Uma análise da Morningstar DBRS, referente ao apagão de 28 de abril, alerta que as restrições à importação de energia espanhola, por parte da REN, fez disparar os preços da eletricidade em Portugal. No pico a 6 de maio os preços eram mais do quádruplo face a Espanha.
O documento conclui ainda que os operadores que tenham uma alta proporção de geração flexível [no setor da energia, em concreto na eletricidade] como é o caso da EDP serão aqueles que mais beneficiarão com futuras disrupções e volatilidade na rede elétrica.
“Num curto período de tempo, tanto a divergência de preços como a necessidade de geração flexível, como centrais hidroelétricas ou a gás, não deverão ter um impacto desproporcional nos produtores de energia da região”, disse Amaury Baudouin, vice-presidente sénior de classificações corporativas europeias, indústrias diversificadas e energia da Morningstar DBRS. “No entanto, durante um longo período de tempo, a volatilidade dos preços e a escassez de volumes provocada pela redução das importações podem beneficiar alguns produtores, especialmente aqueles com uma capacidade de geração de grande [volume] e flexível”, acrescentou Amaury Baudouin.
A análise da Morningstar DBRS sobre o apagão de 28 de abril, referente ao impacto das restrições em Portugal das importações de eletricidade de Espanha nos produtores de energia portugueses, chegou às seguintes conclusões: “A operadora de rede elétrica de Portugal [a REN] decidiu restringir temporariamente as importações de eletricidade de Espanha, provocando uma diferença de preços invulgar entre os dois países. Dados recentes sugerem que a energia hidroelétrica e, em menor medida, a geração de eletricidade a gás, contribuíram para diminuir o fosso. Os operadores com uma elevada proporção de geração flexível, como a EDP, são os que mais beneficiam de futuras interrupções e volatilidade”, refere a Morningstar DBRS.
A Morningstar DBRS, referindo-se a decisão da REN, referiu que a mudança na política da operadora da rede elétrica portuguesa, surgiu de uma “abundância de cautela” após o apagão de 28 de abril, “e levou a um contraste sem precedentes nos preços grossistas da eletricidade” entre Portugal e Espanha.
Esta decisão da REN acabou por encarecer o preço da eletricidade em Portugal face a Espanha.
“O mercado ibérico de eletricidade é geralmente totalmente integrado, com diferenças de preços insignificantes entre os dois países, mas os preços da eletricidade em Portugal dispararam após as suspensões de energia. Entre 1 e 10 de Maio, o preço médio diário em Portugal foi de 30,24 euros por megawatt/hora (MWh) face aos 13,56 euros/MWh em Espanha. No seu pico, a 6 de Maio, os preços da energia em Portugal estavam perto de 4,7 vezes os preços em Espanha. Os preços em Portugal começaram a realinhar-se com os de Espanha, embora com um premium, à medida que as importações são gradualmente retomadas”, salienta a análise da Morningstar DBRS.
A Morningstar DBRS refere que a EDP “poderá beneficiar de uma necessidade acrescida de fornecimento de energia flexível”, tendo em conta que este operador é o maior produtor de energia e líder em energia hidroelétrica no que diz respeito aos operadores portugueses.
“Dos 6.923 megawatt (MW) de capacidade de geração hídrica da EDP, 73% estão em Portugal, sendo que as centrais hidroelétricas representam cerca de 60% da capacidade hidroelétrica total de Portugal”, sublinha a Morningstar DBRS.
Entre as beneficiadas, identificadas nesta análise, está também a Iberdrola devido às sua capacidade hidroelétrica em Portugal se cifrar nos 1.158MW.
“A energia hidroelétrica é geralmente menos dependente das condições climáticas do que a energia solar e eólica,
e ajuda a suprir uma grande fatia da procura de eletricidade em Portugal. Também pode ser ligada e desligada
a curto prazo e contribui para colmatar a lacuna deixada pela interrupção das importações de Espanha, decisão que também foi possível devido à precipitação que ficou acima da média na região desde o início de 2025″, explica a Morningstar DBRS.
Apesar disso a análise alerta que a geração hidroelétrica “também pode estar sujeita a maior volatilidade” ao nível da geração, quando comparada com a solar e eólica, “pois pode ser afetada pela seca ou por outros padrões sazonais”, apesar de “carregar uma maior certeza num horizonte temporal curto, pois há certeza quanto à quantidade de água que existe nos reservatórios sendo que mesma água pode ser libertada a curto prazo para gerar eletricidade”.
A Morningstar DBRS assinala também a diferença que existe entre a energia hidroelétrica de albufeira e a que deriva dos rios, sendo que a que deriva de albufeira é aquela que dá mais garantias. “A que deriva do rio pode conter até 24 horas de caudal, enquanto que a dos reservatórios pode armazenar meses de água”.
Os dados fornecidos pela Morningstar DBRS salientam que de 29 de Abril a 12 de Maio, a geração hidroelétrica média diária em Portugal rondou os 56 gigawatts hora (GWh) ficando “172% acima da média dos cinco meses anteriores a maio”.
A Morningstar DBRS referiu que a flexibilidade da energia hidroelétrica permite aos produtores de energia “aumentar rapidamente” a produção quando necessário.
“A produção de eletricidade a partir de centrais elétricas a gás também aumentou de uma média diária de
cerca de 10 GWh durante os 10 dias anteriores à interrupção para cerca de 19 GWh desde então, ajudando também a
proporcionar um substituto para as importações espanholas, embora em menor grau. Isto também contribuiu para o aumento nos preços da eletricidade portuguesa, uma vez que muitas vezes a forma de produção mais cara é aquela que fixa os preços grossistas”, sublinha a Morningstar DBRS.
A análise explica ainda que os produtores de energia que tenham a capacidade de ajustar a sua produção de forma flexível podem captar um premium através dos preços elevados. “As instalações de geração hidroelétrica, devido ao seu baixo custo marginal de produção, podem beneficiar especialmente deste premium ao nível do preço”, salienta a Morningstar DBRS.
A Morning DBRS acrescenta que nas centrais hidroelétricas e em instalações de geração de energia hidroelétrica bombeada, “a água pode ser libertada em momentos de elevada procura para captar oportunisticamente preços elevados numa base comercial”. Face a isto a análise refere que o desempenho que a EDP mostrou ao nível dos seus ganhos no primeiro trimestre desde ano justificaram-se em parte devido à “capacidade que a empresa possui ao nível da geração flexível e também pelo aumento da procura por serviços de energia flexível”.
É ainda referia a importância que as centrais hidroelétricas possuem devido ao mecanismo de blackstart (mecanismo que permite reiniciar a rede elétrica do zero depois de um apagão).
A Morningstar DBRS salienta que este tipo de empresas podem “atrair remuneração adicional” através de contratos especializados, algo que pode ser benéfico para os produtores de energia em Portugal.
“Embora a energia hidroelétrica não esteja isenta de riscos de fiabilidade e possa também estar sujeita a fatores externos como as secas, as recentes limitações às importações e a consequente volatilidade dos preços em Portugal realçam a importância da geração flexível de energia em caso de futuras interrupções”, conclui a análise da Morningstar DBRS.
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