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Estados Unidos enfrentam perigo de recessão no primeiro semestre de 2025

Avolumam-se sinais preocupantes de que a economia dos Estados Unidos pode estar a caminhar para a recessão. Por trás estão as metástases da política de tarifas aduaneiras, que está a deixar Wall Street nervosa e a Casa Branca indiferente.
14 Março 2025, 12h36

Prevê-se uma recessão nos Estados Unidos (EUA) para o primeiro semestre de 2025, preparando o terreno para a maior perturbação económica desde a crise financeira mundial de 2008. É este o alerta severo do CEO da organização global de consultoria financeira e gestão de ativos, a deVere Group, à medida que as crescentes pressões sobre os principais indicadores económicos estão a convergir, tornando esta crise cada vez mais inevitável.

“Os investidores precisam de se preparar desde já, pois as consequências criarão vencedores e vencidos nos mercados globais”, refere a consultora, que está longe de ser a primeira a chamar a atenção para os enormes riscos económicos que comportam as opções do presidente Donald Trump desde que regressou à presidência do país.

“As fissuras na economia dos EUA estão a aprofundar-se. As políticas tarifárias intermitentes e erráticas de Trump introduziram maior incerteza para as empresas e para os investidores. O mal já está feito. Ondas de incerteza no mercado cobraram o seu preço, a confiança dos investidores foi abalada e as empresas estão a lutar para reduzir custos que nunca pediram. Os fluxos comerciais globais estão a adaptar-se a um mundo em que os EUA já não são o ator dominante e fiável que já foram”, refere o analista. “Além disso, o crescimento está estagnado sob o peso de taxas de juro ainda elevadas, tensões inflacionistas persistentes e incertezas geopolíticas crescentes”, afirma Nigel Green.

“Os gastos dos consumidores — a base de longa data da resiliência económica dos EUA — estão a mostrar sinais claros de fadiga. Os dados das vendas a retalho sugerem que as famílias estão a dar prioridade às necessidades em vez das compras discricionárias, um precursor clássico da contração económica. Entretanto, o investimento empresarial está a arrefecer, com as empresas a recuarem nos planos de expansão em antecipação de uma procura mais fraca”.

O analista refere ainda que os relatórios de lucros das empresas já sugerem margens reduzidas, e a força do mercado de trabalho — outrora um fator tranquilizador — parece agora mais frágil do que os números principais sugerem.

A taxa de fundos federais atual da Reserva Federal é de 4,25%–4,50%, conforme confirmado durante a sua reunião de janeiro de 2025. Embora estas taxas tenham sido mantidas elevadas para combater a inflação, a pressão económica está a tornar-se cada vez mais evidente. Neste contexto, as taxas hipotecárias continuam elevadas, com a taxa média fixa de hipotecas a 30 anos a oscilar em torno dos 6,65%, prejudicando ainda mais o sentimento dos consumidores e das empresas.

“Esperamos que a Reserva Federal comece agora a cortar as taxas para contrariar uma desaceleração mais acentuada. Mas a eficácia destes cortes permanece incerta, uma vez que as pressões recessivas já estão firmemente estabelecidas”, observa o CEO da deVere.

Para a economia global, as ramificações serão profundas. Os EUA continuam a ser a maior economia do mundo e, à medida que vacilam, terão impacto em países muito para além das suas fronteiras. Os principais parceiros comerciais, desde a Europa e Austrália à América Latina e Ásia, enfrentarão uma procura de exportação em declínio.

Os mercados emergentes, especialmente aqueles com elevada exposição à dívida, são especialmente vulneráveis. A volatilidade da moeda irá provavelmente aumentar, tornando os ativos sensíveis ao risco ainda mais imprevisíveis.

No mundo corporativo, os receios de recessão já estão a mudar comportamentos, refere a consultora. Os congelamentos de contratações e despedimentos estão a ganhar força em vários setores, desde a tecnologia aos serviços financeiros. As empresas de private equity estão a interromper aquisições, temendo pagar demasiado num ambiente onde as avaliações podem cair.

Os mercados de crédito estão a tornar-se mais restritos, e as pequenas empresas — mais dependentes de financiamento acessível — já estão a sentir a pressão. À medida que o crescimento abranda, o sentimento do mercado muda em conformidade.

Entretanto, os mercados bolsistas dos EUA estão a dar sinais de alerta. O Nasdaq e o S&P 500 estão agora em território de correção, refere o analista, reforçando os receios de que a crise esteja a acelerar. No entanto, mesmo em tempos de crise, surgem oportunidades. “Há sempre vencedores e vencidos”, diz Nigel Green. “Os setores defensivos, como a saúde e os bens de consumo básicos, estão posicionados para enfrentar a tempestade melhor do que a maioria. Os ativos de refúgio seguro, incluindo ouro e obrigações de alta qualidade, provavelmente despertarão um interesse renovado por parte dos investidores. “Os investidores com liquidez terão oportunidades de comprar ativos de qualidade a preços reduzidos à medida que o medo se apodera dos mercados.

“A maior questão agora é quão profunda e prolongada pode ser esta recessão. Os decisores políticos enfrentarão inevitavelmente pressão para responder, mas as suas ferramentas são limitadas. Os cortes das taxas esperados pela Fed podem proporcionar algum alívio, mas ocorrem numa altura em que a inflação, embora a diminuir, ainda persiste. A eficácia da flexibilização monetária dependerá de se as empresas e os consumidores recuperarem a confiança com a rapidez suficiente para evitar uma recessão prolongada”.

Para Nigel Green, “os investidores não podem dar-se ao luxo de complacências. Agora é o momento de reavaliar as carteiras, proteger-se contra a volatilidade e aproveitar as mudanças na dinâmica do mercado. Manter excesso de dinheiro pode não ser a melhor opção, pois a inflação ainda persiste, corroendo o poder de compra. Em vez disso, a realocação estratégica para ações de qualidade, ativos defensivos e diversificação global será fundamental para prosperar na turbulência que se avizinha”, aconselha o analista. “Acreditamos que a contagem decrescente para uma recessão nos EUA começou.”

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