As fabricantes automóveis da Europa estão em sérios apuros. Tal como o período negro que as economias viveram, estando agora a recompor-se, chegou a vez do sector automóvel sentir o sufoco, com cinco marcas a admitir dificuldades em atingir os objetivos propostos para o total do ano.
O grupo francês Stellantis e a britânica Aston Martin foram as últimas a atualizar os números, seguindo o exemplo da Mercedes-Benz, BMW e a Volkswagen. E os novos dados não são animadores.
A redução das perspetivas de lucros e receitas surge numa altura em que as fabricantes europeias estão a ser pressionadas pela fraca procura na China, cuja economia tem vindo a receber estímulos nas últimas semanas. Embora a guerra comercial entre Pequim e a União Europeia tenha acalmado, a tensão sobrepõe-se num momento em que a UE se prepara para finalizar as tarifas à importação dos veículos produzidos na China.
As gigantes automobilísticas dependem da economia chinesa para as suas vendas, agora afetadas pelo estado atual da economia, mas também pela concorrência cerrada no que toca ao mercado elétrico. A BYD e a Xpeng são algumas das marcas que vão sofrer alterações de preço na Europa, mas continuam a gerar vendas no mercado interno.
Mostra disso foi a queda livre que todas as marcas sentiram nas respetivas negociações nas bolsas europeias. A Mercedes, a primeira a revelar corte nas previsões, caiu 2,44% na bolsa alemã até aos 58,04 euros, o que levou a sua capitalização a cair 1,27 mil milhões de euros entre sexta e segunda-feira.
A BMW não foi exceção neste ‘varrimento’, tendo caído 2,42% para 79,18 euros na sessão de segunda-feira. No último dia útil da semana passada, a fabricante do bimmer tinha fechado nos 81,14 euros, o valor mais elevado desde 4 de setembro. Entre sexta e segunda-feira, a marca alemã perdeu 2,7 mil milhões de euros em valor de mercado.
A Volkswagen cortou as previsões pela segunda vez em menos de três meses e alertou para resultados mais fracos que os previstos no início do ano. A fabricante dá agora conta de receitas na ordem dos dois mil milhões de euros, menos de metade em relação aos 4,5 mil milhões previstos no arranque do ano.
A fabricante que dá nome ao grupo de Wolfsburgo fechou as ações de sexta a somar 97,12 euros, o maior valor desde 3 de setembro, mas as notícias do fim de semana não abonaram a seu favor e esta segunda-feira já abriu a perder. Os títulos chegaram aos 95,16 euros, resultando num valor de mercado de 57 mil milhões, um queda de 1,29 mil milhões face aos 58,29 mil milhões registados no dia útil anterior.
A Porsche, sob a alçada da Volkswagen, apesar de não ter cedido ao corte das perspetivas para o fim do ano, está a sofrer as consequências do grupo. A marca de carros desportivos perdeu 1,75 mil milhões de euros em apenas dois dias úteis.
Perante a Stellantis, estas são quedas ligeiras. A fabricante gerida pelo português Carlos Tavares afundou 13,01% numa única sessão e as suas ações estão agora nos 13,97 euros, longe dos 29,40 euros atingidos no fim de março. Na sessão desta passada segunda-feira, a capitalização da Stellantis caiu até aos 40,85 mil milhões de euros, evidenciando uma perda significativa de 6,12 mil milhões desde 27 de setembro, quando atingiu os 46,97 mil milhões.
A antiga PSA, dona de marcas como Citroën, Fiat e Peugeot, prevê agora uma margem operacional entre os 5,5% e os 7%, valores abaixo da perspetiva anterior de dois dígitos.
Mas a fabricante de luxo britânica foi a que mais sofreu no meio do caos. A Aston Martins perdeu uns estonteantes 24,51%, com os títulos a ficar nos 120,40 libras, e com um valor de mercado de 1,01 mil milhões de libras.
Mas não é só o mercado na China que está a pressionar as gigantes automóveis da Europa, com a procura europeia também a perder terreno.
Os últimos dados dão mesmo conta de uma queda acentuada de 18,3% na venda de carros novos só no mês de agosto, em termos homólogos, empurrando estas vendas para o nível mais fraco dos últimos três anos. Os mercados mais afetados não são surpresa: Alemanha, França e Itália.
Além da combustão, supostamente com morte anunciada, também a venda de automóveis elétricos decresceu em agosto. Estas vendas apresentaram o quarto mês de declínio em agosto, numa descida de 43,9%, ficando abaixo dos 100 mil automóveis. Em agosto, este tipo de automóveis representavam 14,4% do mercado europeu.
No entanto, a Associação dos Construtores Europeus de Automóveis informou que, desde o início de 2024, com as vendas a aumentarem ligeiramente (+1,4%), impulsionadas pelos mercados italiano e espanhol, com 7,2 milhões de viaturas vendidas.
Ainda que os dados não sejam animadores, é impossível negar a quantidade de novos carros que circulam nas estradas portuguesas. Vamos em setembro e as matrículas já vão na segunda letra do alfabeto, aproximando-se da terceira.
Só no mês de agosto, as vendas de novos automóveis apresentaram uma descida de 8,7%, com 14.338 carros a entrar em circulação nas estradas nacionais, segundo mostram os dados da Associação Automóvel de Portugal.
Destes automóveis a entrar em circulação, 21% eram elétricos, plug-in ou híbridos (6.587). Ainda assim, trata-se de uma quebra homóloga de 5,2%, sendo que um dado interessante é que a BMW conseguiu ultrapassar as vendas da Tesla.
Ora, em agosto de 2023 tinha-se observado um aumento de 17,7%, um dos melhores resultados dos últimos tempos.
No entanto, entre janeiro e agosto, o mercado observou um crescimento de 4,4% face ao igual período de 2023, com 168.942 veículos novos em circulação. A categoria de ligeiros de passageiros apresentou um deslize de 9,4%, enquanto os ligeiros de passageiros subiram 2,5%.
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