As entidades financeiras portuguesas estão entre as mais otimistas na Europa sobre o crescimento futuro do crédito ao consumo. Esta é uma das conclusões do mais recente survey da Roland Berger e da European Federation of Finance House Associations (Eurofinas),que representa as principais instituições financeiras de Crédito ao Consumo da Europa.
“A principal conclusão deste survey indica que o segmento do crédito ao consumo apresenta claras perspetivas de crescimento para os próximos anos, em particular do crédito pessoal”, afirma Luís Baptista, Principal da Roland Berger e responsável pela área de banca na consultora.
O estudo, que avalia as expectativas e tendências para o crédito ao consumo para 2021 e envolveu 92 entidades financeiras de 13 países, concluiu que mais de um terço dos inquiridos portugueses acredita num crescimento acima de 10% versus uma média de cerca de 17% para os restantes países.
“Também é de registar a expectativa de que as instituições de crédito especializadas irão continuar a ter um posicionamento relevante neste segmento, apresentando em média uma melhor performance e capacidade de adaptação, fruto da sua especialização, agilidade de processos e eficiência de custos”, refere o comunicado do estudo.
“A implementação da transformação digital, embora ainda atrasada em Portugal, em particular face a outras realidades europeias (ex. Países Nórdicos) é claramente uma tendência e encontra-se no topo da agenda estratégica de todas as instituições financeiras, sendo que as alterações regulamentares provocadas pela diretiva PSD2 abrem um conjunto de oportunidades muito relevantes, possibilitando novas linhas de negócio, parcerias e uma nova abordagem ao produto de crédito”, explica o responsável pela área de banca a Roland Berger na nota enviada às redações.
Segundo o estudo há sete tendências futuras para o crédito ao consumo:
Otimismo e expectativas generalizadas de crescimento para os próximos anos
Mais de 95% dos inquiridos afirmam ter perspetivas muito positivas de crescimento futuro em termos de volume de concessão para os próximos anos, em particular no crédito pessoal. Portugal aparece mesmo como um dos países (a par da França) onde as entidades financeiras estão mais otimistas sobre o crescimento futuro deste segmento (mais de um terço dos inquiridos portugueses acreditam num crescimento acima de 10% versus uma média de cerca de 17% para restantes países). Há uma tendência de pressão continuada sobre as taxas médias, resultado de clima de baixas taxas de juro, aumento de concorrência e algumas limitações nas taxas máximas por parte de Supervisores. Portugal é um dos países mais pessimistas em termos da evolução de margens neste negócio.
Instituições Financeiras Especializadas continuarão a ter melhores performances
As instituições financeiras especializadas tendem a continuar a apresentar melhores indicadores de rentabilidade e margem do que os modelos de negócio mais tradicionais (ex, banca de retalho), fruto de uma maior especialização e processos mais eficientes. Por outro lado, o crescimento e ganho de relevância das plataformas digitais, em particular num ambiente regulatório mais propenso ao estabelecimento de parcerias (ex. PSD2 e Open Banking) irá favorecer as entidades que melhor de adequem a este novo ambiente concorrencial, diz a Roland Berger.
A consultora salienta ainda a expectativa que as plataformas digitais venham a representar mais de 30% dos créditos pessoais gerados já a partir de 2021. Em Portugal a expectativa tende a ser um pouco mais moderada.
Transformação Digital e Big Data – Potencial disrupção nos modelos de negócio
Mais de 85% dos inquiridos considera que os modelos de negócio actuais estão a passar ou em risco de uma disrupção, provocada pela transformação digital e utilização de Big Data.
O estudo diz que as evoluções tecnológicas e a sua massificação, como assinatura digital, novas tecnologias de identificação à distância e open banking são desafios importantes ao negócio.
As redes Sociais e a crescente relevância da presença on-line é considerada como uma das formas primordiais de atingir os consumidores, em particular dos segmentos mais jovens (ex. Millennials); e finalmente é destaca a maior exposição e presença em redes sociais acarreta igualmente uma preocupação crescente com temas de fraude e dano reputacional.
Digitalização – Importante, mas ainda não é uma realidade
A transformação digital, apesar de fundamental e muito relevante, está ainda em média algo atrasada na sua implementação, diz a consultora.
As expectativas manifestadas no anterior Survey realizado (em 2015), provaram ser demasiado otimistas. No survey de 2015, existia uma expectativa muito grande sobre a adopção de contratualização digital (59% dos inquiridos estimavam que em 2018, mais de 40% dos contratos seriam totalmente digitais), no entanto os valores de 2015 para 2018 permaneceram praticamente inalterados;
Os países nórdicos apresentam uma experiência digital mais avançada (ex. 71% da contratação via digital), enquanto que Portugal efetivamente é ainda um dos países mais atrasados nesta adopção (ex. 14% da contratação via digital).
Mas existe uma expectativa de aceleração dramática da digitalização para 2021 (Portugal estima um salto de 14% em 2018 para 50% em 2021).
Há uma expectativa de um decréscimo continuado do negócio “face-to-face”, onde em 2021 a maioria dos inquiridos espera que represente apenas 25% do total, face aos mais de 33% actuais.
Divergências nas expectativas de adopção digital
O crédito automóvel continuará a ter um peso significativo do negócio nos pontos de venda (ex. stands automóveis), ao passo que no crédito pessoal a componente online será em 2021 o canal primordial, conclui o survey.
O nível de digitalização é esperado que seja mais rápido e de mais fácil adopção nas entidades de crédito especializado (74% em 2021) do que nos Bancos de Retalho tradicionais (61% em 2021).
Necessidade de Adaptação, Parcerias e o novo panorama regulamentar
A capacidade de adaptação e adequação ao novo ambiente de open banking, traz uma infinidade de novas potencialidades de negócio, nomeadamente ao nível de parcerias, crédito contextualizado no ponto de venda, iniciação de pagamentos, entre outros.
Mais de 60% dos inquiridos vêm o novo enquadramento de pagamentos e open banking (PSD2) como desafiante, mas como positivo para o negócio. Apenas 8% indicam que será uma tendência negativa para o crédito ao consumo;
Os pagamentos imediatos, agregação de contas e integração com outras entidades, são entendidas como as novas tendências e funcionalidades críticas a desenvolver. Portugal é o país onde os pagamentos imediatos tem maior relevância por parte dos inquiridos (40% versus a média de 20% dos restantes países).
Obsessão pela melhor Experiência de Utilização
A redução do tempo de aprovação e disponibilização imediata do crédito para utilização, mantém- se como o factor mais importante. Segundo o estudo o foco na experiência de utilização é determinante para o sucesso.
“A busca pela melhor experiência de utilização deverá levar a reequacionar os processos numa lógica End-to-End, suportados por novas plataformas digitais e simplificação”, diz o comunicado.
Por fim é realçado o reforço das componentes de análise de informação, dados e capacidade de antecipar necessidades. O Big Data como ferramenta não apenas de colocação de produtos, mas igualmente como apoio à melhor decisão de crédito.
Na sequência da crescente importância do crédito ao consumo para as instituições financeiras a nível internacional, a Roland Berger estabeleceu uma parceria com a Eurofinas, de forma a acompanhar e antecipar as tendências deste setor, avançando agora para o seu 2º survey conjunto sobre as expectativas e tendências para o crédito ao consumo até 2021.
Num cenário prolongado de baixas taxas de juro, associado a observância de alguns indicadores económicos como o crescimento do PIB e a redução das taxas de desemprego, levou a que as instituições financeiras se tenham vindo a focar na concessão e dinamização do crédito ao consumo, como alavanca de geração de rentabilidade e crescimento para a sua actividade.
Os valores de crédito ao consumo, nas suas várias finalidades, têm vindo a aumentar de forma consecutiva, tendo atingido em 2018 um total de 7.350 mil milhões, o que constituí um novo máximo desde 2013. Estes valores equivalem a dizer que foram concedidos cerca de 20 milhões por cada dia do ano de 2018.
No que se refere à distribuição do crédito ao consumo em 2018, verifica-se que o crédito automóvel, representa 3.120 milhões (pesa 42% no total) e regista um aumento de 12% face a 2017; o crédito pessoal, num total de 3.069 milhões (42%) e com um aumento de 11% em relação a 2017; os cartões de crédito e outro revolving somam 1.079 milhões (15%) e registaram um aumento 0,41% face a 2017 e o crédito para outros fins que no total é de 86,7 milhões (1%) e teve um aumento de 39,5% face a 2017.
Tagus Park – Edifício Tecnologia 4.1
Avenida Professor Doutor Cavaco Silva, nº 71 a 74
2740-122 – Porto Salvo, Portugal
online@medianove.com