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Turquia insiste em aprofundar relações com a União Europeia

O novo paradigma de segurança da Europa tem tudo a ganhar com o apoio da Turquia, diz Ancara. Bruxelas está cético, mas Londres está em rota de aproximação ao antigo império otomano.
Recep Tayyip Erdogan
17 Abril 2025, 13h00

Há pouco mais de um mês, o presidente Recep Erdogan – que internamente vive em plena crise política – participou num encontro com líderes do Reino Unido, Canadá, e autoridades da União Europeia sobre a segurança na Europa. Apesar da sua ambição e das promessas do bloco, a Turquia nunca foi membro pleno do clube exclusivo da União Europeia – mas o novo quadro estratégico europeu, que resulta do afastamento claro dos Estados Unidos, muda tudo, pelo menos na ótica de Ancara.

A Turquia, com o segundo maior exército da NATO e uma imensa costa no Mar Negro – que voltou à sua condição de estrategicamente imprescindível – tenta desempenhar um papel de relevo na segurança da Europa. Após duas rondas de negociações sobre a Ucrânia, Ancara foi rápida em alertar que as defesas europeias não podem ser garantidas sem o seu envolvimento, referem com insistência analistas turcos.

“É inconcebível estabelecer a segurança europeia sem a Turquia”, disse o presidente Recep Erdoğan após uma visita a Londres no último domingo – que gerou algumas manifestações de protesto. Sem a Turquia, “é cada vez mais impossível para a Europa continuar o seu papel como ator global”, acrescentou.

Ancara tem defendido a integridade territorial da Ucrânia desde o início do conflito Rússia-Ucrânia em 2022, fornecendo drones de combate e navios de guerra à Ucrânia. Mas também mantém laços com a Rússia e continua a ser o único membro da NATO que não aderiu às sanções contra Moscovo. É este quadro que tem permitido a Ancara ser um dos poucos vasos comunicantes entre todos os envolvidos e tem fundadas esperanças de vir a ter um papel de maior relevo nas negociações de paz.

Por outro lado, a Turquia desenvolveu nos últimos anos uma indústria de defesa cujas exportações cresceram 29% em 2024, atingindo 7,1 mil milhões de dólares em 2024 – o 11º lugar nas exportações globais de defesa. O que impulsiona este sucesso são os drones Bayraktar TB2, segundo avança a imprensa turca, vendidos para mais de 25 países, entre eles a Polónia e a Roménia. Mas esse não será com certeza o tipo de material que a Europa terá de procurar para aumentar o seu poder militar, disse ao JE um analista de assuntos internacionais. “A Europa não vai armar-se com drones”, mas com artilharia pesada, aviões de combate e tanques de guerra, disse.

Mas vale a pena não esquecer que as forças armadas, estrategicamente localizadas no flanco leste da Aliança Atlântica e ao sul do Mar Negro, controlam o acesso via Bósforo e contam com 373.200 soldados ativos e outros 378.700 reservistas. É para todos os efeitos uma posição estratégica que, aliás, foi sempre fortemente cobiçada pela Europa – uma vista ao Acordo Sykes-Picot, fechado em maio de 1916 entre a França, a Inglaterra e a Rússia e que previa a repartição do na altura ainda existente império otomano (e a atribuição a Moscovo da posse de Istambul) vale sempre a pena. Ironia da história: o acordo era secreto e só se tornou conhecido porque o império russo se desfez ainda antes do otomano e Vladimir Lenine (que, diz-se, o encontrou inadvertidamente numa gaveta, entendeu que o devia tornar público.

“A Turquia tem mantido uma atitude consistente, em conformidade com a Carta da ONU sobre a soberania e a integridade territorial” da Ucrânia, disse à Agência France-Presse (AFP) um analista do International Institute for Strategic Studies’ (IISS), Tom Waldyn. “Tem o segundo maior exército da NATO, mas também o mais eficaz, já que está em combate há décadas”, explicou. Mas a cooperação da UE com Ancara tem sido prejudicada pela disputa cipriota, “Por quanto tempo podemos nos dar ao luxo de manter essa postura?”

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