O analista António José Duarte destacou ao JE que o blackout energético que teve lugar esta segunda-feira pode representar um autêntico “cisne negro”, expressão utilizada nos mercados financeiros para definir “um acontecimento raro, imprevisível e com consequências profundas”.
“Independentemente da sua causa, o evento revelou como, por mais avançado que pareça, o sistema atual de transição energética não está preparado para lidar com disrupções severas, sobretudo quando falham os mecanismos de redundância que deveriam garantir a continuidade da vida em sociedade tal como a conhecemos”, destacou este analista ao JE
No entender deste analista, “as energias renováveis, embora essenciais para um futuro mais sustentável, apresentam limitações técnicas que não podem ser ignoradas e como tal não podem constituir a redundância”.
“À noite, a ausência de sol compromete a produção solar, e a intermitência do vento afeta a fiabilidade da energia eólica. Este cenário demonstra que não basta substituir fontes fósseis por renováveis sem uma infraestrutura de suporte robusta, capaz de assegurar fornecimento contínuo e estável, mesmo em situações adversas. Sem soluções eficazes de armazenamento e fontes complementares, o sistema permanece vulnerável”, destacou.
Para António José Duarte, a lição de ontem “é clara”: “A transição energética não pode ser feita apenas com entusiasmo e objetivos ambientais. É necessária uma abordagem estratégica, com investimento real em redes, tecnologias de backup e resiliência sistémica”, sublinhou.
“Mais do que impactos nos mercados de capitais a nível ibérico que se farão sentir sobretudo através do aumento das taxas de retorno exigidas, devido ao risco acrescido associado às renováveis- o episódio lança dúvidas profundas sobre a real capacidade do Mercado Ibérico da Energia Eléctrica de garantir estabilidade e segurança associada à discussão sobre o trade-off entre a distribuição de dividendos aos acionistas e os investimentos ainda por realizar nas infraestruturas energéticas — um dilema que poderá definir o futuro da segurança energética na Península”, conclui este analista.
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