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Dezenas de democratas à procura de um lugar para defrontar Trump

Por enquanto são nove, mas até 2020 podem chegar a 40 candidatos às primárias. Entre desconhecidos e semidesconhecidos, surgem alguns velhos conhecidos que ainda não disseram nem ‘sim’ nem ‘não’.
24 Fevereiro 2019, 19h00

Ainda falta bem mais de um ano para 3 de novembro de 2020 – o dia em que a população dos Estados Unidos escolherá quem vai substituir o atual ocupante da Casa Branca, previsivelmente entre o próprio inquilino e um representante do Partido Democrata – mas a oposição a Donald Trump começa a encher-se de candidatos.

Para já – e até ao fecho da edição – são nove os nomes dos que querem assumir a condição de desafiantes de Trump. Vêm das mais diversas proveniências, sonham com as coisas mais opostas e assumem as posturas mais variadas. Sendo certo que nem todos irão chegar à condição de candidatos a candidatos, há, por outro lado, muitos nomes que podem ainda decidir concorrer.

O mais provável, para todos os efeitos, é que nesta fase de pré-lançamento ou mesmo de lançamento das campanhas pessoais, os arredores da sede do Partido Democrata, em 430 South Capital Street, Washington D.C., vão estar com o trânsito congestionado durante os próximos meses.

Mais espantoso ainda, é que, a acreditar num analista do jornal norte-americano ‘Independent’, Chris Riotta, o número de interessados que avançarão com os trâmites para assumirem a categoria de candidatos a candidato dos democratas pode chegar aos… 40.

Desde logo, esta hiperatividade interna dá nota de duas coisas: o partido está em processo de renovação depois do desastre da candidatura de Hillary Clinton contra o republicano Donald Trump, o que os analistas veem como positivo; mas, por outro lado, – e esta é a parte má – o partido não conseguiu desde então ‘gerar’ um líder que tivesse a arte de agregar o partido em seu torno de forma clara.

É certo que a história dos partidos norte-americanos é pródiga em figuras que, vindo mais ou menos de parte nenhuma, conseguiram chegar a presidentes da federação – mas os analistas consideram que o Partido Democrata anda há mais de dois anos sem um rumo definido. Não só porque não há essa figura agregadora, mas também porque a oposição a Trump tem-se revelado uma dificuldade, face à inconstância do seu rumo político – mas também face a algumas vitórias bastante estrondosas (principalmente no que se refere ao consumo interno), de que a cimeira com o líder da Coreia do Norte é o exemplo mais cabal.

Os que não estão lá

Paradoxalmente – e sendo certo que lá como cá há analistas para todos os gostos – da lista dos nove candidatos conhecidos não consta nenhum dos nomes a que a imprensa ‘séria’ norte-americana atribui algum grau de capacidade para derrotar Trump no confronto direto. Para encontrar esses nomes, é preciso procurá-los na lista oficiosa de potenciais candidatos (aqueles que ainda não estão na corrida mas ainda não a recusaram em definitivo). São eles Joe Biden, Bernie Sanders e Michael Bloomberg.

Biden é um ‘velho conhecido’ daquelas andanças – são todos, aliás: foi vice-presidente dos Estados Unidos com o presidente Barack Obama e senador por Delaware de 1973 até renunciar em 2009 para assumir a vice-presidência. E tem 76 anos! A favor tem a experiência e o conhecimento quer dos dossiês quer dos detalhes da governação – algo que tantas vezes é o cerne de uma governação sólida e eficaz. Contra ele está a herança que terá de transportar aos ombros, dos anos de Obama – não sendo claro que os norte-americanos estejam assim tão saudosos desses tempos.

Sanders, candidato a candidato derrotado por Hillary Clinton, ficou sempre (e muitos com ele) com a sensação de que Trump não seria presidente se a escolha dos democratas tivesse caído sobre ele. O seu lado mais esquerdista – pelo menos na comparação com Clinton – pode ser o contraponto certo para a postura de direita ‘a resvalar’ para o extremo do atual presidente.

Bloomberg tem dois handicaps negativos: mudou demasiadas vezes de partido (entre republicanos e democratas) e é uma espécie de possível candidato a quase tudo – talvez não por culpa própria, mas porque o seu perfil encaixa bem em muita coisa.

Os que lá estão

Entre os que já fizeram soar as campainhas de partida, os jornais (que no caso funcionam como uma espécie de casas de apostas) parecem emprestar algum favoritismo a Kamala Harris, senadora do Estado da Califórnia. Aos 56 anos, é apresentada em todo o lado como uma estrela em ascensão no interior do partido, que poderia contrabalançar a falta de experiência que lhe apontam com a capacidade de agregar em seu torno o apoio de algumas das mais importantes ‘famílias’ democratas, entre elas os Clinton e os Obama.

John Delanay, congressista do Maryland, parece ser o mais capaz de juntar os moderados e os centristas do partido, mas os analistas afirmam que essas suas duas espécies estão em vias de extinção entre os democratas, o que pode retirar-lhe apoios e capacidade de financiamento que se revelem inultrapassáveis.

Finalmente, os analistas também dão algum crédito a Julian Castro, antigo mayor de San Antonio e secretário de Estado, a quem apontam uma trajetória em sentido ascendente – de um governo estadual passou para o governo federal, o que costuma ser considerado um bom sinal. E é candidato a ser o primeiro presidente de origem hispânica – o que seria importante não só pelo número de latinos a viver nos Estados Unidos, como pelo poder de confrontação que isso induziria no frente-a-frente com Donald Trump.

Até às primárias democratas, é possível que vários outros nomes venham a surgir – mas é como todos os anos: alguns estão apenas a sinalizar uma vontade que um dia poderá vir a ser consequente, na tentativa de inscreverem o seu nome no conjunto (não muito) restrito de proto-candidatos. Coisa bem diferente é que algum deles tenha sensíveis hipóteses de ganhar a Trump – que, se for derrotado, sê-lo-á mais pelo que não fez ou fez mal, que propriamente por os democratas terem alguém com estrutura política suficiente para, à partida, pôr em causa o facto de quem concorre pela segunda vez estar sempre, para todos os efeitos, ao menos um bocadinho à frente.

Artigo publicado na edição nº 1975 de 8 de fevereiro do Jornal Económico

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