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EDP fica com 60% dos postos de carregamento do concurso da Mobi.E

São 190 postos de carregamento em 45 municipios. Nos postos geridos pela EDP, o número de carregamentos atingiu um milhão em 2024, um novo máximo.
20 Janeiro 2025, 10h15

A EDP anunciou hoje que venceu o concurso da Mobi.E para instalar e operar 190 pontos de carregamento público em 45 municípios de norte a sul do país.

A elétrica arrebatou 60% dos postos de carregamento a concurso. Nos concursos de 2019 e 2020, a EDP arrebatou 420 pontos de carregamento.

Os 190 postos serão instalados este ano, tendo uma potência de 22 kW, com a vantagem de poderem ser utilizados com qualquer cartão CEME (Comercializador de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica), que permite usar o cartão de qualquer CEME em qualquer ponto de carregamento da rede gerida pela Mobi.E, uma espécie de Multibanco para os carregamentos elétricos.

“A adesão à mobilidade elétrica é inegável, com um crescimento sustentado em Portugal e Espanha. É necessário continuar a investir para garantir aos condutores que esta continua a ser uma opção sustentável, económica e também cómoda e previsível. Expandir a rede tem de continuar a ser uma prioridade para as empresas públicas e privadas envolvidas na mobilidade, garantindo uma cobertura abrangente e em todo o território, com ofertas ajustadas às diferentes necessidades dos condutores. A EDP está determinada a liderar esta transformação, contribuindo ativamente para um futuro mais sustentável e inovador”, disse em comunicado Carlos Moreira, administrador da EDP Comercial com o pelouro da mobilidade.

Olhando para o número de carregamentos da rede pública gerida pela EDP Comercial, o número de carregamentos atingiu o valor mais elevado de sempre em 2024.

Foi mais de um milhão de um carregamentos nos 3.400 pontos de carregamento em Portugal em 2024 (a companhia também conta com mais de 2.700 em Espanha). Isto representou um crescimento de 40% face a 2023:  o equivalente a 140 milhões de quilómetros, 3.500 voltas ao planeta Terra e sem emitir 20 mil toneladas de dióxido de carbono, no caso de ser um veículo térmico.

A EDP anunciou uma redução de 5% nos preços dos carregamentos para este ano.

Desde que começou a investir na mobilidade elétrica, já foram realizados mais de 2,1 milhões de carregamentos nos pontos da EDP, evitando mais de 30 mil toneladas de CO2, e o equivalente a percorrer 260 milhões de quilómetros.

Utilizadores de veículos elétricos lançam manifesto a criticar Governo pela falta de decisões

A UVE (Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos) lançou um manifesto a 16 de janeiro, no qual deixa duras críticas ao Governo “pela falta de decisões claras” na mobilidade elétrica em Portugal, que tem provocado “investimentos e desenvolvimentos cancelados, devido ao clima de incerteza, criando a estagnação de decisões importantes para a evolução da mobilidade elétrica em Portugal”.

A mobilidade é atualmente tutelada pela secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias, e pelo ministro das Infraestruturas, Miguel Pinto Luz.

“As declarações por parte da tutela seguiram num sentido de alterações mais profundas, sugerindo mesmo o fim do modelo de rede atual e não a sua evolução e melhoria. Desde junho de 2024, temos assistido a compromissos de datas, que são adiadas e canceladas por parte da tutela, até chegarmos ao momento atual onde não existe qualquer ideia ou compromisso de conclusão do trabalho que está a ser executado”, pode-se ler no manifesto.

“É neste estado que nos encontramos no presente momento: dúvidas nas verdadeiras alterações que a tutela pretende levar a cabo, que instalaram um clima de incerteza em todos os agentes de mercado, principalmente nos Operadores de Pontos de Carregamento e nos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica. Num sector de forte investimento a incerteza é o nosso pior inimigo. A falta de decisão, mas continuarem a ser dados sinais de alterações profundas sistematicamente, não promove a estabilidade, mas sim cancela os investimentos e desenvolvimentos e promove a estagnação de decisões importantes”, critica a UVE.

A associação continua: “a incerteza gerada pelas entidades responsáveis pelo sector tem prejudicado o investimento privado e o normal desenvolvimento da infraestrutura, afetando principalmente os Operadores de Pontos de Carregamento e Comercializadores de Eletricidade e, consequentemente, os utilizadores”.

A UVE também deixa críticas ao aumento das tarifas de carregamento e a complexidade dos tarifários, que considera “não estarem a ser enfrentados como prioridade, devido à incerteza instalada”, apontando para subidas médias de 5% nos custos de carregamento na rede pública, “com os novos postos que entraram em funcionamento em dezembro a apresentarem valores, em média, 28% superiores aos de janeiro de 2024”.

Em 2022, a UVE defendeu a simplificação dos tarifários disponibilizados aos utilizadores, “mas a implementação tem sido lenta: no final de 2024 apenas 11,4% dos postos de carregamento tinham adotado esta simplificação”.

Por outro lado, a “burocracia é também um obstáculo, com dificuldades na ligação dos postos de carregamento à rede elétrica e no licenciamento de espaços públicos, prejudicando o crescimento da infraestrutura. Fechamos o ano de 2024 com quase 300 postos de carregamento rápido e ultrarrápido que aguardam ligação à rede elétrica”.

A UVE acredita que os principais CEME (Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica), que detêm as maiores redes de pontos de carregamento, “possuem uma responsabilidade acrescida na disponibilização de soluções que proporcionem uma melhor
experiência ao utilizador, pelo que devem concentrar esforços neste domínio e potenciar a utilização da rede pública”.

Para terminar, a UVE defende a “necessidade urgente de soluções claras para melhorar o modelo atual, de forma a oferecer um serviço de melhor qualidade aos utilizadores e garantir o desenvolvimento eficiente da mobilidade elétrica em Portugal”.

Mudanças na rede de carregamentos elétricos ameaçam investimentos

Como o JE noticiou a 2 de dezembro, há um mal-estar no sector da mobilidade elétrica em Portugal. O Governo prepara mudanças nas regras da rede de carregamentos elétricos, mas as empresas estão com muitas dúvidas sobre as intenções do executivo.

O plano ainda não é conhecido em detalhe, mas a secretária de Estado da Mobilidade, Cristina Pinto Dias, tem vindo a realizar reuniões com diversos atores do sector onde tem partilhado a sua intenção de avançar para a verticalização do sector, isto é, acabar com a separação entre a operação do posto de carregamento (Operadores de Pontos de Carregamento (OPC) e o fornecimento de eletricidade (Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME).

Mas as fontes do sector consultadas pelo JE apontam que foi precisamente este modelo que permitiu o disparo no crescimento de postos em Portugal, e no sucesso do carro elétrico, permitindo criar uma ‘rede Multibanco’ para a mobilidade elétrica: independentemente da empresa a quem contrata o serviço de fornecimento de eletricidade pode abastecer em todos os postos existentes em todo o país.

A Associação Portuguesa de Operadores e Comercializadores de Mobilidade Elétrica (APOCME) revela a sua grande preocupação com as intenções do Governo para o sector, acreditando que as medidas ameaçam os contratos atuais e investimentos futuros.

“Há empresas que estão na área da mobilidade eléctrica há 15 anos em Portugal a fazer investimentos, na infraestrutura, mas principalmente no modelo de negócio e no desenvolvimento de sistemas de informação para ir de encontro àquilo que são as necessidades do modelo implementado. Por um lado, há um investimento muito forte por parte de players assentes num modelo existente. Há investimentos muito grandes feitos pelos operadores no desenvolvimento da rede. Fizeram-no com contratos assentes neste modelo. Vemos com muita preocupação que se esteja a pensar mudar o modelo sem perceber exatamente quais são os impactos. E não temos a total garantia que vá melhorar a mobilidade elétrica em Portugal”, disse ao JE o presidente da APOCME Carlos Ferraz.

“Grande parte dos investimentos é feito em locais de terceiros e recorrem à instalação existente. Portanto, se tiverem de fazer investimentos num novo ramal e com períodos de 9 a 12 meses desde o início do investimento até ao início da operação… isto pode pôr em causa alguns investimentos”, alertou o responsável.

Carlos Ferraz diz que os seus associados são “agnósticos em relação ao modelo. Queremos é um modelo que realmente defenda os operadores privados, porque são essenciais no ecossistema. Não somos contra mudanças, queremos é garantir que o modelo que vai ser implementado, se for alterado, defende os investimentos que foram feitos, defende os contratos que existem e defendem a progressão da mobilidade elétrica”.

 Na semana passada, a secretária de Estado da Energia Maria João Pereira deu conta de a sua tutela estar a “rever o regime jurídico da mobilidade elétrica, em conjunto com a secretaria de Estado da Mobilidade, com o objetivo de reforçar a rede de carregamento elétrico, abrindo o mercado a novos players, assim como simplificando e democratizando o processo de carregamento, esperando contribuir para a redução dos custos para os consumidores”.
O JE questionou tanto o ministério das Infraestruturas, onde está a secretaria de Estado da Mobilidade, e o ministério do Ambiente e da Energia, onde está a secretaria de Estado da Energia, mas não recebeu respostas até ao fecho da edição.
A APOCME agrega algumas das maiores empresas do sector, como a EDP, Galp, KLC, Mobilelectric e a Prio.
A EDP detém o maior número de postos em Portugal: 1.169. Segue-se a Galp (880), a Powerdot (633), a Atlante (483) e a KLS (331), segundo os dados da entidade gestora da rede, a Mobi.E. No caso do fornecimento de eletricidade, quatro empresas dominam, abastecendo 75% do mercado, mas a Mobi.E não revela os seus nomes.

Já a Associação de Utilizadores de Veículos Elétricos (UVE) disse ao JE que “tudo indica que o Governo quer alterar as regras eliminando as grandes vantagens que o modelo português apresenta (separação da operação do posto de carregamento do consumo de energia, o que tem permitido ao utilizador um leque maior de escolhas). O nosso modelo tem sido elogiado na Europa pois permite eliminar constrangimentos ao nível da interoperabilidade das redes de carregamento”.

“Qualquer atual ou novo player pode atuar no mercado português, inclusive os dois mencionados pelo Governo recentemente, a Tesla e a IONITY, ambos já presentes no mercado português. As alterações que têm sido avaliadas irão provocar um retrocesso no desenvolvimento da mobilidade elétrica em Portugal. Indico apenas dois problemas, as alterações que têm sido apontadas vão obrigar os operadores portugueses a muitos meses de alterações nos seus postos, adiando novos investimentos e a abertura de novos postos”, acrescentou Henrique Sanchez, presidente honorário da UVE.

“Muito provavelmente sairão beneficiados grandes empresas estrangeiras em detrimento de empresas portuguesas que estão empenhadas desde a primeira hora no desenvolvimento da mobilidade elétrica, tendo suportado os enormes investimentos iniciais quando não havia utilizadores/clientes suficientes para garantir o retorno dos seus investimentos. Não me parece que o Governo esteja a par das enormes consequências nefastas para o sector e para o cumprimento das metas que o AFIR obriga, e bem, os Estados-membros da União Europeia”, segundo o responsável.

Henrique Sanchez também alerta que “outra consequência será o fim dos DPC – Detentor de Posto de Carregamento, uma forma eficaz de separar consumos numa mesma infraestrutura, o que veio resolver inúmeros problemas dos condomínios e das empresas ao separar consumos e gerir plafonds atribuídos (no caso das empresas)”, concluiu.

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