as relações diplomáticas com Taipé para as estabelecerem com Pequim.
No entanto, a tensão em torno de Kinmen não desapareceu: em 14 de fevereiro, um barco da China entrou ilegalmente nas águas do arquipélago e dois dos seus quatro tripulantes morreram após uma perseguição pela Guarda Costeira de Taiwan, o que levou a um aumento das patrulhas da Guarda Costeira chinesa na zona.
O Governo taiwanês propôs na quinta-feira aumentar o orçamento de defesa para um “máximo histórico” de 647 mil milhões de dólares taiwaneses (mais de 18 mil milhões de euros) até 2025, o que representará cerca de 2,45% do produto interno bruto (PIB) do próximo ano, para conter as crescentes ameaças militares da China, que considera a ilha uma província sua, a ser reunificada pela força, caso seja necessário.
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