A Câmara dos Comuns britânica tem reservadas para esta quarta-feira várias votações – o que não quer propriamente dizer que venham a suceder – sobre o Brexit, entre elas um plano para a repetição do referendo sobre a saída do Reino Unido. Os documentos a apresentar à votação já foram reprovados anteriormente, mas Jeremy Corbyn – líder da oposição Trabalhista, partido responsável pelas propostas – disse que, se o governo pode apresentar sucessivamente à votação os seus acordos (apesar de serem repetidamente reprovados), a oposição também tem esse direito.
Entretanto, e enquanto a cúpula da União Europeia desespera face à constrangedora dificuldade de o Parlamento britânico conseguir encontrar uma plataforma de entendimento, a primeira-ministra Theresa May está a tentar entrar em rota de entendimento com Corbyn (ultrapassado assim os Conservadores que se lhe opõem) para conseguir encontrar um texto que possa passar no crivo da Câmara dos Comuns – e possa posteriormente ser apresentado a Bruxelas.
Segundo fontes do gabinete da primeira-ministra citadas pelos jornais britânicos, este novo documento teria obrigatoriamente que partir do texto do acordo de May com Bruxelas – se não for assim, a primeira-ministra tem dúvidas que a União venha sequer a colocar a hipótese de olhar para ele – acrescentado com a contribuição dos Trabalhistas.
O ambiente político continua, entretanto, a degradar-se. Surgem constantemente notícias de novas demissões entre a equipa do governo, que são depois desmentidas pelos próprios, ao mesmo tempo que ninguém se coíbe de apresentar as suas próprias opiniões sobre todas as matérias que estão em cima da mesa.
O resultado é um imenso ruido em torno de tudo o que tem a ver com o Brexit – com os britânicos a mostrarem cada vez menos paciência em relação à matéria, como fica bem evidente nas dezenas de reportagens de rua que as televisões de todos os cantos da Europa vão produzindo nos passeios de Londres.
Este ambiente já contaminou – outra coisa seria difícil de entender – o próprio Partido Trabalhista, com Corbyn a entrar em desentendimento com várias personalidades, nomeadamente elementos que fazem parte do governo-sombra. Um dos pontos em que a contestação interna mais choca com Corbyn tem a ver com a eventualidade de o partido apoiar a realização de um novo referendo. Corbyn tem sido suficientemente pouco claro sobre a matéria, dando lugar a uma série de desentendimentos que só contribuem para o abespinhamento geral em que caiu a sociedade britânica.
A votação indicativa de um segundo referendo confirmatório do de 2016 perdeu por uma margem de apenas 12 (16 deputados Trabalhistas abstiveram-se e 24 votaram contra). Vários ministros-sombra protestaram junto de Corbyn contra a decisão do partido de fazer um segundo referendo. Corbyn emitiu um documento para os deputados Trabalhistas dizendo que o partido estava apenas a recomendar a votação para um referendo para manter a opção na mesa – e recordava que, de qualquer modo, a votação era apenas indicativa e não vinculativa. É este quadro de absoluta ‘balbúrdia’ que será hoje retomado.
Entretanto, as declarações de Theresa May seguem todas numa ótica de dar a entender que o Brexit será realizado a 22 de maio – ou seja, a data de 12 de abril já não parece sequer estar na sua agenda.
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