Richard Zimler: “Trump procura vingança. Para ele só existem vencedores e falhados”

Radicado em Portugal há muitos anos, o escritor norte-americano Richard Zimler, que confessa ter ficado “doente, emocionalmente arrasado e muito inquieto” quando Donald Trump foi eleito, abordou, em entrevista ao JE, a sua visão de como será o novo mandato de republicano à frente da Casa Branca.

Com Trump na Casa Branca, Zimler diz que quer “contribuir, quero continuar a lutar, mas não quero estar lá”. “Trump não consegue dialogar. Todas as pessoas que têm uma opinião diferente da dele são vistos como inimigos. Ele procura a vingança e só pensa ‘eu, eu, eu’. Vive num mundo completamente binário. De um lado as pessoas que fazem muito, muito dinheiro, os winners, como o seu amigo Elon Musk, e do outro lado, os losers, os falhados”.

Sobre Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos, que considera serem pessoas mais importantes do que os Estados, Zimler destaca que estes querem impor a sua visão do mundo. “É uma situação muitíssimo perigosa. Os sistemas neoliberais que existem nos Estados Unidos, Inglaterra, Europa, permitem a concentração de poder e de dinheiro num número muito reduzido de pessoas. Temos que adotar outro sistema, porque o sistema neoliberal não funciona, não permite construir uma sociedade mais igualitária e mais justa”.

No entender do escritor norte-americano, estes magnatas “podem, de facto, mudar o resultado de uma eleição” e interferir manipulando a opinião pública. “Tenho muito medo disso”, reconhece. A lista de receios inclui desde as fake news às redes sociais – “qualquer pessoa pode fazer circular notícias falsas no Facebook, no Twitter, no TikTok, e por enquanto não temos maneira de impedir isso” –, mas questionado sobre se estamos à beira do precipício, Zimler admite que tem “alguma fé ou confiança nas pessoas”. Apesar de tudo, quer acreditar que “vamos continuar a lutar, a tentar criar um mundo mais igualitário e mais saudável. A reduzir o fosso entre os mais ricos e os mais pobres. A acabar com guerras absurdas, como as que estão a acontecer em Gaza ou na Ucrânia”.