[weglot_switcher]

“Exigências regulatórias na Europa podem ser simplificadas”, diz CEO do Santander

Pedro Castro e Almeida defende que os requisitos regulatórios nos Estados Unidos podem ser parecidos com os da Europa, mas acabam por ser previsíveis. “Sabemos o que vai acontecer nos EUA nos próximos 10 anos, na Europa isso é impossível”, afirma.
12 Março 2025, 11h25

Simplificar as medidas regulatórias pode ser um primeiro passo para os bancos europeus serem mais competitivos em relação aos Estados Unidos e não perderem capacidade de atração. Esta foi uma das principais mensagens transmitidas pelos principais CEO’s dos bancos portugueses no painel ‘Banca: o setor está no topo. E agora?’, inserido no Fórum Banca, iniciativa promovida pelo Jornal Económico que decorre esta quarta-feira, 12 de março, no Hotel da Lapa, em Lisboa.

A regulação financeira da UE versus a dos Estados Unidos é um dos temas que ganha palco em 2025, pois discute-se se a Europa deve manter regras mais rigorosas do que as norte-americanas, em nome da competitividade.

“Não sou favorável a uma grande desregulamentação na Europa, mas há exigências regulatórias que podem ser simplificadas”, referiu Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta distinguindo regulação de simplificação e acrescentando que os requisitos regulatórios nos Estados Unidos podem ser parecidos com os da Europa, mas acabam por ser previsíveis, ao contrário do que acontece no Velho Continente.

“Sabemos o que vai acontecer nos Estados Unidos nos próximos 10 anos, na Europa isso é impossível”, sublinhou, realçando que há uma perda de competitividade muito grande da economia e do sistema financeiro europeu.

“Atingimos um pêndulo de tal maneira extremo na Europa, em termos de complexidade regulação, que acho que se tem de recuar”, sublinhou o CEO do Santander Totta.

Por sua vez, João Pedro Oliveira e Costa, CEO do BPI alertou para o facto da Europa estar a “tornar-se irrelevante”, em comparação com o bloco chinês e americano e que é preciso ir além das regras, citando o relatório Draghi. “Um dos temas é a capacidade de se reinventar, nomeadamente através do investimento em tecnologia e inovação”, disse.

“Neste momento estamos num mundo de grande transformação. A transformação e inovação tem de ter uma capacidade de arriscar e ir mais além das regras”, salientou.

O CEO do BPI apontou que há um problema da burocracia inerente à regulação.

Sobre esta a questão regulatória, Miguel Maya, CEO do Millenium BCP, defendeu que “é preciso ligar o descomplicómetro” na Europa para que esta possa crescer.

Entre a eficiência e falta de competitividade dos bancos, questionou se são mais eficientes os grandes bancos ou os mais ágeis. “O que condiciona a nossa capacidade de crescimento é o capital e se temos uma posição de liquidez invejável capaz de acompanhar a economia”, afirmou, realçando que Portugal é hoje uma referência na eficiência dos seus bancos.

Já Licínio Pina, CEO do Crédito Agrícola assumiu que o regulador é muito intrusivo e se calhar tem de ser assim. “Têm o nível de intrusão que entendem. Não comento, apenas obedeço, mas aquilo que gostaria de ver era uma equidade”, referiu.

“Estamos perante uma situação inédita de sistematicamente assistirmos alterações de dia para dia”, o que afeta a confiança, reconheceu, no entanto, o CEO do banco vocacionado para o setor agrícola.

Deu o exemplo da situação de financiar o setor da defesa.  “Nós temos na nossa política de risco que não se deve financiar essa atividade. Mas, eis se não quando, a Europa vem dizer que essa área é prioritária”, referiu Licínio Pina.

Por fim, Pedro Leitão, CEO do Banco Montepio recorreu a um provérbio para analisar o atual momento de competitividade da Europa em relação aos Estados Unidos. “Quando dois elefantes lutam, quem se lixa é o capim e a Europa deixou de querer ser elefante”, sublinhou.

“Há um tema de level playing field de algumas componentes da regulação em Portugal, para os bancos mais pequenos, mas para os bancos desta dimensão que estão aqui sentidos, eu não sinto que haja essa assimetria”, disse.

Pedro Leitão disse ainda que há um motivo para os bancos norte-americanos terem um price to book value  é de cerca de 1,4 e na Europa ronda o 1 (valor de mercado, igual ao valor contabilístico). “É por causa da quantidade de reguladores que temos cá e que regulam, por exemplo, cada um dos bancos que estão aqui”, disse o CEO do Banco Montepio.

Já Miguel Maya defendeu “os progressos do enquadramento regulatório bancário desde a implementação do Mecanismo Único de Resolução” para a credibilidade das instituições. “Tem de haver um cuidado de simplificação, mas não é um processo de desregulamentação”, disse.

Pedro Castro e Almeida, CEO do Santander Totta, que uma vez disse que “Bruxelas era o Silicon Valley da burocracia”, defendeu que o que falta é uma agenda de crescimento na Europa.

“O importante, para ter crescimento, é ter na banca um responsável de risco que não queira ter risco zero”, defendeu o banqueiro.

 

RELACIONADO
Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.