O plano ainda não é conhecido em detalhe, mas a secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias, tem vindo a realizar reuniões com diversos atores do sector onde tem partilhado a sua intenção de avançar para a verticalização do sector, isto é, acabar com a separação entre a operação do posto de carregamento (Operadores de Pontos de Carregamento (OPC) e o fornecimento de eletricidade (Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME).
Mas as fontes do sector consultadas pelo JE apontam que foi precisamente este modelo que permitiu o disparo no crescimento de postos em Portugal, e no sucesso do carro elétrico, permitindo criar uma ‘rede Multibanco’ para a mobilidade elétrica: independentemente da empresa a quem contrata o serviço de fornecimento de eletricidade pode abastecer em todos os postos existentes em todo o país.
A Associação Portuguesa de Operadores e Comercializadores de Mobilidade Elétrica (APOCME) revela a sua grande preocupação com as intenções do Governo para o sector, acreditando que as medidas ameaçam os contratos atuais e investimentos futuros.
“Há empresas que estão na área da mobilidade eléctrica há 15 anos em Portugal a fazer investimentos, na infraestrutura, mas principalmente no modelo de negócio e no desenvolvimento de sistemas de informação para ir de encontro àquilo que são as necessidades do modelo implementado. Por um lado, há um investimento muito forte por parte de players assentes num modelo existente. Há investimentos muito grandes feitos pelos operadores no desenvolvimento da rede. Fizeram-no com contratos assentes neste modelo. Vemos com muita preocupação que se esteja a pensar mudar o modelo sem perceber exatamente quais são os impactos. E não temos a total garantia que vá melhorar a mobilidade elétrica em Portugal”, disse ao JE o presidente da APOCME Carlos Ferraz.
“Grande parte dos investimentos é feito em locais de terceiros e recorrem à instalação existente. Portanto, se tiverem de fazer investimentos num novo ramal e com períodos de 9 a 12 meses desde o início do investimento até ao início da operação… isto pode pôr em causa alguns investimentos”, alertou o responsável.
Carlos Ferraz diz que os seus associados são “agnósticos em relação ao modelo. Queremos é um modelo que realmente defenda os operadores privados, porque são essenciais no ecossistema. Não somos contra mudanças, queremos é garantir que o modelo que vai ser implementado, se for alterado, defende os investimentos que foram feitos, defende os contratos que existem e defendem a progressão da mobilidade elétrica”.
Já a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) disse ao JE que “tudo indica que o Governo quer alterar as regras eliminando as grandes vantagens que o modelo português apresenta (separação da operação do posto de carregamento do consumo de energia, o que tem permitido ao utilizador um leque maior de escolhas). O nosso modelo tem sido elogiado na Europa pois permite eliminar constrangimentos ao nível da interoperabilidade das redes de carregamento”.
“Qualquer atual ou novo player pode atuar no mercado português, inclusive os dois mencionados pelo Governo recentemente, a Tesla e a IONITY, ambos já presentes no mercado português. As alterações que têm sido avaliadas irão provocar um retrocesso no desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal. Indico apenas dois problemas, as alterações que têm sido apontadas vão obrigar os operadores portugueses a muitos meses de alterações nos seus postos, adiando novos investimentos e a abertura de novos postos”, acrescentou Henrique Sanchez, presidente honorário da UVE.
“Muito provavelmente sairão beneficiados grandes empresas estrangeiras em detrimento de empresas portuguesas que estão empenhadas desde a primeira hora no desenvolvimento da mobilidade elétrica, tendo suportado os enormes investimentos iniciais quando não havia utilizadores/clientes suficientes para garantir o retorno dos seus investimentos. Não me parece que o Governo esteja a par das enormes consequências nefastas para o sector e para o cumprimento das metas que o AFIR obriga, e bem, os Estados-membros da União Europeia”, segundo o responsável.
Henrique Sanchez também alerta que “outra consequência será o fim dos DPC – Detentor de Posto de Carregamento, uma forma eficaz de separar consumos numa mesma infraestrutura, o que veio resolver inúmeros problemas dos condomínios e das empresas ao separar consumos e gerir plafonds atribuídos (no caso das empresas)”, concluiu.
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