No ano em que celebra 70 anos de existência, a Relais & Châteux e a UNESCO anunciam uma parceria em prol do desenvolvimento sustentável. O que significa isto na prática? Que as duas partes irão desenvolver e implementar projetos conjuntos que apoiam a conservação sustentável e o recurso à diversidade biológica através do know-how e das tradições de hospitalidade e de gastronomia em todo o mundo.
“A parceria com a UNESCO é um passo natural para a nossa associação: o nosso propósito é apoiar e promover a mudança e continuar a repensar os modelos operacionais das nossas propriedades para que viajar – uma fonte de enriquecimento pessoal – se encaixe nos objetivos ambientais, sociais e económicos”, explica Laurent Gardinier, presidente da Relais & Châteaux, no comunicado disponibilizado esta semana à imprensa.
A prestigiada chancela incorpora, atualmente, 580 hotéis e cerca de 800 restaurantes em 65 países. Todas as unidades são operadas por proprietários independentes e, em muitos casos, são ainda detidas por empresas familiares, o que se traduz em ambientes mais intimistas e num serviço focado no acolhimento diferenciado. Podemos, por isso, dizer, sem correr o risco de falhar, que se trata de uma “parceria orgânica”, pois tudo conflui nesse sentido.
Com efeito, a Relais & Châteaux nunca perdeu de vista os temas relevantes a cada momento da sua história, razão pela qual um dos compromissos da Associação é “tomar medidas realistas para reduzir as pegadas ecológicas das propriedades”, como se pode ler no site oficial. Além de ter como objetivo “e, em colaboração com os seus chefs, continuar e intensificar as suas iniciativas na conservação da biodiversidade e da flora e fauna que a compõem”.
Gonçalo Narciso dos Santos, delegado da Relais & Châteaux para Espanha e Portugal, afiança ao JE que, aos 70 anos, o conceito da Relais & Châteaux mantém-se intacto. “Fazemos muita triagem nos hotéis e restaurantes que fazem parte da nossa associação. Não queremos crescer em número, queremos crescer em qualidade. Um hotel que entrou há 40, 50, 60 anos, se calhar, hoje em dia, já não está alinhado com o que é a nossa filosofia, os nossos valores”. Contrapõe que “a maioria está e nós ficamos muito felizes por isso, mas tem que haver aqui uma linha condutora, consistência”, ressalva. Porque, acima de tudo, venha o cliente de onde vier, “os nossos valores, os nossos compromissos”, nomeadamente no que respeita ao pilar “sustentabilidade” não podem ser colocados em causa.
Na parceria agora celebrada a UNESCO apoia os novos compromissos da Associação – ‘Em Harmonia com Todas as Formas de Vida Terrestres: Os Nossos 12 Compromissos em Matéria de Sustentabilidade’, destinados a cumprir três grandes missões: preservar as tradições de hospitalidade e as cozinhas do mundo; contribuir para a proteção e o desenvolvimento da biodiversidade; e implementar ações diárias para um mundo mais humano.
Dez anos depois da assinatura da sua Visão de “tornar o mundo melhor através da gastronomia e da hospitalidade” na UNESCO, a Associação renova e amplia os seus compromissos, de forma “a garantir que as viagens – essa preciosa fonte de enriquecimento e prazer individual – tenham o mínimo impacto no nosso planeta à medida que nos atrevemos a ir mais além nas nossas responsabilidades mútuas”, afirma Laurent Gardinier.
Para Gonçalo Narciso dos Santos, passado e futuro estão unidos na vontade “de prosperar, oferecendo aos hóspedes novas descobertas, novas experiências, em todas as regiões do mundo”, sem descurar o papel que devem assumir “junto das comunidades a que pertencem os respetivos membros”. E sublinha também o caráter único dos produtos Relais & Châteaux. “Todos os produtos são únicos, todos os produtos são diferentes e todos eles têm uma história para contar”. E sorri quando salienta que “é muito fácil contar 580 histórias, porque não há nenhum produto igual ao outro. É isso que também nos define e nos difere dos outros produtos e das demais associações e hotéis”. Isso e a constante preocupação em servir os melhores produtos causando o menor impacto. “A sustentabilidade é levada muito a sério”.
No caso da delegação de Portugal e Espanha, explica Gonçalo Narciso dos Santos, estamos a falar numa “delegação muito homogénea. Portugal e Espanha estão ligados de várias formas e dos 24 hotéis, quando comecei, evoluímos para 38”. Daí ser chave “manter a qualidade de serviço, fazer com que os clientes voltem para desfrutar dos nossos produtos, do que nós somos”. E respeitar sempre os compromissos da Associação Relais & Châteaux, que “sublinham a importância da interligação entre alimentação, saúde e ambiente”.
A questão da alimentação remete de uma forma clara para a força motriz por detrás desta colaboração entre a Relais & Châteaux e a UNESCO: Mauro Colagreco, Vice-presidente de Chefs Relais & Châteaux e chef e proprietário do restaurante Mirazur, em Menton, França, com três Estrelas Michelin.
Em novembro de 2022, Colagreco foi nomeado Embaixador da Boa Vontade da UNESCO para a Biodiversidade, projeto no qual tem estado profundamente envolvido. O seu tempo reparte-se pelo Programa “O Homem e a Biosfera” e por ações várias que visam motivar o grande público a envolver-se ativamente em questões ambientais. A parceria que o chef Colagreco promove entre estas duas instituições tem-lhe permitido alargar a iniciativa aos 580 membros da Associação.
“Nos últimos dois anos, tenho trabalhado com a UNESCO para promover a biodiversidade e envolver o maior número de pessoas possível no que diz respeito à necessidade de proteger os nossos ecossistemas. Olho para a gastronomia como um extraordinário vetor de mudança e acredito que temos de repensar fundamentalmente a forma como abordamos os sistemas alimentares”, sublinha o chef.
“Apercebi-me rapidamente de que precisamos de aumentar a quantidade de guardiões da biodiversidade em todo o mundo se queremos proteger o nosso planeta e as suas espécies. A rede Relais & Châteaux inclui 580 propriedades com um total de 800 restaurantes, por isso, pareceu-me evidente envolvê-las nesta iniciativa”, afiança Mauro Colagreco, Vice-presidente de Chefs, Relais & Châteaux.
Os 580 membros da rede Relais & Châteaux, espalhados por 65 países, estão em contacto permanente com pessoas das mais diversas origens e com diferentes comunidades, bem como com a natureza, pelo que tem um importante papel a desempenhar na adoção de comportamentos benignos para com o ambiente e de práticas que mitiguem e reduzam a pegada ecológica das suas operações.
Uma mensagem veiculada por Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, aquando do anúncio desta – aparentemente improvável – parceria com a Relais & Châteaux. “Jamais no decurso da história a natureza apresentou um declínio tão dramático. Um milhão de espécies, de um total de oito milhões identificadas até à data, enfrentam a ameaça de extinção”. Unidas numa só voz, a UNESCO e a associação Relais & Châteaux apelam à mudança das nossas perspetivas e práticas no que diz respeito à alimentação e ao restabelecimento do equilíbrio entre os seres humanos e o ambiente”, conclui a responsável.
Com 759 reservas da biosfera em 136 países, a UNESCO protege cerca de oito milhões de metros quadrados de património natural – o equivalente à área da Austrália – e apoia as comunidades que deles beneficiam. Cerca de metade dos membros da Relais & Châteaux têm as suas propriedades a cerca de duas horas de uma Reserva da Biosfera da UNESCO.
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