O Banco Montepio registou um resultado líquido consolidado de 12,6 milhões o que representa um crescimento de 96,5% face ao ano passado.
Este número foi afectado pela venda do Banco Terra Moçambique e a consequente redução do resultado líquido de 3,7 milhões devido à reciclagem da reserva cambial de uma participação denominada em reais, realizada como medida de preservação do capital, no valor de 4,1 milhões e a provisão para a coima fruto do processo de contra-ordenação do Banco de Portugal em 2009 e 2014, no valor de 2,5 milhões de euros.
Excluindo o efeito destes fatores o lucro teria sido de 30 milhões de euros, “com tudo o mais constante”. Carlos Tavares falou de “melhoria da saúde e balanço do banco”. No entanto a rentabilidade dos capitais próprios está num nível muito baixo, embora positivo, de 0,8%, longe da meta prevista no plano que descreve os objetivos do banco e que prevê que o ROE seja de dois dígitos entre 2021 e 2023. Para cumprir essa meta é preciso reduzir o crédito non-performing (NPL) para abaixo dos dois dígitos (abaixo de 10%), explicou o CFO do banco, Pedro Ventaneira, send0 que neste momento o rácio está em 14,35% do total da carteira.
Pedro Ventaneira explicou ainda que os reguladores querem que o banco se aproxime o mais depressa possível do rácio definido pela EBA e pelo BCE, que querem como limiar máximo os 5% de peso do malparado no total da carteira. “Até para não sermos classificados um NPL bank”, disse Pedro Ventaneira.
Recorde-se que os números apresentados por José Félix Morgado para 2018 tinham sido positivos em 30,1 milhões de euros, pelo que os resultados recorrentes ficariam em linha com esses se não tivessem sido corrigidos por Carlos Tavares quando assumiu a presidência da instituição. Os resultados consolidados traduzir-se-iam numa forte descida face aos lucros de Félix Morgado.
Carlos Tavares assumiu funções em março de 2017 e corrigiu as contas do seu antecessor, divulgando na altura lucros de apenas 6,4 milhões de euros. E é esta a quantia que serve de comparação às contas atuais.
Menos ganhos com dívida pública e redução de imparidades
A evolução do lucro em 2018 evidencia também o impacto desfavorável associado à não repetição dos ganhos realizados em 2017 com a alienação de parte substancial da carteira da dívida pública (84 milhões) que foi compensado, positivamente, pela redução da constituição de imparidades e provisões relevadas em resultados em 94 milhões.
O banco acabou ainda por revelar que a atual exposição à dívida soberana italiana era marginal (100 milhões).
O banco disse ainda que o valor dos impostos diferidos reflete a anulação de um ativo por impostos diferidos (DTA) de 33 milhões que havia sido constituído em 2016, quando a anterior administração prévia alienar a Montepio Holding, o que acarretaria uma perda. Mas o banco liderado por Carlos Tavares e Dulce Mota pretende alienar as participações internacionais e desenvolver as nacionais e por isso tiveram de anular os DTA.
Pedro Ventaneira, CFO do banco, explicou na apresentação de resultados que as imparidades para crédito em balanço foram de 76 milhões de euros. Mas há mais 146 milhões de imparidades constituídas por conta dos capitais próprios devido ao ajustamento decorrente da aplicação das regras contabilisticas de IFRS 9. Assim as imparidades totalizaram 222 milhões de euros, o que compara com 160 milhões de imparidades para crédito em 2017.
A cobertura do crédito por imparidades aumentou mas o custo do risco de crédito subiu de 1,09% para 1,62%.
O rácio de malparado (NPL) atingiu 14,3% caindo 2,4 pontos percentuais face ao rácio proforma em final de 2017. O banco reduziu o stock malparado que caiu de 2,3 mil milhões para 1,8 mil milhões com a venda de NPL e write-offs.
O Montepio, que tem Dulce Mota como CEO, vendeu uma carteira de 239 milhões de euros de NPL denominado Projeto Atlas que encerrou uma perda de 8,4 milhões de euros e registou write-off de 150 milhões de euros.
O banco tinha previsto ainda vender uma carteira de crédito que designou de projecto Cascais, mas essa venda está ainda a correr e não foram avançados detalhes, nem timings. Apenas foi dito pelo administrador do banco que era uma operação que estava em aberto e não estava ainda definido se era por vendas de carteiras diretamente ou se por securitização.
O banco viu a margem cair de 266 milhões para 248 milhões de euros “associado à ausência do rendimento da carteira de títulos de dívida pública alienada em 2017 estimado em cerca de 28 milhões e o efeito positivo relacionado com o recálculo dos juros do BCE de 8 milhões. Excluindo estes efeitos, à margem financeira ficaria praticamente estável relativamente ao valor apurado em 2017”, ressalva o banco.
As comissões somaram 118 milhões em 2018, registando uma redução de 1,2% o que traduz “o efeito dos menores proveitos com comissões de crédito”.
Os custos operacionais em 2018 atingiram 260 milhões, traduzindo uma diminuição de 9 milhões face ao valor de 2017, refletindo, negativamente, os impactos do descongelamento de salários e das carreiras, do aumento do custo com o Fundo de Pensões e do pagamento de indemnizações a anteriores membros dos órgãos sociais, e, positivamente, o impacto da reclassificação dos proveitos com a cedência de colaboradores.
O rácio de eficiência atingiu os 69,3%, pior que no ano passado que foi de 67,2%.
No balanço os depósitos de clientes estabilizaram, se for expurgado um “depósito Réveillon”, de um cliente institucional, porque entrou em dezembro de 2017 e saiu em janeiro de 2018, no valor de 405 milhões.
O crédito a clientes bruto situou-se em 13.078 milhões de euros, o que traduz uma descida de 7% face ao valor observado no fim de 2017, determinado pelas reduções de carteira de crédito à habitação e às empresas, bem como pelo abate da carteira de crédito em incumprimento (venda de carteiras). Sem esses efeitos a descida do crédito teria sido de 4,5%, explicou o banco.
O rácio de transformação de recursos de clientes em crédito caiu para 88,7%.
Em termos de capital o banco registou um CET1 de 13,5% (phasing-in) e um rácio de capital de 14,1%, mas nada foi ainda avançado quanto às exigências de capital regulatório para o banco em 2019, ao nível do Pilar 2.
Os ativos ponderados pelo risco caíram 1.105 milhões de euros.
Quebra dos capitais próprios
O banco registou uma quebra dos capitais próprios no valor de 182 milhões em 2018 por causa do ajustamento da IFRS 9 no montante negativo de 96 milhões de euros; ao apuramento de reservas cambiais negativas de 33 milhões de euros; devido à relevação dos desvios atuariais desfavoráveis do Fundo de Pensões de 35 milhões de euros; à evolução desfavorável da reserva de justo valor de 37 milhões (que tem a ver com a redução do valor em participações e títulos detido para venda, como dívida pública) e, positivamente, com a contabilização do resultado líquido positivo de 12,6 milhões.
Recorde-se que o Banco Montepio fez uma emissão de obrigações subordinada de 50 milhões de euros através de um private placement junto do acionista, a Associação Mutualista Montepio Geral, a uma taxa de juro de 8%.
Na altura foi explicado que esta emissão serviu para aumentar os rácios de capital do banco liderado por Carlos Tavares para cumprir as novas exigências de capital regulatório em vigor desde 1 de janeiro deste ano, impostos pelo supervisor.
A partir de janeiro o Banco de Portugal aumentou as exigências de reserva de conservação de fundos próprios e de risco sistémico, exigindo um rácio de capital total de 13,625% à Caixa Económica Montepio Geral.
Este rácio exigido pelo regulador compara com o rácio mínimo que era exigido até ao fim de dezembro que era de 12,938%.
Carlos Tavares defendeu, em suma, que hoje o balanço é mais saudável porque o crédito e juros vencidos há mais de 90 dias caíram 261 milhões num ano; o rácio de Crédito e Juros Vencidos acima de 90 dias é de 6,8%, em dezembro de 2018 versus 8,2% de 2017 e que a cobertura destes créditos está nos 108,4% quando era de 90,2% em dezembro de 2017.
Ao nível dos NPL a variação anual de dezembro de 2017 para dezembro de 2018 caiu 478 milhões de euros e a cobertura de NPL por imparidades está em 51,2%.
O balanço é hoje mais saudável para o Chairman do Montepio porque os ativos não correntes detidos para venda e as propriedades de investimento (imóveis) reduziram 290 milhões (-22,6%).
(atualizada)
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