Sentado em cima de enormes reservas de petróleo e gás natural há mais de 70 anos, o Qatar é o país mais rico do mundo em termos per capita, mas aparenta agora querer dar o salto para outro patamar: “a nossa ambição é grande: temos o objetivo de transformar o Qatar na capital cultural do Médio Oriente”, diz Papel Ahmed al Namla, diretor-executivo do Museus do Qatar, citado pelo jornal espanhol El Mundo.
O país tem investido numa rede de museus que é única na região e promete ser um poderoso chamamento ao exterior. Ao mapa das instituições que já ali existem, o Qatar irá acrescentar no próximo mês o Museu Nacional, um edifício rosa projetado pelo francês Jean Nouvel num quadro em que a ‘jóia da coroa’ é o Museu de Arte Islâmica, implantado numa península artificial que se abre para a baía de Doha – que abriga a melhor coleção de arte islâmica no mundo, uma miscelânea de 14 séculos que se estende da China até Espanha.
De acordo com dados fornecidos pelo museu, meio milhão de pessoas visitaram a estrutura no ano passado, não só a exposição permanente, mas também as exposições temporárias dedicadas à herança síria, em risco após oito anos de guerra civil. O seu acervo é alimentado por uma febre de aquisições liderada há mais de uma década por Sheikha al Mauasa, irmã do atual Emir Tamim bin Hamad Al Thani.
“Sob a sua orientação visionária, o museu estabeleceu a aspiração de criar uma infraestrutura cultural forte e sustentável”, diz Al Namla. Aos 35 anos, Al Mayasa administra um orçamento anual de mil milhões de dólares para gastar em galerias, casas de leilões e colecionadores. Apesar do sigilo com que administra as suas apostas, o seu nome apareceu após as aquisições recentes e astronómicas de obras de Gauguin, Cézanne, Warhol e Francis Bacon.
Uma galeria de arte que desafia o conservadorismo da região e do próprio país, que vive sob a influência (tal como a Arábia Saudita) do wahabismo, um dos ramos mais puritanos do Islão. mas n ada disso parece demover esta espécie de curadora com um orçamento mais ou menos ilimitado.
“Quando estive lá, tive a impressão de que eles são muito abertos, muito liberais e de muitas formas próximos do que é praticado em outros lugares no mundo. Não são exatamente como noutros lugares do Golfo Pérsico”, disse o artista chinês Ai Weiwei quando no ano passado exibiu pela primeira vez a sua obra num dos novos centros estaduais que estão instalados em Doha.
O centro de que fala Ai Weiwei é um antigo posto de bombeiros, reabilitado como centro de exposições e residência artística. “Espaços de intercâmbio como este antigo quartel de bombeiros estão a crescer e a comunidade artística está a crescer muito rapidamente”, diz Abrar Ahmed, um jovem artista do Qatar que sonha em abrir sua própria galeria. “Quero partilhar a minha paixão e inspirar os outros”, diz.
“A arte tornou-se uma parte muito importante da nossa identidade nacional”, admitiu há algum tempo a princesa que lidera o plano. Submetido a um bloqueio regional grave desde junho 2017, o Qatar tem encontrado na diplomacia cultural um território onde cultivar a sua imagem internacional e manter o pulso.
Ao contrário do seu rival histórico, os Emirados Árabes Unidos, a estratégia do Qatar não procura estabelecer franquias locais do Louvre ou do Guggenheim. Os petrodólares do país são mais que suficientes, também na arte, para o Qatar andar ao seu próprio ritmo. E, no limite, para alterar radicalmente a visão que o resto do mundo tem daquela pequena porção de terra cheia de areia, petróleo e arranha-céus exuberantes.
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