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Estudo da EY prevê mais de 500 milhões de carros eléctricos em 2030 na Europa

A conclusão consta de um novo relatório da EY e da Eurelectric. “À medida que a eletrificação acelera, garantir a relação custo-eficácia, a estabilidade e a eficiência da rede elétrica exigirá a gestão de como e quando é que os VE são carregados, assim como a utilização da eletricidade armazenada na bateria para fornecer serviços de flexibilidade de valor à rede elétrica”, revela o estudo.
Mark Blinch / Reuters
5 Março 2025, 20h23

A EY prevê que, até 2030, haverá mais de 50 milhões de veículos elétricos (VEs) nas estradas europeias, representando 15% do parque automóvel total.

A conclusão consta de um novo relatório da EY e da Eurelectric. “À medida que a eletrificação acelera, garantir a relação custo-eficácia, a estabilidade e a eficiência da rede elétrica exigirá a gestão de como e quando é que os VE são carregados, assim como a utilização da eletricidade armazenada na bateria para fornecer serviços de flexibilidade de valor à rede elétrica”, revela o estudo.

O novo relatório da EY e da Eurelectric – Plugging into potential: unleashing the untapped flexibility of EV – explora a forma como o carregamento inteligente unidirecional, que permite aos VEs retirar energia da rede em momentos ótimos, e a tecnologia vehicle-to-grid (V2G), que permite aos VEs retirar energia e enviar eletricidade de volta à rede, podem reduzir o custo total de propriedade (TCO – total cost of ownership) para os consumidores, fornecer soluções de equilíbrio da rede e acelerar a adoção de energias renováveis.

O relatório da EY e da Eurelectric defende que o carregamento inteligente e carregamento bidirecional (V2G) são fundamentais para a poupança de custos, a estabilidade da rede e a integração das energias renováveis.

“A adoção de um veículo elétrico, carregamento inteligente e venda de energia de volta à rede poderão poupar aos proprietários de automóveis familiares uma média de 20% do custo total de propriedade do veículo”, acrescenta o estudo.

Por sua vez a flexibilidade “ajudará a gerar poupanças anuais de 4 mil milhões de euros para os operadores de rede europeus” e “até 2030, os veículos elétricos poderão contribuir com 4% do fornecimento anual de energia da Europa – o suficiente para abastecer 30 milhões de casas por ano”.

Serge Colle, EY Global Power & Utilities Leader, considera que até 2030, “os recursos de flexibilidade em toda a Europa terão de mais do que duplicar para acompanhar o ritmo de um sistema elétrico cada vez mais variável”.

“Os veículos elétricos – já muitos e a crescer rapidamente em número – são um recurso facilmente disponível, escalável e rentável para proporcionar essa flexibilidade. Ao transferir o carregamento dos VE para horários otimizados e ao permitir o V2G, é possível reduzir substancialmente os custos de energia para os consumidores, aliviar a pressão sobre a rede e apoiar a integração das energias renováveis no sistema energético”, acrescenta.

Já José Roque, Consulting Energy Lead EY Portugal, refere que “a possibilidade de os veículos elétricos não só carregarem, mas também fornecerem energia elétrica à rede (V2G – Vehicle to grid), beneficiará não só o proprietário do veículo pois passa a poder monetizar a energia do seu veículo mas também beneficia a rede de distribuição elétrica pois permitirá, em escala e de forma digital, uma melhor gestão de procura e oferta de energia elétrica.”

“Na E-Redes estamos a testar o potencial dos mercados locais de flexibilidade. Neste modelo de negócio, os VEs terão um papel valioso, uma vez que beneficiam de um perfil de carga flexível e, ao mesmo tempo, estão bem distribuídos pela rede”, avança, por sua vez, João Rafael, Gestor de Projeto Sénior da E-REDES, uma das empresas que integra o relatório da EY e da Eurelectric.

“Com a curadoria de profissionais da EY – e a sua vasta experiência nos setores energético, automóvel, governamental e tecnológico, este estudo baseia-se em entrevistas com fabricantes de automóveis, empresas gestoras de postos de carregamento para viaturas elétricas e empresas de flexibilidade e tecnologia, fornecedores de energia, retalhistas de energia, operadores das redes de distribuição (ORD) e organismos da indústria”, explica a consultora que acrescenta que o estudo tem também por base os conhecimentos de profissionais do organismo europeu do setor da energia Eurelectric e dos seus membros.

Flexibilidade dos VEs permite poupanças de custos significativas para os consumidores

O estudo conclui que o aproveitamento da flexibilidade dos VEs pode reduzir significativamente o custo total de propriedade dos veículos para os consumidores, quando comparado com um veículo com motor de combustão interna.

A EY calcula que, simplesmente mudando para um veículo elétrico equivalente, podem ser realizadas poupanças anuais de 4% no segmento compacto, 9% no segmento de veículos familiares e 14% para veículos utilitários desportivos/grandes (SUV), em média, em seis mercados-chave na Europa. No entanto, embora as poupanças variem de mercado para mercado, o estudo conclui que, quando carregado devidamente e recompensado pela venda de energia à rede, o custo total de propriedade do veículo diminui significativamente:

“Um proprietário de um veículo elétrico compacto no Reino Unido pode poupar até 19% (1.230 euros por ano). Na Alemanha, Suécia e Espanha, o custo total de propriedade pode ser reduzido até 14%. Em França e nos Países Baixos, podem ser obtidas poupanças de 7% e 9%, respetivamente”, refere.

O segmento familiar poderá recompensar os condutores com uma poupança anual de 15% (1.200 euros) em França, aumentando para 23% (1.800 euros anuais) na Alemanha.

No segmento dos SUV, os condutores do Reino Unido poderão realizar poupanças até 26% por ano, enquanto os seus homólogos alemães poderão beneficiar de poupanças de 29% (3.000 euros).

O estudo revela ainda que o carregamento inteligente e o V2G não são apenas benéficos para os proprietários de veículos elétricos. São essenciais para gerir o congestionamento da rede e reduzir os custos de investimento.

O relatório conclui que “ao investir antecipadamente para satisfazer a procura futura, otimizar a rede e utilizar a flexibilidade dos ativos disponíveis, os operadores de rede europeus poderão beneficiar de uma poupança estimada de 4 mil milhões de euros por ano”.

Por outro lado, “até 2030, os veículos elétricos poderão contribuir com até 4% do fornecimento anual de energia da Europa, o que equivale a 114 TWh – o suficiente para abastecer 30 milhões de casas”.

Por fim “em 2040, se todos os veículos elétricos tiverem capacidade de carregamento bidirecional, mais de 10% das necessidades energéticas da Europa poderão ser armazenadas e reinjetadas quando necessário”, conclui o relatório.

A EY diz que com o cabaz energético da Europa a mudar rapidamente para as energias renováveis, a capacidade de armazenar e descarregar energia quando necessário está a tornar-se crítica.

O relatório destaca que “os casos de preços negativos da eletricidade aumentaram 160% em relação ao ano anterior. Estes casos foram registados em quase todos os mercados europeus da eletricidade, impulsionados pelo crescimento da capacidade de produção subsidiada e indiferente aos preços, como a energia nuclear e a energia solar nos telhados, combinado com uma baixa procura”.

A procura de flexibilidade duplicará na Europa até 2030, defende a EY que acrescenta que a flexibilidade dos veículos elétricos pode ajudar a evitar a redução das energias renováveis e garantir a disponibilidade de energia quando a procura atinge os seus picos.

“Isto torna o carregamento unidirecional e bidirecional não tanto uma opção, mas uma necessidade. Os veículos elétricos têm o potencial de fornecer uma das soluções mais acessíveis, escaláveis e flexíveis para as necessidades energéticas localizadas, ao mesmo tempo que reduzem o preço do investimento na rede”, refere.

“A adoção em massa de VEs está a acontecer, mas para realmente desbloquear o seu valor, temos de os integrar na rede como ativos de flexibilidade. O carregamento inteligente e o V2G serão os principais facilitadores desta transição”, defende Kristian Ruby, Secretário-Geral da Eurelectric.

Com a previsão de que a procura de energia na Europa ultrapasse os 4500 TWh até 2050, “o carregamento inteligente e o V2G devem ser integrados desde já no planeamento do sistema energético, incentivando a participação dos consumidores na flexibilidade”, ainda segundo o estudo.

 

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