A economia chinesa perdeu algum fulgor em abril, continuando a debater-se com uma procura interna e consumo privado abaixo do esperado, apesar de o setor industrial manter uma dinâmica acima do esperado. Os dados macro divulgados esta segunda-feira mostram uma economia a duas velocidades, um cenário que não deve mudar fundamentalmente nos próximos tempos.
Os dados quanto às exportações em abril já eram conhecidos, mostrando uma resistência assinalável ao crescerem 8,1%, apesar da escalada de tarifas com os EUA que levou a barreiras alfandegárias acima de 100% e a uma queda de 21% nas vendas para aquele mercado. No entanto, o consumo das famílias continua a desiludir, enquanto o mercado imobiliário mantém os problemas que têm ameaçado contagiar a outros segmentos da segunda maior economia do mundo.
A produção industrial continuou a crescer, subindo 6,1% em termos homólogos, mas tal representa um abrandamento em relação aos 7,7% do mês anterior. Também o crédito privado cresceu e, neste caso, até acelerou, embora marginalmente: de 6% de crescimento em março, o indicador passou a uma subida de 6,1% em abril.
Os restantes sinais são menos positivos. A inflação subjacente manteve-se inalterada em 0,5%, sinalizando uma tendência para a estagnação de preços – um cenário consistente com uma procura interna deprimida e consumo abaixo do potencial. A suportar esta visão estão as vendas a retalho, cujo crescimento abrandou de 5,9% para 5,1%.
Até mesmo na produção industrial, os dados ajustados à sazonalidade mostram uma evolução menos entusiasmante, com uma subida de 2,7% após 5,3% em março.
Por outro lado, o investimento em ativos fixos abrandou de 4,3% para 3,5%, enquanto as vendas de imóveis contraíram 2,9% após outra queda de 1,6% no mês anterior, sublinhando as dificuldades que a economia chinesa encontra no setor imobiliário. A juntar a isto, os preços de casas, as obras terminadas e os novos projetos caíram todos.
Perante este cenário, o estratega da Pepperstone, Dilin Wu, fala numa “economia a duas velocidades”, dada a discrepância entre a procura interna e a externa na China. As “exportações devem continuar a ser a âncora do crescimento chinês”, mas do lado doméstico a situação é consideravelmente mais complexa, obrigando “a apoio estrutural e direcionado” do governo de Pequim.
“Se o alívio das tarifas se mostrar suficiente para manter o crescimento homólogo em torno do objetivo de 5%, podemos não ver uma mudança de política em breve. Em particular, a postura colaborativa dos EUA para com a China poderá revitalizar as cadeias de valor globais e impulsionar uma segunda vida para as exportações chinesas – sobretudo na indústria mais avançada”, completa o analista.
A Gavekal concorda com esta análise, projetando que “a urgência” em agir para o governo chinês acalmou com o recuo na guerra comercial entre Pequim e Washington. Os responsáveis chineses “poderão avançar com políticas já anunciadas, como os muito aguardados subsídios infantis para algumas famílias, mas irão evitar estímulos mais musculados por enquanto”.
“O risco é que o ímpeto de crescimento se perca ainda mais: mesmo excluindo o setor exportador, a procura doméstica parece estar a afrouxar transversalmente”, continua a nota, avisando que “não há motivos para achar que a tendência se irá alterar sem mais apoio governamental”.
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