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Dívida e energia para recuperar o motor gripado europeu

Travão constitucional será dos principais temas económicos depois de domingo, embora a energia seja o principal problema no modelo atual alemão já expirado.
21 Fevereiro 2025, 17h00

Apesar de a vitória dos democratas-cristãos ser quase certa na eleição deste domingo, a composição do governo alemão é ainda uma incógnita (e o seu desfecho poderá demorar largos meses), o que terá um impacto determinante nas perspetivas económicas do país. A questão do travão constitucional da dívida é a mais relevante, mas, há dois anos em recessão e num modelo industrial claramente falhado, a recuperação alemã também terá de ser prioritária – devolvendo à Europa a sua liderança económica.

A economia germânica assentou em três vetores que parecem ter colapsado nos últimos anos: energia barata vinda da Rússia, exportações de elevado valor acrescentado para todo o mundo e outsourcing da defesa para os EUA. O fim deste modelo atirou o país para uma crise estrutural, resultando em dois anos de recessão, e o rumo daqui para a frente é uma incógnita. Com um superavit corrente durante boa parte das duas décadas passadas, a questão do travão constitucional da dívida é a mais premente na antecipação das eleições de fevereiro e as suas consequências vão para lá do país.

Contrariando os princípios conservadores do lado orçamental, a União Democrata-Cristã (CDU) abriu recentemente a porta a mexidas nesta peculiaridade da Constituição, embora a sua remoção total esteja fora das opções. Assim, restam dois cenários prováveis: a sua suspensão de emergência, como entre 2020 e 2023, ou reformas menos ambiciosas, nomeadamente a contabilização de certos investimentos (com a defesa à cabeça) numa conta separada.

Se para suspender este travão basta uma simples maioria parlamentar (ainda que tenha de existir uma “situação de emergência para lá do controlo do Governo”, como refere a Constituição), qualquer reforma requer uma maioria qualificada de dois terços, reforçando a importância da composição do Bundestag. Escrevem os analistas da Gavekal, a contabilização de rubricas como a defesa uma conta separada “dará um impulso orçamental suficiente para manter a economia em terreno de estagnação”, mas fica longe de “desencadear novo ciclo de crescimento”.

Recorde-se que o país está estagnado em termos reais desde 2019, tendo fechado os últimos dois anos com crescimento negativo. A produção industrial continua cerca de 10% abaixo do pré-Covid e o investimento privado em setores como a construção ou veículos caiu 11,5% e 7,2%, respetivamente.

 

Produtividade em queda

A questão energética é outra fonte de pressão, sobretudo dada a importância de atividades industriais intensivas em energia. Segundo dados da Destatis, o gabinete estatístico alemão, o output destes setores corresponde a apenas 20% da indústria do país, mas consomem dois terços da energia utilizada pelo ramo secundário, levantando questões sobre o seu futuro. Isso mesmo alertou o think-tank alemão Epico no final do ano passado, quando apontou ao falhanço da transição energética assente em renováveis para estas indústrias, usando o ramo químico e o do aço como exemplos.

Esta dinâmica expõe outra das fragilidades recentes alemãs, a produtividade. Com uma população cada vez mais envelhecida, um aumento de 40% entre 2021 e 2022 nas ausências por baixa (com 24,9 dias por ano em 2023, em média, os trabalhadores alemães são os que mais faltam na UE) e uma carga horária das mais baixas na Europa, será difícil ao novo governo aumentar este indicador – o que se traduzirá em mais pressão sobre a despesa, pressão essa que será difícil de contrariar com os cortes propostos pela CDU.

Olhando para as propostas de cada partido, a Faculdade de Ciências Aplicadas de Berlim (HTW) projeta que o programa da CDU acrescente, no máximo, 0,26% de crescimento por ano, impulso que cai até 0,14% em 2030. Já o SPD, do incumbente Scholz, consegue um impacto de 0,24% no primeiro ano, mas que cai significativamente até 0,07% no final da legislatura.

No entanto, os cortes fiscais pretendidos pelos democratas-cristãos têm um custo estimado de 110 mil milhões de euros, de acordo com os cálculos do Instituto Alemão de Estudos Económicos, sendo que o crescimento esperado não será suficiente para fechar este buraco.
Por sua vez, os liberais (FDP) estimulam o crescimento em 0,39% em 2026, mantendo um impacto até 0,29% até 2029, caindo depois para 0,19% em 2030, enquanto os Verdes oscilam entre 0,37% no primeiro ano e 0,11% em 2030.

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