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Argentina: Milei continua a ser a ‘estrela’ das agências internacionais

Com a pobreza a disparar para valores há muito afastados do país, as políticas do presidente – apoiadas em despedimentos em massa – continuam a encantar os organismos internacionais.
14 Outubro 2024, 15h18

O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Ilan Goldfajn, escreveu um artigo em que apoia as reformas promovidas pelo governo argentino de Javier Milei e anunciou que pretende conceder mais de 3,8 mil milhões de dólares em créditos ao país sul-americano ainda este ano. Em artigo publicado no jornal britânico “Financial Times”, Goldfajn observa que a gestão de Milei, “em apenas sete meses, obteve um progresso notável na restauração do tão necessário equilíbrio fiscal, ao converter um défice primário de 2,9% do PIB no fim de 2023 num superávit de 1,5% no fim de agosto deste ano”. “Não foi simples”, reconheceu Goldfajn, citando os cortes drásticos nos gastos, o aumento da tarifa de serviços públicos e impostos especiais. Goldfain não o mencionou, mas uma parte substancial do corte dos gastos tem a ver com os despedimentos em massa de que os funcionários públicos estão a ser alvo. Assim, ao mesmo tempo que os organismos internacionais tratam de dar os parabéns a Milei, mais de 50% dos argentinos já caíram na margem da pobreza.

Mesmo assim, o responsável do BID escreveu que “continua a ser fundamental seguir com o aumento da eficiência dos gastos e com o redirecionamento de recursos para melhor apoiar os argentinos mais vulneráveis. O gasto público tem que ser mais eficiente e equitativo.” Goldfajn disse que não basta melhorar as contas públicas: “O objetivo final é criar oportunidades de emprego e alcançar um crescimento inclusivo e duradouro” – o que não está propriamente a suceder.

Tal como o BID, os mercados financeiros, por meio das decisões dos investidores, estão a fazer com que o risco-país da Argentina caia para níveis não vistos nos últimos anos. O plano Milei, baseado em cortes de gastos, desregulamentação e atração de investimentos internacionais, está, na ótica dos mercados, a funcionar. Embora a economia real continue a sofrer intensamente com a política do presidente, a economia financeira está a acordar mais depressa que o esperado. O último dado que impulsionou o preço dos títulos argentinos nos mercados foi a inflação. O IPC publicado na última sexta-feira mostra que a inflação mensal na Argentina finalmente caiu abaixo dos 4%.

A inflação mensal atingiu o nível mais baixo desde o final de 2021: o IPC ficou nos 3,5% em setembro em relação a agosto. A inflação anual desacelerou para 209%, de acordo com dados do governo divulgados na semana passada. A inflação oscilava em torno de 4% desde maio.

Em setembro, Milei reduziu o principal imposto sobre as importações do país de 17,5% para 7,5%, enquanto a diferença entre a taxa de câmbio oficial e a taxa paralela, que também afeta os preços, diminuiu. Milei disse que eliminará completamente o imposto sobre as importações até o final do ano. Além disso, insistiu nesta semana que os controlos de capital e a taxa de depreciação mensal do peso de 2% permanecerão em vigor, o que também ajuda a manter a inflação sob controlo.

Ao mesmo tempo, Milei está a avançar com cortes nos subsídios e com o congelamento de outros benefícios. Não será por isso de admirar que o prémio de risco do país (o spread entre o título de 10 anos da Argentina e o dos EUA) esteja a melhorar.

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