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Ulisses Correia e Silva: “Não há drama [pela derrota autárquica]. Estamos a preparar a vitória nas legislativas”

O presidente do MpD recusa dramatizar a derrota do seu partido nas autárquicas e prepara as legislativas do próximo ano. Também não dramatiza a falta de confiança nas instituições, mas diz que é preciso melhorar.
31 Janeiro 2025, 10h47

Vai ser o candidato do Movimento para a Democracia (MpD) nas legislativas, mas parte para este desafio depois de uma derrota nas autárquicas. Que análise é que fizeram destas eleições e que consequências retiram para o resto do ciclo eleitoral?
Primeiro, que não há drama. Há um historial antecedente, o PAICV [Partido Africano da Independência de Cabo Verde] esteve durante 15 anos no poder, perdeu todas as autárquicas, ganhou três legislativas. Segundo, nós não fazemos uma ligação direta, automática, entre as autárquicas e as legislativas. Costumo dizer que não há razão para depressão e não há razão do outro lado, de quem ganhou, para lançar foguetes, porque até é contraproducente deitar foguetes antes da festa. Portanto, isto significa que há desafios de ambos os lados. Nós estamos a preparar-nos para vencer as legislativas e o PAICV estará a preparar-se também.

Nós já temos orientações muito claras de como fazer, dinamizar internamente o partido, prepará-lo para o novo embate, e a atividade governativa contribuirá também até ao final do nosso mandato.

Tendo em conta esse sinal, e o desgaste também de muitos anos no Governo, o que é que vai mudar até ao final do mandato?
Mudar e executar. Nós temos várias ações governativas em curso em setores que tiveram muita turbulência, por exemplo, o transporte aéreo interilhas está numa boa fase de estabilização e de crescimento até de frota, que vai acontecer, e significa, depois, aumentar o número de disponibilidades da oferta. É um dos setores que vai avançar bem e podemos resolver um problema que tem estado a afetar também a confiança das pessoas no Governo. Os voos para Boston e para o Brasil, estamos a trabalhar afincadamente para que aconteça ainda dentro do nosso mandato, dando uma resposta também a uma reivindicação muito forte das nossas comunidades. E temos outros setores, como a água para agricultura, com projetos que estão na fase de execução para o seu término, com impacto na mobilização de água para agricultura, e todo o programa relacionado com a juventude e com emprego e pacotes especiais que estamos a trabalhar relativamente à questão de fazer face à mitigação dos impactos do aumento do custo de vida, que está a atingir muitas pessoas. Portanto, há programas para darmos respostas. Não serão respostas eleitoralistas, mas estamos aqui em duas frentes, o Governo tem de governar, depois o partido tem de vencer e nós vamos ter de convergir com propostas, projetos e ações para que isso aconteça.

O inquérito sobre a qualidade da democracia mostra que 75% dos cabo-verdianos estão insatisfeitos com o funcionamento da democracia e que a confiança nos órgãos institucionais também caiu. É um sinal preocupante para a saúde da democracia?
Não creio que seja um sinal preocupante para a saúde da democracia cabo-verdiana, é um problema. Até porque estamos a falar de sondagens e sondagens são feitas hoje, depois são feitas por empresas diferentes que dão, às vezes, resultados diferentes. Temos sondagens que permitem fazer leituras diferentes. Agora, não ignoramos os factos, aliás, as perceções, porque estas sondagens avaliam perceções. Temos vários outros indicadores, nomeadamente da Freedom House, que medem a liberdade de imprensa, indicadores da democracia que se publicam anualmente, portanto, não vamos pegar numa sondagem, por todo o valor que a gente dá, é sobrevalorizar e ocupar todo o espaço de várias outras entidades que fazem essas avaliações. Tem havido essa tendência de amplificar o impacto. Não significa que, relativamente a alguns aspetos, não tenhamos de ter em conta; relativamente às questões que têm a ver com a confiança nos órgãos de soberania, com a avaliação do Governo, tudo isto a gente tem em conta, mas não tornamos em absoluto uma sondagem de uma determinada entidade para dizer que esta aqui é lei. Não é lei, é uma variação que fizeram com base em mesmos critérios com que outras agências, outras empresas, fazem com praticamente o mesmo universo e, às vezes, com as mesmas questões, têm resultados diferentes, em tempos também diferentes. É nesse sentido que nós não dramatizamos essa leitura. Não ignoramos, mas não dramatizamos.

E como é que se ganha a confiança dos cidadãos nas instituições?
A vários níveis. Primeiro, nós notamos, por exemplo, dentro do próprio partido, que a questão da proximidade, a questão da ação política de proximidade é um elemento também de confiança. A nível do Parlamento, tem havido discussões, por exemplo, pela necessidade de viabilizar a eleição de órgãos externos ao Parlamento. São órgãos importantes e os consensos criam também a confiança; são órgãos que exigem dois terços [da Assembleia Nacional] para que isso aconteça. Estamos a falar do Tribunal Constitucional, Provedor de Justiça, Entidade Reguladora para a Comunicação Social, Comissão Nacional de Eleições. São importantes para a democracia e se os cidadãos sentirem que há muita divergência porque exige dois terços, começa a corroer também a confiança. Portanto, são todas essas áreas que nós temos de trabalhar, incluindo a relação do Governo com o Presidente da República, e estabelecer um quadro de melhoria de confiança. Todos estão sintonizados em que é preciso melhorar o quadro, mas, ao mesmo tempo, não dramatizar.

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