O presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque, afirmou hoje que não fará mudanças no executivo com base nas críticas à gestão do combate ao incêndio e assegurou que o secretário que tutela a Proteção Civil vai manter-se no cargo.
“[Demitir] o Pedro Ramos? Era o que faltava!”, disse aos jornalistas, reiterando que as decisões tomadas durante o combate ao fogo, que deflagrou a 14 de agosto e hoje está em fase de rescaldo, foram “corretas”.
Miguel Albuquerque falava à margem da sessão solene comemorativa do dia do concelho de São Vicente, na costa norte da ilha, onde assegurou que o secretário regional da Saúde e Proteção Civil vai manter-se no cargo.
“O PSD é um governo minoritário, por isso mesmo é que algumas forças políticas estavam à espera que isto corresse mal, que era para deitar o Governo abaixo”, afirmou, para logo realçar: “O que está em questão não é o incêndio, o que está em questão é a ambição de certas criaturas pelo poder.”
Questionado sobre críticas feitas também por elementos do partido, Albuquerque respondeu que nunca os viu a enfrentar um incêndio.
Já em relação ao CDS-PP, partido que assinou um acordo de incidência parlamentar com o PSD e hoje indicou que vai propor a criação de uma comissão independente para avaliar a gestão do combate ao incêndio, o governante disse não haver problema, mas não esclareceu se a iniciativa terá apoio dos sociais-democratas no parlamento.
“Não tem nenhum problema, acho que podem averiguar o que quiserem”, afirmou, para logo acrescentar: “As decisões que foram tomadas, como eu já disse foram decisões em função daquilo que é a experiência da Proteção Civil, aquilo que são os ditames técnicos de ataque a um incêndio desta natureza, portanto, não tem nenhum problema.”
Miguel Albuquerque admite, no entanto, a possibilidade de o Governo regional cair por falta de apoio na Assembleia Legislativa da Madeira, onde conta com 19 deputados num total de 47 que compõem o hemiciclo.
“Nós somos um Governo minoritário que depende do apoio parlamentar, esse apoio parlamentar depende do apoio político de um conjunto de forças. Portanto, neste momento, uma das forças políticas, se nos retirar o apoio e apresentar uma moção de censura, o Governo cai”, explicou.
O governante insiste, no entanto, que o combate ao incêndio e a gestão das operações devem ser avaliada em função dos resultados.
“Isto não é uma questão política, isto é uma questão de salvaguarda das pessoas, da integridade física, das vidas humanas, das habitações, das infraestruturas públicas e do património natural e os resultados estão à vista”, disse, reiterando não haver feridos, nem casas destruídas, nem infraestruturas públicas essenciais danificadas.
Em relação às suas férias no Porto Santo durante o incêndio, considerou ser tudo “conversa fiada”, vincando ter acompanhado a situação “desde a primeira hora”.
“Isso é apenas tentar aproveitar situações de gravidade e complexidade, que gera de facto uma emoção, as pessoas ficam preocupadas, aproveitar essa situação para tirar dividendos políticos”, considerou.
Miguel Albuquerque agradeceu às famílias dos residentes nas áreas afetadas pelo fogo a “compreensão pelos incómodos”, sublinhando que o seu dever “está cumprido”.
“A minha obrigação enquanto presidente do Governo é, numa situação destas, acompanhar a situação e fazer todo o possível para salvaguardar aqueles que são os valores essenciais de uma sociedade civilizada”, vincou.
O chefe do executivo madeirense disse, por outro lado, que o incêndio está hoje dominado e que os meios estão a ser desmobilizados, sendo que os dois avições Canadair da Força Aérea de Espanha, disponibilizados através do Mecanismo Europeu de Proteção Civil, deixam a ilha esta tarde.
O incêndio rural na ilha da Madeira deflagrou a 14 de agosto nas serras do município da Ribeira Brava, propagando-se progressivamente aos concelhos de Câmara de Lobos, Ponta do Sol e Santana. Hoje de manhã, ao 11.º dia, a Proteção Civil regional indicou que o fogo está controlado e que os operacionais se mantêm no terreno em operações de rescaldo, controlando alguns pontos quentes.
Nestes dias as autoridades deram indicação a perto de 200 pessoas para saírem das suas habitações por precaução e disponibilizaram equipamentos públicos de acolhimento, mas muitos moradores foram regressando a casa.
O combate às chamas foi dificultado pelo vento e pelas temperaturas elevadas, mas, segundo o Governo Regional, não há registo de feridos ou da destruição de casas e infraestruturas públicas essenciais, embora algumas pequenas produções agrícolas tenham sido atingidas, além de áreas florestais.
Dados do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais apontam para mais de 5.045 hectares de área ardida.
A Polícia Judiciária está a investigar as causas do incêndio, mas o presidente do executivo madeirense, Miguel Albuquerque, disse tratar-se de fogo posto.
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