O mercado de ouro pode tornar-se uma fonte de instabilidade para o sistema financeiro global, sobretudo dado o atual contexto de elevada incerteza e oscilações consideráveis de política comercial, que têm gerado um stress acrescido. No episódio mais recente de volatilidade, o ativo de reserva atingiu novos máximos, mas inúmeros investidores apressaram-se a fechar posições para mitigar perdas noutros investimentos, agravando ainda mais a instabilidade do mercado.
No primeiro dos dois relatórios de estabilidade financeira divulgados anualmente pelo banco central, os responsáveis do BCE manifestam a sua preocupação com a possibilidade de um aumento no stress de mercado levar a mais problemas devido ao crescimento da procura por ouro, o ativo de eleição em momentos de volatilidade. Em particular, o domínio exercido por grandes agentes e a opacidade das transações deixam espaço para alertas.
Com o recente disparo nas tarifas aplicadas por Washington, a incerteza disparou e, com ela, a volatilidade de mercado também. Perante isto, a procura por ouro físico também aumentou, sobretudo nos EUA, obrigando a nova produção de lingotes na Suíça para abastecer os bancos norte-americanos – um movimento que levou mesmo a um aumento considerável nas importações.
Estas disrupções do lado macro são um dos problemas do mercado de ouro em momentos de grande incerteza, alerta o BCE. Por outro lado, o fato de este bem exigir entregas físicas acrescenta ao risco que acarreta.
“Estas vulnerabilidades surgiram porque os mercados de matérias-primas costumam estar concentrados em poucas empresas, frequentemente com alavancagem, e o grau de opacidade resultante do uso de derivados OTC [over-the-counter, em inglês, ou ‘de balcão’]. Margin calls e o fechamento de posições alavancadas podem gerar stress de mercado, potencialmente propagando este choque por todo o sistema financeiro”, escrevem os técnicos do banco central.
O aviso surgiu entre vários alertas de Frankfurt quanto ao impacto da incerteza comercial nos mercados financeiros. Em particular, houve uma série de “picos na volatilidade” após o anúncio de Trump a 2 de abril (que o BCE não identifica de forma isolada) que “testaram valorizações de mercado esticadas” e arriscam a estabilidade financeira.
Apesar de os ativos de risco já terem recuperado boa parte destas perdas, “os mercados estão ainda altamente sensíveis a notícias relacionadas com tarifas”, completa o relatório.
Ao mesmo tempo, as valorizações destes mercados parecem “dessincronizadas do risco de crédito subjacente”, ou seja, a probabilidade avaliada pelos investidores de recessão ou novo agravamento das tensões comerciais parece subestimada.
“Um pico marcado na incerteza no comércio, defesa, cooperação internacional e políticas regulamentares pode provar-se desafiante para a estabilidade financeira”, remata o documento.
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