[weglot_switcher]

Moscovo coloca empresa dos EUA expropriada a fornecer o exército

Uma teia de interesses corporativos levou uma empresa norte-americana apreendida a transformar-se num dos fornecedores do exército de Moscovo, segundo investigação da agência Reuters.
Russian President Vladimir Putin delivers a video address on the occasion of Youth Day in Moscow, Russia, in this picture released June 24, 2023. Sputnik/Gavriil Grigorov/Kremlin via REUTERS
17 Abril 2025, 15h53

Estão em andamento planos para que uma empresa norte-americana apreendida pelo Kremlin e colocada sob controlo estatal seja usada para fornecer alimentos ao exército russo, revela um documento citado pela agência Reuters. O plano pode colocar em causa as relações entre os dois países. Enquanto Washington e o Kremlin negoceiam para acabar com a guerra na Ucrânia, a fabricante de alimentos enlatados Glavprodukt, que foi apreendida em outubro e é a única empresa de propriedade norte-americana sob controlo estatal russo, está no radar da polémica.

A apreensão foi necessária para garantir uma produção estável de fornecimentos para a guarda nacional e o Ministério da Defesa, de acordo com uma carta a que a agência teve acesso, endereçada ao procurador-geral da Rússia pela nova administração da Glavprodukt. A empresa está agora sob o controlo da agência federal de gestão de propriedades da Rússia, a Rosimushchestvo, quando antes era detida por Leonid Smirnov, sediado em Los Angeles.

Os promotores russos acusaram Smirnov e empresas por ele controladas de transferir cerca de 1,38 mil milhões de rublos (17 milhões de dólares) para fora da Rússia de 2022 a 2024, informou o jornal RBC em março, igualmente citado pela Reuters. Em 12 de março, os bens de Glavprodukt foram apreendidos pelo Tribunal de Arbitragem de Moscovo a pedido do gabinete do procurador-geral. Uma audiência está marcada para 18 de abril, mas Smirnov nega qualquer irregularidade e diz que o processo é um “ataque corporativo ao estilo russo” para lhe retirar a empresa.

Mais de uma dezena de empresas europeias viram as suas subsidiárias russas expropriadas por decreto presidencial, incluindo a cervejaria dinamarquesa Carlsberg e a concessionária finlandesa Fortum – além de outras que tiveram de ser vendidas a investidores russos por valores irrisórios. Com o arrastar da guerra, a Rússia aumentou os gastos com defesa e decidiu garantir um controlo mais rígido dos ativos estratégicos.

A carta referida pela Reuters lança luz sobre as pessoas que têm a ganhar com a expropriação: a Rosimushchestvo nomeou o novo diretor-geral da Glavprodukt a pedido do produtor de alimentos Druzhba Narodov, o único fornecedor da guarda nacional da Rússia em 2019-20, de acordo com um comunicado de imprensa de 2018, sendo que a Glavprodukt nunca forneceu o exército da Rússia.

Uma investigação de 2018 do Fundo Anticorrupção do falecido político da oposição Alexei Navalny revelou que o então primeiro-ministro Dmitry Medvedev assinou um documento em 2017 que transformava a Druzhba Narodov no único fornecedor da guarda nacional.

As informações de propriedade do Druzhba Narodov são confidenciais, mas o jornal russo Kommersant informou em 2022, citando informações então disponíveis publicamente no registo corporativo russo EGRUL, que entidades ligadas à agricultura adquiriram a Druzhba Narodov. O proprietário final da holding é Alexander Tkachev, de acordo com os registos da auditoria independente de 2025 da empresa. Tkachev, sancionado pela União Europeia em 2014 pelo seu apoio à anexação da Crimeia, foi nomeado ministro da Agricultura da Rússia no ano seguinte e é o presidente da holding.

Copyright © Jornal Económico. Todos os direitos reservados.