Com as contagens ainda não totalmente fechadas, Donald Trump ganhou as presidenciais com uma margem muito confortável no Colégio Eleitoral, ganhou o Congresso – voltou à maioria no Senado e deve manter a Câmara dos Representantes – e a isso ainda juntou o chamado voto popular: a maioria dos norte-americanos votou mesmo, o que não sucede sempre, no candidato que vai ser escolhido para a presidência da federação.
A dúvida é agora saber-se o que fará Trump com a vitória, cuja dimensão ninguém, provavelmente nem o próprio, conseguiu antecipar. De qualquer modo, a agenda que Trump ‘vendeu’ como o seu programa para os próximos quatro anos tem agora muito mais margem para ser passada à prática. A diminuição dos impostos, a imposição de novas tarifas às importações, novas regras para a imigração, o reinvestimento nas energias fósseis em detrimento das renováveis e uma geral desregulamentação da economia estão na linha da frente e deverão, pelo menos algumas delas de passar para decreto nos primeiros dias a seguir à tomada de posse.
A não ser que o próximo responsável pelo Tesouro consiga reter algumas delas, que são claramente inflacionistas – numa altura em que o país acaba de passar por anos conturbados de altas taxas de juro. Neste quadro, vale também a pena perceber-se o que fará Trump ao governador da Reserva Federal, Jeremy Powel – a quem o futuro presidente colocou no grupo dos ‘inimigos’ quando ocupou a Casa Branca pela primeira vez (2016-20).
De qualquer modo, a primeira consequência da vitória de Donald Trump é que uma metade do país não entrará em rota de colisão com a outra metade. O que por certo viria a a suceder se Trump tivesse perdido por uma margem escassa. O novo presidente preocupou-se, o que de algum modo também foi inesperado, em produzir um discurso de vitória muito conciliador. Deixou de lado qualquer invetiva menos simpática para com a derrotada oponente democrata e preocupou-se em explicar que seria o presidente de todos os norte-americanos. E ainda teve uma palavra simpática para com os imigrantes: os Estados Unidos continuam a dar as boas-vindas a todos os estrangeiros legais.
Trump decidiu ainda acrescentar mais um fator imprevisível: deu protagonismo ao homem que escolheu para seu vice-presidente, D. J. Vance. Com isso, sinalizou que o seu ‘companheiro’ será com certeza o candidato dos republicanos às presidenciais de 2028. Ou, pelo menos, será essa a vontade (para já) de Donald Trump.
Outra consequência da vitória de Trump é o fim abrupto da carreira política de Kamala Harris. E a inscrição do nome de Joe Biden nos livros de história no capítulo dos grandes derrotados. O ainda presidente deixa um partido que levará muitos meses a reencontrar o seu caminho.
Entretanto, há um calendário que tem de ser cumprido. O primeiro passo é a publicação dos resultados finais (até 11 de dezembro); a 17 de dezembro, acontecerá a reunião dos Colégios Eleitorais – sem que desta vez Trump se veja na necessidade de tentar pressionar alguns dos seus componentes para mudarem o sentido do seu voto, como fez há quatro anos; a 3 de Janeiro do próximo ano dar-se-á o início da sessão legislativa do novo congresso; e finalmente, a 6 de janeiro, dia em que o país comemora os quatro anos do assalto ao Capitólio, o seu maior responsável será proclamado 47º presidente dos Estados Unidos.
No que tem a ver com a Europa, três coisas assustam a maioria dos líderes do continente: a possibilidade de Trump aplicar novas tarifas às importações dos países europeus – fala-se em pelo menos 10%; a forma como a Casa Branca vai gerir a guerra da Ucrânia; e principalmente o que fará Trump com a Rússia – nomeadamente em caso de um ataque direto a um país NATO.
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