A derrota dos partidos da coligação de governo na Alemanha nas eleições regionais expuseram as dificuldades de travar a escalada da extrema-direita, aumentando a incerteza nas federais de 2025 para o chanceler Olaf Scholz, segundo analistas ouvidos pela Lusa.
Após a subida do partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD, na sigla em alemão) nas eleições regionais do fim de semana passado no leste do país – uma inédita vitória no estado federado da Turíngia, com mais de 32%, e um segundo lugar na Saxónia com 30,6% dos votos – Scholz mostrou-se preocupado, avaliação que politólogo Eric Linhart compreende e com a qual concorda.
“O chanceler tem, sem dúvida, razão ao afirmar que as eleições na Turíngia e na Saxónia foram amargas para os partidos da sua coligação. Muitos observadores já consideravam que as hipóteses de Scholz manter a sua posição não eram muito elevadas. Estas eleições estaduais não melhoraram definitivamente essas hipóteses”, defendeu.
Mas “muita coisa pode acontecer num ano”, realça o professor de Ciências Políticas da Universidade Técnica de Chemnitz, acrescentando que, em política, não existe uma “prova definitiva”.
Ainda este mês, no dia 22, o estado de Brandemburgo, o quinto maior da Alemanha, vai a votos. A última sondagem, realizada no início do mês de agosto pelo instituto INSA, mostra uma vitória da AfD com 24%.
“As eleições na Alemanha de Leste seguem padrões diferentes dos da Alemanha Ocidental. Para além disso, vivem lá muito menos pessoas do que no Ocidente”, adianta o politólogo Benjamin Höhne, realçando que, por isso, não é para já claro o futuro do chanceler Olaf Scholz e do SPD.
Além do SPD, os outros dois partidos que pertencem à coligação “semáforo” – os Verdes, e os Liberais – tiveram os seus piores resultados de sempre numas eleições regionais.
“Os Verdes e o FDP foram considerados, desde o início, como importações ocidentais no Leste. Têm apenas alguns membros e uma base eleitoral reduzida. O amplo e diversificado (…) movimento em que os Verdes estavam ancorados na antiga República Federal nunca existiu no Leste”, explicou o coordenador da Universidade Otto von Guericke de Magdeburgo para a “Rede Universitária EU GREEN”.
Para Höhne, o populismo de direita está a “pôr em causa a democracia” e os partidos ditos “mainstream” não têm outra alternativa senão “manter o cordão sanitário” contra o AfD.
“O AfD tem um problema com a diversidade dos partidos e dos seus pontos de vista. Afirma-se como a única voz verdadeira do ‘povo’. Basicamente, nega aos seus opositores políticos o direito de existirem. Isto é muito problemático para a nossa democracia partidária. Ao mesmo tempo, há que dizer que o populismo é parte integrante da democracia atual. É o lado negro da democracia. No confronto com o populismo de direita, a questão principal é, por conseguinte, a forma como este pode ser reduzido ao mínimo”, apontou.
Pela primeira vez desde o final da II Guerra Mundial, um partido de extrema-direita conseguiu ser o mais votado numas eleições regionais na Alemanha, atingindo o maior número de mandatos no parlamento da Turíngia.
“Os partidos estabelecidos têm vindo a registar a ascensão da AfD com preocupação há já algum tempo, sem conseguirem contrariá-la eficazmente. Pelo contrário, as suas ações parecem beneficiar inadvertidamente o AfD e, aparentemente, não conseguem mudar de atitude”, sustentou Eric Linhart.
Mas para o politólogo alemão, muito pode ainda acontecer nos próximos meses.
“Se olharmos para os resultados das sondagens na Alemanha um ano antes das eleições e os compararmos com os resultados eleitorais efetivos mais tarde, vemos rapidamente o quanto pode mudar. Por exemplo, em setembro de 2020, a CDU/CSU (coligação de centro-direita) tinha sondagens entre 35 e 40%, mas recebeu 24,1% nas eleições um ano depois. O SPD recebeu 25,7%, enquanto um ano antes estava a 15% nas sondagens”, concluiu.
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